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A bêbada desequilibrada

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Foto: Man Lighting Girl's Cigarette (Jean Patchett). Irving Penn. E lá vinha eu, pela turbulenta avenida Alagoas, que agora até de nome mudou, já noite adentro, em um frio domingo típico de Palmeira dos Índios, quando uma bêbada, do outro lado da rua, gritou em minha direção, desfechando em meu peito a milagrosa coincidência do destino de colocar-me diante dela, inesperadamente, para lembrar-lhe de seu amigo, já morto e competentemente morto. Parado, olhando-a sem espanto, em estado de náusea pelo cheiro de bebida e tabaco, estava eu impedido de seguir adiante para não ofender a ilustre memória do defunto desconhecido. Ela quis amizade de verdade - de verdade mesmo, como bem enfatizou diversas vezes - e eu não queria nem o primeiro abraço, imagine o contatinho. A bêbada, cujo endereço eu já tinha conhecimento e agora tento não ser visto sempre que passo próximo à casa dela, teve uma noite feliz depois de rever o amigo morto em mim. Eu, de minha parte chata, só fiquei ab...

O Brega

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Misturado aos glóbulos vermelho e branco, o brega é um elemento inerente ao organismo de determinados seres e que, sem sombra de dúvidas, torna a caminhada mais leve e tranquila. Ser brega, desse modo nato, é adorar uma boa música de mesa de bar e cantá-la sem motivos em qualquer situação, mesmo que o estilo seja rock, pagode ou axé. É deixar-se levar pelas emoções que uma dor íntima, mesmo que de outrem, invada sua ociosidade. É largar-se à despreocupação de uma malandragem tão pobre que até mesmo os malandros profissionais tenham raiva do alto nível do malandro brega, pois, afinal de contas, este só precisa de uma dose de cachaça e um boteco aberto . É vestir-se despudoramente fora de moda. É andar com santo de fé (católico ou umbandista, ou os dois) e falar-lhes avidamente. Afinal, só sabe quanto vale um santo, quem o tem. É ter várias mulheres e ser preso apenas a uma delas. É ser gente. Na breguice das inovações tecnológicas e dos modelos de vida seguidos tão fortemente po...

Cachaça

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Cajurosca - SERGIPE Presente em praticamente todas as comemorações nordestinas, e brasileiras –  em escala menor, talvez-, e no dia a dia de viciados, a cachaça, e todas as suas variantes, é o exemplo do domínio do homem sobre o homem por meio de um objeto de satisfação quimérica de bem estar contínuo. Apesar de ser altamente ofensiva ao corpo, à alma e a espiritualidade, ela é a representação da força e da fraqueza de um povo, ou de um grupo de indivíduos, que faz-se presente, senão pelo berro d’água – como foi exemplarmente traduzido por Jorge Amado em A morte e a morte de Quincas Berro D’água -, pela capacidade de desafiar os limites das próprias faculdades mentais e da resistência do corpo nos momentos em que é preciso coragem para viver em condições subumanas ou quando inexistem perspectivas de futuro, geralmente geradas por um amor de cabaré, por um relacionamento fracassado, por uma traição ou um passado impronunciável, dentre muitas outras hipóteses – ou ainda ...