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Mostrando postagens com o rótulo A morte e a morte de Quincas Berro D’água

Um cínico diferente

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Fotografia: Two Pupils in Greek Dress. Thomas Eakins. 1883. Metmuseum. Que coragem teve Quincas para se libertar! Quantos de nós seguimos a cartilha, competentemente sendo o molambo do querer alheio, sem nunca ter a coragem de largar tudo e ir em busca daquilo que realmente quer e gosta? Sendo perfeitos modelos daquilo que foi pré-determinado por alguém em algum lugar em um tempo muito distante, buscamos a estabilidade no emprego, o carro mais confortável, a casa que mais agrada aos olhos dos outros e a aparência e o comportamento que mais sacia aos sentimentos de uma sociedade cínica. A busca acaba se mostrando inútil. Sempre acaba assim. Então imagine que elogio ser dito como "diferente" ou "estranho" em uma sociedade que não sabe ser nada além de pré-moldados. Ser diferente entre escravocetas é não sucumbir à triste realidade da indignidade masculina. Ser estranho em uma sociedade hipócrita é a mais deliciosa sensação - o equilíbrio perfeito entre o...

A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água

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Uma vida inteira trabalhando no marasmo da Administração Pública, com uma mulher tagarela e uma filha de plástico, não foi capaz de satisfazer os anseios de Quincas. Convenhamos: o trabalho precisa ser ou gratificante ao ponto de tornar cada dia diferente e especial ou dispensável de modo a permitir que o indivíduo falte e viva intensamente; um casamento precisa ser o descanso e não o martírio de todas as noites e manhãs; e quando os filhos são ainda piores que o trabalho e o matrimônio, então não há muito o que salvar. Um dia, cansado do trabalho, da mulher e da filha – da vida -, Quincas entorna a boa cachaça e dá um berro, um berro d’água. Daí vem seu apelido. E a vida que mudou. De respeitável só restou o passado. Em Quincas Berro D’Água o leitor se deparará com o choro das prostitutas, dos bêbados, dos vagabundos; com a dedicação daqueles que nada tem além de si e do dia; com as aparências “inevitáveis” para um cidadão de bem e um morto digno. Jorge Amado coloca em linhas o...

Cachaça

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Cajurosca - SERGIPE Presente em praticamente todas as comemorações nordestinas, e brasileiras –  em escala menor, talvez-, e no dia a dia de viciados, a cachaça, e todas as suas variantes, é o exemplo do domínio do homem sobre o homem por meio de um objeto de satisfação quimérica de bem estar contínuo. Apesar de ser altamente ofensiva ao corpo, à alma e a espiritualidade, ela é a representação da força e da fraqueza de um povo, ou de um grupo de indivíduos, que faz-se presente, senão pelo berro d’água – como foi exemplarmente traduzido por Jorge Amado em A morte e a morte de Quincas Berro D’água -, pela capacidade de desafiar os limites das próprias faculdades mentais e da resistência do corpo nos momentos em que é preciso coragem para viver em condições subumanas ou quando inexistem perspectivas de futuro, geralmente geradas por um amor de cabaré, por um relacionamento fracassado, por uma traição ou um passado impronunciável, dentre muitas outras hipóteses – ou ainda ...