Entre sujeiras e miolos II

Foto: arquivo pessoal. 

Outro dia, de certa forma chuvoso, fui à padaria na outra rua e, no meio do caminho, reencontrei um filhote felino de poucas semanas de vida. A visão do pobre animal e a minha necessidade de um bichano para amedrontar um catito que tem desesperadamente buscado comida aqui em casa desde que a minha vizinha se mudou. 

Entre adotar outro gato e não o fazer, sendo mais um humano cruel e insensível, eu fico no meio termo - igual certos artistas que conhecemos diante da política e da miséria social que está reafirmando o brasileiro como rato de esgoto compulsório. 

Acabou que ainda não adotei.

Não se onde ele anda, provavelmente na mesma esquina sendo alimentado pela vizinha da esquina, no fim da rua. 

Tirando o meu gato (que a minha ex adúltera, mentirosa e perigosamente tóxica usurpou e jogou ao deus-dará), ainda redirecionei mais dois filhotes felinos para a adoção. Um, aparentemente continua sendo bem cuidado - enquanto estava esperando o novo lar ficou aqui em casa assistindo aulas comigo e sendo o amiguinho do meu Fred Astaire. O outro, nem tanto docinho e sempre carente, continua carente na vida de terceiros e recebendo muito pouco amor do tutor.

Amor. 

Essa bobagem criada pela religião e sedimentada pelo mercado, é o termômetro que define o quão desprezíveis somos, como humanos, quando cuidamos e lidamos com os pobres animais. 

E para não me estender em reflexões inúteis sobre sentimentos que podem ser comprados em lojas de departamentos, o que resta é pensar sobre como a vida pode ser facilitada para mim e para o próximo ser que eu vou trazer para morar comigo, entre a sujeira e os pedações de miolos que se acumulam nos cantos das paredes. 


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