Diário de um abandonado I

Foto: Sofá. John Henry Belter. Metmuseum.

 

Eu não sei por onde começar.

E talvez seja muita pretensão escrever sobre o meu abandono em um mundo de abandonados e invisíveis. Mas se cada um tem sua dor e sua alegria, em uma eterna roda dentada que nos deixa moídos e fragilizados sempre que somos obrigados a impulsioná-la, temos, então, histórias e olhares diferentes e comoventes, embora o cenário pareça sempre o mesmo. 

E, antes de tudo, você precisa saber que nem um psicólogo dos serviços públicos eu consegui encontrar para chorar e desabafar, deixando-o perplexo, incomodado e esquecido no "até a próxima" que jamais aconteceria. 

Neste momento eu estou sentado em uma mesa doada, ouvindo Vapor Barato, na interpretação de Gal Costa e Zeca Baleiro - e essa música aleatória descreve muito bem o meu estado de espírito. 

Eu estou cansado. Exausto. Deprimido. Falido. Desiludido. 

Não sei onde eu comecei a errar tanto e sei também que o problema não está exclusivamente em mim. 

O problema está em  mim, porque comece e termina em mim, e está no meio em que me situo, no outro. Em tudo. 

O que eu queria era descanso. 

O que eu preciso é de descanso. 

Descanso da rotina que destroi o melhor e maior dos amores; rotina que acaba com a magia da vida. 

Sim, falam que estou perto de uma depressão, ou estado depressivo. 

O que posso mudar?

Um dia vou abandonar tudo (que não é nada, literalmente). 

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