Nota de um meio-dia pandêmico
Nossas percepções estão alteradas com esse isolamento. Os solitários ficaram ainda mais solitários; os amantes perceberam que o sexo não é satisfatório e o amor inexistente; os aplicativos de relacionamento sobressaíram à imbecilidade inútil de redes sociais egocêntricas.
Os relacionamentos fracassados mostraram-nos o vazio existencial e crises etárias explodiram com o nosso frágil emocional, que nenhuma religião engessada é capaz de sanar.
Os objetivos e as metas de lucro caíram por terra.
E a cultura, essa audaz e feroz dama, foi a única que nos estendeu a mão diante da insignificância das nossas corridas diárias.
Talvez seja por isso que minha vizinha, depois de uma festa de aniversário que terminou no fim da madrugada, levantou tão cedo para ouvir os melhores sucessos de uma recente extinta. O medo da morte, a consciência da brevidade de uma passagem incerta por essa encarnação, torna-nos patéticos, medrosos, temerários.
E dentre tudo o que pode ser dito, eu fico com as palavras da morta:
Bem pior que eu(você)
Que não deixa ela e nem me deixa viver
Bem pior que eu(você)
Desconta a sua raiva em duas horas de prazer.
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