Aceitação algoritmizada

Escultura: Cravo. Michele Todini, Basilio Onofri, Jacob Reiff. Metmuseum.

 

Querer a aceitação do outro sempre foi um problema - para todos.

Para conseguirmos essa aceitação, transitória e iludida, submetemo-nos aos mais degradantes estados sociais que podemos atingir. Com as redes sociais em alta e a pandemia chicoteando-nos por todos os lados, passamos a admitir o ridículo como pré-requisito para sermos legais, engajados e respeitados. Dançar com baldes na cabeça ou segurar em um fio energizado com os pés dentro de uma bacia cheia de água passou a ser o mínimo para conseguir uma aprovação de poucos segundos.

E por quê?

A nossa solidão, os nossos vazios e os nossos dilemas íntimos explicam isso.

Não seguir uma pessoa é não gostar dela. Não estar presente em lives é ficar pelo caminho. Não ter engajamento é simplesmente desaparecer em um mar de desconhecidos. 

E a morte social ganhou outros patamares. 

Ter um perfil privado e ter, simultaneamente, poucos seguidores significa ser inimigo de pessoas que, na concretude do cotidiano, somos amigos, conhecidos ou dependentes, de algum modo.  

Estamos em um momento de transição entre o real e  o virtual, não há como negar, e o indivíduo é uma moeda valiosa. O problema é que estamos nos perdendo entre aplicativos e nos deixando levar pelos ditames de algoritmos criados para processar dados e transformá-los em poder econômico. 

Estamos em um estágio intermediário entre a histeria coletiva e a completa imbecilização e somente um apagão em grandes plataformas poderá nos salvar de nós mesmos. 

Amanhã poderemos nem saber como conviver em um ambiente propício ao ser humano, no sentido mais puro do ser, e então compreendamos o quão artificiais foram nossos consolos virtuais e nossa busca infudada pela aceitação de pessoas algoritmizadas. 


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