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As dores dos que passam

Sentado no banco da praça Luiz Nogueira, olhando para a igreja católica do século XVIII, penso no que pode estar se passando da cabeça dos transeuntes.  O homem com relógio dourado, celular à mão e envelope de papel pardo embaixo do braço passa conversando com alguém que ficou à porta de alguma loja.  Os mototaxistas, esperando um cliente, estão jogando conversa fora. A mesma conversa de todos os dias? Os vendedores do varejo de uma cidade pequena onde todos se conhecem tentam sobreviver ao tédio, ao ostracismo de uma profissão fadada ao enriquecimento de alguém cujo nome é conhecido, mas desprovido de rosto. Os trabalhadores de uma obra pública são os únicos estrangeiros que quebram a rotina de um povo que se ocupa apenas em sobreviver em horário comercial. Olho para todos os que passam entre carros, pessoas, bancos e árvores e imagino o que lhes pode provocar aflição, tristeza, desânimo, profundo mal-estar consigo. Quantos, neste exato momento, podem estar desejando o fim de...

Diário de um abandonado I

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Foto: Sofá. John Henry Belter. Metmuseum.   Eu não sei por onde começar. E talvez seja muita pretensão escrever sobre o meu abandono em um mundo de abandonados e invisíveis. Mas se cada um tem sua dor e sua alegria, em uma eterna roda dentada que nos deixa moídos e fragilizados sempre que somos obrigados a impulsioná-la, temos, então, histórias e olhares diferentes e comoventes, embora o cenário pareça sempre o mesmo.  E, antes de tudo, você precisa saber que nem um psicólogo dos serviços públicos eu consegui encontrar para chorar e desabafar, deixando-o perplexo, incomodado e esquecido no "até a próxima" que jamais aconteceria.  Neste momento eu estou sentado em uma mesa doada, ouvindo Vapor Barato, na interpretação de Gal Costa e Zeca Baleiro - e essa música aleatória descreve muito bem o meu estado de espírito.  Eu estou cansado. Exausto. Deprimido. Falido. Desiludido.  Não sei onde eu comecei a errar tanto e sei também que o problema não está exclusivamente ...

Re-seleção social

Há quem diga que ficar em casa é ruim. E a maioria que fala isso está nas classes econômicas c,d, e e são muito suscetíveis à influência da mídia sensacionalista. São pessoas que têm dificuldade em reconhecer um livro ou não sabem exatamente o que fazer com ele quando tem um na mão. Desesperam-se por nada e escondem seus problemas reais com fanatismos e achismos temperados com lives, como virou moda entre os cantores populares do Brasil. O povo, os pobres que creem-se ricos e os miseráveis que creem-se classe média, estão apalermados entre declarações desconexas de um Presidente sem noção de tempo e espaço e os comentários dos novos biomédicos que surgiram com a pandemia e que são formados nas faculdades de redes sociais. O que atemoriza essas pessoas não é o medo de infecção pelo novo coronavírus. É a realidade exigir cada vão detalhe que faz de vidas insignificantes a rotina do trabalho servil. Casamentos falidos que se sustentam pelo distanciamento, viciados que não podem esco...