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Mostrando postagens de 2015

Aconteceu no Centro Espírita - A peça.

As festividades natalinas em Palmeira dos Índios já começaram e quem não tem limitações preconceituosas podem desfrutá-las com muita tranquilidade e reflexão. Ontem, no Grupo de Fraternidade Espírita Irmão Cícero, a sociedade foi agraciada com uma peça teatral na qual o trabalho e os princípios do Espiritismo foram apresentados, sob a ótica da dualidade que rege as ações humanas - o bem e o mal. Baseada no romance Aconteceu no Centro Espírita, a peça homônima levou ao público presente a noção lúdica sobre o trabalho em uma casa espírita e em como ações espirituais podem ajudar ou prejudicar a harmonia dentro e fora de uma Fraternidade.  Tão certo quanto a luz do sol, quem tem disposição para compreender mais o universo ao redor, além de uma existência mais interessante, tem a possibilidade de crescer intelectualmente. Como início das comemorações natalinas, a Fraternidade Irmão Cícero deu um presente antecipado e ninguém pode dizer que Palmeira dos Índios não tem opções par...

A Gatinha do 101

Se você achar de entrar no bloco A do cortiço não vai se espantar com a infraestrutura deficiente do prédio, a menos que você venha dos condomínios do Jardins, da 13 de julho ou, no mínimo, do outro lado da rua. E aí então irá se horrorizar com o descarte do lixo, com os portões feios, com a falta de segurança, com as roupas penduradas nas janelas para secar, com a bêbada do outro prédio e suas músicas e com as estranhezas gerais do lugar. Subindo o primeiro lance de escadas e virando para o próximo corredor verá uma porta cor caramelo, um tanto moderno (visto o restante das portas) e um tapete capacho felpudo logo abaixo. E se tiver sorte vai encontrar a Gatinha do 101 , com olhos gigantes e amarelados, fofinha, olhando quem sobe e quem desce, sempre impassível. Quando começaram a deixa-la solta algumas minutos por dia ela acabou ficando com medo das pessoas e corria vez ou outra. Com o tempo ela passou  a não se importar com as pessoas e ficou cada vez mais no meio do camin...

A vulgar de São Cristóvão

Achei de pegar o São Cristóvão/Zona Oeste, no começo da noite. Uma ideia terrível já em dias e condições normais e pior ainda quando a UFS começar a dar os últimos arquejos de um período longo o suficiente para fazer qualquer um mudar de ideia sobre o profissionalismo de alguns docentes e a qualidade da educação pública. E lá fui eu, hora-instante de pegar um tétano na lataria enferrujada ou, pior, uma DST, dada uma proximidade exagerada com os outros tripulantes, com apenas o corpo sacolejando (a alma ficou na plataforma do terminal, recusando-se terminantemente a embarcar em tal empreitada). E como sempre há o brinde em cada passagem, o da vez era uma manada de gordas, comandada por uma velha gorda vulgar. Nunca na história do transporte coletivo da região metropolitana de Aracaju houve uma mulher mais grosseira, vulgar e desagradável como usuária. E já que estava lá, imprensado entre uma mulher com dois meninos feios pequenos no colo e uma barreira de corpos sujos, suados e depr...

Hipocrisia povão

O povo sai às ruas pedindo o impedimento da Presidente Dilma Rousseff. Brada contra a corrupção. Um exemplo de brasileiros. Mas quando os estudantes em São Paulo ocupam escolas contra os atos prejudiciais do governo estadual daquele Estado nenhum desses dignos cidadãos apoiam o ato. Muito pelo contrário, chamam de baderna. Quando as centrais sindicais mobilizam-se pela garantia dos direitos trabalhistas, independente de quem está no Palácio do Planalto, nenhum desses exemplares cidadãos sai às ruas. Quando as passagens do transporte coletivo aumentam vertiginosamente, todos os anos, sem que o serviço melhore nenhum desses bons cidadãos sai às ruas com indignação. Quando a Controladoria Geral da União inicia campanhas contra a corrupção – todos se calam. E se o Governo Federal fosse adepto do poder pela força as Forças Armadas estariam nas ruas, pedindo carinhosamente que esses cidadãos, que passaram a pedir, inclusive, a volta dos militares, fossem para casa teríamos um exe...

Ratinho do poder

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Foto: crédito na imagem Noite dessas Jade ia chegando no cortiço Eucaliptos, cambaleando pelo estacionamento, quando, ao longe, viu um gato estranho andando para lá e para cá entre os carros. Chegando mais perto Jade viu que o seu gato na verdade era um gabiru que rondava o estacionamento e as vielas do cortiço em busca de comida. Manter um corpinho gigante daqueles dá muito trabalho e precisa de muito lixo orgânico para suprir as necessidades. A sorte é que Jade não tem medo de ratinhos geneticamente incentivados – mas é sempre bom dar espaço para esses bichos e Jade foi embora, deixando-o em paz. Não é de estranhar que, além das baratas cascudas que entram pelas janelas dos prédios velhos e decadentes, ratos se criem por entre as lixeiras impróprias de cada conjunto de blocos. Esses depósitos, que dão muito trabalho para o pessoal da manutenção, é o exemplo eficaz de lixão adaptado para condomínios. Daqui a pouco as baratas vão entrar pela janela aberta, comer a pele morta ...

O mistério dos despachos

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Charge: Blog do Xandro Estava eu lá, caminhando pela Gentil Tavares, sob o sol das 10h, distraído, quando risos arrebataram-me ao mundo real. Na rua de pouco movimento, já perto do entroncamento com a Av. Desembargador Maynard, três homens riam extasiadamente brincando com os restos de um despacho, largado sob uma árvore do canteiro central entre as duas vias da avenida. Eles mexiam e remexiam no despacho e a cada vez que bulinavam na oferta caiam em gargalhadas estridentes, como crianças em um parque de diversões. Os homens, que pareciam morar na rua, embora tivesse tido muitas dúvidas sobre isso, viam coisas engraçadíssimas no despacho – e quase me fizeram ir lá olhar também. A cena, que poderia ser muito comum, era incomum por estar ambientada em um ambiente tão urbano e em uma hora tão estranha. Quem colocou o despacho lá, na surdina, enquanto toda a Aracaju dormia, não poderia imaginar que debochados iriam se divertir à beça às 10h de um dia que chegou fácil aos 30ºC...

Um senil no Exército

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Charge: crédito na imagem Devo concordar com os historiadores quando eles dizem que o regime militar é muito recente para que tenhamos uma visão confiável e consolidada sobre os vários aspectos da sociedade brasileira à época e como o regime influenciou as décadas posteriores. E ainda que não tenha vivido tão nebulosa época, seus reflexos são sentidos por mim, indiretamente, como uma das gerações subsequentes – que herdaram os males e os benefícios (se houve) da ditadura. Quase não penso nos militares e quando me vejo refletindo sobre o período militar é, geralmente, como consequência de fatores externos. Esses dias estava sentado à mesa de um dos 1º Sargentos da 6ª Região Militar, à espera de atendimento, quando uma cena muito inusitada ocorreu bem na minha frente. Um homem, passado e muito da idade de andar sozinho na rua, ocupou  o 1º Sargento, que atendia o público e que logo me atenderia, com nomes e datas errados, para um fim que nem Deus saberia dizer, por longos tri...

Só o Aedes saberá

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O desastre da moda é a microcefalia nos recém-nascidos nordestinos e, graças a Deus, essa praga não chegou ao Sul e Sudeste (e o medo que isso se espalhe faz com que a mídia sulista fique excitadíssima). O Aedes Aegypti é boi de piranha de uma sociedade relapsa que já estava acostumada com os breves acessos de dengue durante o verão, em todo o país.  O que a alvoroçada mídia não cita, e assim que aparecer uma tragédia suculenta logo irá esquecer, é que um dos problemas a longo prazo é o que fazer com as crianças microcefálicas que já nasceram e que apresentarão retardos no aprendizado e na vivência social visto que, embora sejamos "sem preconceitos", ninguém aguenta, por muito tempo, a não ser por obrigação, suportar crianças e adultos mentalmente problemáticos. O que será feito para compensar um cérebro menor? A APAE ou a AACD vão incorporar essas crianças? Sim, porque as escolas não estão, e demorará muito ainda, preparadas para receber e promover o desenvolvimento in...

Bucho de praia

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Domingo é dia de ir à praia, ver as bundas gordas e cheias de celulite e estrias  (e vez ou outra uma bem desenhada), comer frituras (demoradamente preparadas) e beber cerveja enquanto moças (e alguns rapazes) untam o corpo com óleo para "aquele bronze". Corpos negros que se esticam sobre a areia, coros pardos que jamais pegarão cor e corpos brancos, vindos de longe, que ficarão vermelhos antes do pôr do sol coalham a praia. Aliás, uma praia grande demais para as pessoas acostumadas com outras capitais onde ruas precisam ser fechadas para o lazer de domingo. Aracaju ao menos tem um calçadão amplo, o projeto Tamar e o que vir para distração (lagoas, e tudo o mais, ainda no calçadão praiano) e sem línguas negras, pelo menos não visíveis. Mas não é muito aconselhável ir depois das dez e lá permanecer - não por causa do sol ou das recomendações médicas de uso geral -, mas porque lota. Muita gente que suja a areia, ouve m´sica ruim e exibe a feiúra de corpos depravados.  A...

Decoração natalina no cortiço

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É entrar dezembro que as loucuras de um natal nevado sem neve começa a aparecer nestas terras tropicais. Aqui no cortiço, logo depois da cadeia de jovens marginais, meus vizinhos, como a bêbada do outro prédio , começam a ornamentar as janelas numa vã tentativa de aludir ao espírito natalino )o único espírito que consegue aludir é o da estranheza). Em um apartamento alguém tentou fazer uma árvore de natal e acabou desenhando um cogumelo de luzes pisca-pisca bem em frente à minha janela (cogumelo que nunca acende). Mais embaixo o decorador resolveu que dava muito trabalho fazer algo feio e só jogou as luzes na grade da janela e assim vai surgindo a pitoresca decoração natalina do cortiço. Daqui a pouco o ratinho da Coca-Cola (que em outro país é um urso polar) vai desfilar pela Tancredo Neves, com aquela musiquinha tão natalina, chamando todo o povo para congregarem-se ao redor de uma boa garrafa de Coca gelada.  Ah o natal...

Milho limpo

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Se você a algum dos terminais de integração da capital sergipana dará de cara com vendedores de tudo - milho, cigarro, água, amendoim, carteiras, jogos, chicletes, etc - e tudo na mais perfeita paz dos agentes do Setransp (que mal fazem o trabalho corretamente). Vender bugigangas é lei nessa capital. E de tudo o que é vendido nada tem o cheiro mais enjoativo que o milho (mesmo o sorvete vendido ao lado dos banheiros do terminal DIA possui cheiro tão ruim); e o milho teve seus mistérios revelados por um usuário do transporte coletivo que filmou a origem da água que serve para o cozimento eterno do alimento - o banheiro sujíssimo do terminal DIA. Sem saber, mas arriscando por conta própria a saúde, muitas pessoas comem alimentos que são cozidos nos terminais sem se indagar sobre a origem do alimento e dos itens necessários à produção. Quando o usuário filmou o vendedor pegando água na pia do banheiro e derramando na panela, onde milhos já estavam fervendo, a população não se chocou n...

O Graciliano da boca do povo

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Dizem que Graciliano Ramos não era dado ao puxa-saquismo ou a ser bajulado e considerando suas obras e o que delas podemos inferir ele também não possuía lá muito senso de humor para a burguesia decadente que hoje lota Academias de Letras. E isso, considerando que não o conheci e que só li suas histórias e ouvi falar dele, tendo à mão o pouco deficitário da Casa Museu Graciliano Ramos, em Palmeira dos Índios-AL, pode induzir-me ao erro ao falar e escrever sobre o Graciliano. No entanto, não posso deixar de notar certas singularidades na terra dos marechais e que se tornam muito engraçadas à medida que o tempo vai escorrendo pelas línguas negras da orla de Maceió. É estranho que justamente a pessoa que não gostava de ser bajulado seja rotineiramente levada à fina flor da bajulação e tenha, em qualquer lugar vulgar, o nome jogado à mesa para uma discussão literária. Ninguém diz como Viventes das Alagoas retrata incisivamente os alagoanos e as veias da corrupção e do achismo do servi...

A bêbada do outro prédio

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Quadro: Square House, Amsterdam. James McNeill Whistler. 1889. Às 15h a bêbada do outro prédio liga o aparelho de som e programa-o em três músicas, da Elis Regina e da Alcione (de vez em quando aparece também o Belchior), e começa, então, o suplício dos moradores do cortiço vermelho. As mesmas músicas são repetidas indefinidamente enquanto a bêbada consegue andar ou ter consciência e isso pode durar até dois dias, considerando as noites. A bêbada não tem muita noção de tempo quando se entrega à depravação, à bebida e ao ócio. Tudo o que ela quer é ouvir as mesmas músicas, no último volume, e incomodar os vizinhos avisando-os, por meio de sinais diversos, que ela não está nem aí para as convenções sociais. Não demora muito, a partir do momento em que o som é ligado, e ela começa a ter discussões ferrenhas com o marido (se for realmente marido). Palavrões e xingamentos dos mais vulgares saem pela janela dela e entram nas dezenas de janelas vizinhas. Uma forma muito interessante...

Das negligências veladas

As aulas de Higiene e Segurança no Trabalho revelaram muitos fatores interessantes que esvoaçam nos edifícios de Aracaju e na Universidade Federal de Sergipe. O principal deles é a possibilidade de incêndio sem chance de salvação para bens materiais e para humanos - tragédia decorrente da negligência de servidores e empregados. Na UFS, em um treinamento convocado pelos responsáveis pela saúde e segurança no trabalho (para técnicos de laboratório e quem mais se interessasse), apenas as turmas de Higiene e Segurança e uns dois técnicos estavam presentes o que indica que toda aquela confusão que terminou em greve nos meses anteriores não passava de conversa fiada uma vez que quando a Universidade oferece meios de garantir a integridade dos servidores estes sequer dão-se ao trabalho de fingir interesse. É claro que a presunção de conhecimento absoluto sobre as técnicas adequadas de segurança fará, em uma situação de risco, a um desastre anunciado. Os condomínios da capital também n...

Ser crente é ser feliz?

Quando desci do Marcos Freire/DIA no terminal da Zona Oeste a primeira visão que tive foi de umas pessoas panfletando – nada demais e nada anormal. A anormalidade, além da demasiada espera por qualquer ônibus para o terminal do campus, da sujeira, dos pedintes, do calor, do fedor de milho e comida em cozimento eterno, estava na prepotência do panfleto que convidava a todos para uma confraternização natalina em uma dada igreja e afirmava que para ser feliz é preciso ser crente (em letras garrafais). Bom, se essa é a condição para a felicidade terrena ninguém inseriu a informação no meu programa original. Ainda que eu não tenha bugado com a ousadia da afirmação é de se considerar que pessoas emocionalmente frágeis podem cair no conto da carochinha propagado por várias congregações. A felicidade não é ser e sim estar (ou até mesmo isso esteja errado). O que não pode acontecer, como hoje é tão comum e vulgar, é a venda da crença que a felicidade pode ser engarrafada e vendida em tal ...

Você não sabe

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Quadro: The Rag Gatherers. James McNeill Whistler. 1858. Agora você não anda mais a pé. Deixou de ser simples. O que diria agora, olhando da sua cama, desses que aí perdem tempo andando sob o sol de Palmeira dos Índios, com calor, com sede e sem expectativas? Agora você não encontra mais ninguém. Passou a odiar todos. Fala demais em polêmica para esconder seus próprios medos atrás dos berros dos outros e da lógica que ninguém usa. E eu pergunto, e as ruas? Agora você não ama mais. E quem serve para apresentar à sua comunidade é enfeite, não amor. E eu pergunto, e quem vai querer você? Dizem que isso é o que você não poderia ser e foi justamente por isso que se tornou - amarga. Agora, os agoras já foram. As luzem uma hora são apagadas e só você e seus demônios sobram para contar quantas lágrimas reteve e quantas vontades foram oprimidas. E eu pergunto, por quê? Agora você é sombra de si mesmo e quase nada pode tirá-la dessa letargia. Deixe que tirem-na disso. Apenas deix...

Aprendendo com fracassos

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Ilustração: Limehouse. James McNeill Whistler. 1859. “Cada fracaso enseña al ser humano algo que necesitaba aprender.” Charles Dickens Se a vida fosse composta apenas por vitórias não teríamos evoluído nada. Não teríamos obras literárias fenomenais, nem a ciência teria descoberto a saída para males físicos que nos cercam e o homem jamais teria pisado em solo lunar. Cada avanço da humanidade é composto por dezenas de fracasso e o segredo da vida nem é saber sobreviver por viver; mas viver para superar o sentimento de derrota que temos ao não atingir determinados pontos. Vencer é fácil. Lidar com a derrota é que é outra história. Há fracasso na vitória, porém é somente nos momentos perdidos que ele se faz mais presente, revelando caminhos alternativos para os erros cometidos e o que devemos fazer é burlar a depressão, passageira ou não, advinda com a derrota e o fracasso e olhar para a frente, com a sabedoria do passado. Somos feitos de fracasso, que às vez...

As palavras são diversas

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Foto:  Cylinder seal and modern impression:  bull-men flanking deity above sacred tree; winged deity holding horned animal heads. Período Neo-Assírio. Século 7-8 B.C. “Portanto porque tendes uma Bíblia não deveis supor que ela contenha todas as palavras minhas; nem deveis supor que eu não fiz com que se escrevesse mais.” Deus, 2 Néfi 29:10 Acreditamos com muita facilidade em milagres e na magia de divindades capazes de promover a destruição em massa. E com a mesma facilidade acreditamos em vozes que bradam sobre visões e deveres a serem cumpridos. Porém somos lentos e céticos em acreditar em palavras escritas, que revelam com clareza as enganações e a apostasia da Igreja do Diabo. Preferimos acreditar em mentiras. E mentimos para nós mesmos e para quem quiser ouvir. Dizem que Deus é onipotente e onipresente. E seguindo essa ideia é fácil pensar que várias nações e profetas de diferentes tempos possuem palavras e revelações desse mesmo Deus, com pro...

Pelas folhas de vidro

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Quadro: Note in Pink and  Brown. James McNeill Whistler. 1880. O vizinho do outro, que aparentemente beija rapazes, não quis fazer uma de suas periódicas festinhas. O do andar de baixo não quis ter mais uma sessão de sexo selvagem, como no meio da semana e as fofoqueiras habituais do salão de beleza já foram. O apartamento de frente não está com a TV de 105'' ligada nos programas chatos da Record ou do SBT. As luzes de um novo dia já já começaram a rasgar o dia. Um dia novo com hábitos antigos. O Tédio, senhor de muitas horas, está na sala assistindo ao Corujão, com aquela expressão aborrecida no rosto. Ao seu lado o Ócio cansou de papo furado e deseja pôr-se em movimento. Mas como? Não acha saída.  Olhando-os assim, de frente, sem pretensões, é fácil entender as razões dos homicidas; o sentimentalismo dos velhos; o desespero dos jovens; a vontade de morrer dos vivos e as saudades de quem não possui mais poder para realizar pequenas proezas do dia a dia. E...

Profetas e homens

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Os ataques aos franceses trouxeram de volta os memes ridicularizando o profeta Maomé. Ridículo. Maomé, Jesus Cristo, Buda, Profetas modernos e todos os que servem de exemplo para a humanidade, através de atitudes altruístas e ensinamentos para os mais diversos setores da vida não são passíveis de piada, ainda que seus seguidores sejam ignorantes, assassinos e preconceituosos. Nenhum dos ícones religiosos é passível da ridicularização apenas por que seus seguidores utilizam seus nomes para justificar massacres e desumanidades. Foto: Plaque with winged sphinx. Assíria. séc 8-9 B.C. O homem, o que empunha mentiras para encobrir organizações criminosas – que chamamos de Igrejas e Congregações – ou AK’s para defender uma “fé”, é que deve ser ridicularizado e combatido. As religiões, os profetas e os Deuses – cada um acredite no que achar melhor – estão acima dos orgulhos feridos e das ações criminosas. E é sempre bom lembrar que nem todo muçulmano é criminoso, nem todo negro faz...

A graça dos roedores

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Foto: Cassaco no Jasmineiro. Ifal-Palmeira dos índios. Cledson Ramos. Um dos jasmineiros do campus do IFAL – Palmeira sempre atraiu os ratos e os seus familiares mais íntimos.  Em um passado não muito distante ratazanas andavam com as flores do jasmim no cabelo, exibindo aquela cara de drama e de romances à Nicholas Sparks, com um apimentado dramático de Stephenie Mayer. As ratazanas juvenis sempre gostaram das cores dos dois jasmineiros. Outro dia estava olhando para as primeiras flores dessa estação , em um fim de tarde, quando mensagens apareceram no meu WhatsApp, vinda pelo túnel do tempo, para lembrar que as ratazanas, assim como seus parentes mais próximos, fuçam até não poderem mais. Esses bichos são muito engraçados, principalmente quando crescem. Agora, pego com o rabo entre as pernas, o pobre cassaco vê-se descoberto nas suas peripécias. Muito bem fotografado, o pobre parece não ter aprendido com as fêmeas que passaram antes dele – a nunca deixar-se ser pega c...

Canibais culturais

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                “Não temais as censuras dos homens nem vos atemorizeis pelas suas injúrias” 2Néfi 8:7 Pintura:  A Womam Murdering a Sleeping Man, from images os Span Album, pag 87. Goya. 1812-1820. Vira e mexe e imagens de orixás são quebradas; as imagens de santos são igualmente desrespeitadas. Filhos e filhas de santo são agredidos à luz do dia e católicos e protestantes agridem-se mutuamente. No frigir dos ovos todos saem feridos, na crença, no espírito ou no direito constitucional da livre manifestação de opinião e de crença. Os homens aprenderam a temer os iguais e o poder limitado que emana da raça humana.  As agressões são apenas  meios de expressar o medo e obstinação em humilhar o próximo e suas convicções. E mesmo desde 600 anos antes de Cristo até hoje o homem continua sendo a representação da dualidade entre o bem e o mal, seja na intolerância ou na simples falta da aceitação do novo.  O mundo...

Tempo indefinidor

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Pintura: View from Mount Pilatus. John Singer Sargent. 1870.                        “É o amor que importa, o cuidado... é sempre o desejo, nunca o tempo.” Bill Denbrough, It, Stephen Kin Os poetas, a vivência e os tropeços ensinam que o tempo nunca importa. É sim um detalhe capaz de destruir possibilidades e sonhos. Nunca definidor. E apesar de a nossa obsessão ser um ser que sirva para a materialização de um amor perfeito apenas na nossa ingênua compreensão, o tempo está presente em nosso íntimo como agente ativo nas relações que temos. Por causa das marcações que fazemos em relógios e papéis temos o hábito de apressar o ritmo das pessoas, minimizar as pressas de outros e deixar para depois aquilo que não temos coragem ou força para enfrentar de uma vez. O desejo anda de mãos dadas com o amor, algumas vezes. E talvez seja o desejo que nos falte. Desejo real, não apenas sexo. E imagina que louco se um d...

Sucessos cotidianos

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Pintura:  Fur Traders Descending the Missouri. George Caleb Bingham. 1845 “La clave del éxito; ganhar y saber perder.” Maquiavelo O sucesso nas empreitadas diárias nem sempre é glorificado de pé pela mídia e certamente está muito aquém da atenção dos grandes empreendedores. Está, sim, entre as pequenas tarefas do dia a dia cuja importância só pode ser vista quando calendário corre e o ano passa como um cometa pela órbita da terra. No cotidiano, as tarefas são concluídas com êxito ou abortadas e somente a experiência com o que deu certo ou errado pode ser o alento para o momento depois do cansaço. Maquiavel tinha razão ao afirmar que saber ganhar e saber perder é o pilar para a formação de um caráter íntegro e bem-sucedido. E embora nem sempre saibamos engolir a derrota também quase nunca sabemos ganhar. O amargo da vitória e o doce da perda ainda não nos são familiar e talvez seja por isso que ainda somos tão pouco evoluídos no trato com os outros – e com nos...

O preço da salvação

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(...) a salvação é gratuita                                         2 Néfi 2:4 Se você sair andando pelas ruelas de Palmeira dos Índios e entrar em uma certa congregação vai se deparar com envelopes e “óleos vindos” de Israel e do oriente, todos com fins de comprar a saúde, a cura espiritual e um lugarzinho no paraíso. Andando um pouco mais e seguindo a cantoria, você vai se deparar com CD’s, livretos e mais pedidos de um dízimo generoso para levar adiante “a obra de Deus”. E quanto mais andar, mais vendas irão aparecer. E pobres, que quase não têm o que comer, estarão lar, regiamente, colocando suas contribuições nas vendas e em envelopes. E o Deus deles ficará muito bravo se as contribuições forem muito pequenas. Imagem: A vinda de Jesus ao continente americano. LDS Church ...

Fantasmas

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Pintura: Madame X (Madame Pierre Gautreau). John Singer Sargent. 1883-84 Existem aquelas pessoas que passam a vida com dor de cotovelo e que provocam uma enxurrada de citações de autoria duvidosa nas redes sociais  e que parecem que não se curam nunca, mesmo os cientistas já terem apontado que uma paixão demora até dois anos para ser curada, após o término do relacionamento. No outro lado da rua estão os que nem procuram nem encontram uma “cara metade” e que mesmo assim vive entre relações conturbadas e nada oficiais. Diferente dos outros, esses são experts em bebida, palavras obscenas e atitudes sacanas. De certa maneira vivem em um invólucro de autoafirmação desnecessária. No meio da rua estão os que vivem à margem de relacionamentos e das religiões, em uma vida completamente alheia às miudezas do cotidiano, que reduzem a existência de muitas pessoas a meros objetivos mesquinhos e sem controle. Essas vivem a tranquilidade inquieta de serem perturbadas a qualquer mom...

Palavras demais

“Que as palavras caiam de forma que for – que elas possam atingir o amor obliquamente.” William Carlos Williams, Paterson . A era do WhatsApp mudou a maneira como nos relacionávamos. Quando era apenas o bate-papo do Facebook, quando você podia olhar ou não e tudo estaria bem, todos ficavam bem e os relacionamentos seguiam seu caminho com a graça e as aflições características de um certo distanciamento. O imediatismo do WhatsApp mudou a nossa percepção sobre o tempo de espera para a resposta das mensagens e desenvolveu a impaciência obsessiva sobre o outro. As palavras não apenas aparecem – elas caem em avalanche sobre nós com mais frequência do que podemos responder e pensar antes de responder. O resultado óbvio é o desastre nas relações sociais. As palavras atingem o amor, o ódio, o desprezo e varre tudo o que possa existir depois deles, inclusive a possibilidade de sopro depois da mordida. E quando morder é tudo o que sabemos fazer, o que resta quando só o cara...

Sonhos poderosos e perigosos

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“E quando os sonhos viram realidade, eles fogem ao poder do sonhador e se tornam coisas mortais por si só, capazes de ação independente.” It, Stephen King. Sempre ouvi que se deve tomar cuidado com os pensamentos porque eles são tão poderosos que podem mover objetos e estabelecer comunicação onde antes não havia nada. Os pensamentos são poderosos e já provei (e continuo) da incrível capacidade de pensar e concretizar, seja pelas minhas próprias mãos seja pela ação de outrem. Imagem:  Robert Davidson.  Red Tailed Eagle Feathers , 1997 alder, acrylic paint, horse hair,  opurcula From the Collection  of George Gund III No entanto, os pensamentos não são os únicos a serem dotados de magia. Os sonhos, assim como a palavra escrita e verbalizada, possui igual capacidade de transformação e estabelece padrões pelos quais somos capazes de realizar o outrora inimaginável. Para atingir um fim ultrapassamos limites, restabelecemos preceitos e ...

A Antares de Alagoas

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Foto: Cemitério Santo Amaro.  O Dia de Finados é engraçado no sentido mais mórbido da palavra. Não é estranho que seja dedicado aos mortos, agora habitantes ou do céu ou do inferno - para aqueles cujas religiões aceitam essas definições-, mas pela vontade superficial de parte dos viventes de mostrar o quanto sofrem pela perda. E vamos aceitar a realidade crua de que nem todos os que morreram deixaram saudades e boas lembranças da mesma forma que nem todos os vivos são capazes de expressar seu amor e gratidão aos finados. Se por acaso você subir a ladeira da rua Pedro Soares da Mota, que insistentemente tentam mudar a cada ciclo de quatro anos, vai se deparar com dois cemitérios - e não somente dois portões- apesar de os muros definirem apenas a separação das covas com as casas vizinhas e nenhuma distinção entre o São Gonçalo e o Santo Amaro. Essa falta de divisão deve ter irritado bastante aos poderosos de outrora que certamente desejaram que seus familiares não se mistu...

A queda para a alegria do homem

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Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para que tenham alegria. 2 Néfi 2:25 Adão, de Tullio Lombardo. Quando você sai à rua e vê os pregadores destilando tristezas a cada leitura de versículos bíblicos, as mulheres lamentando a falta de sorte em “ter um homem que valoriza” o trabalho delas, os cobradores xingando cada partícula de poeira que cai em sua caixa registradora e alguns estudante em completado estado de drama e melancolia é possível perceber que a queda de Adão parece ter sido desnecessária e inútil. No segundo livro de Néfi todos podem tomar conhecimento de uma verdade que transcende qualquer conhecimento apóstata que tenha sobrevivido – o homem existe para buscar a felicidade e serem alegres. Mas alegria de verdade, não somente aquela encontrada em estados efêmeros. E como Leí mesmo disse, ainda no segundo livro de Néfi, o arbítrio está aí, com todos e qualquer um e com ele pode-se escolher de qual lado você deseja ficar – ...

Noite Bruxa

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Quando resolve explicar algo a alguém realmente faço isso acreditando no que digo, ainda que pareça uma loucura inimaginável. E quando falo, além da minha opinião, tem a opinião de pessoas mortas - escritores, celebridades, não-famosos. E nem sempre o meu parecer tem aspecto de pensamento linear ou politicamente correto .  Algumas pessoas, ou ouvirem-me falar, revelam uma expressão de perplexidade e outras são mortalmente contrárias, ainda que minha expressão seja a de desprezo pelo contraditório só pelo contraditório. No dia das Bruxas, que é também o dia de comemoração do nascimento do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que precede a comemoração macabra de Todos os Santos e de Finados, não é difícil ver por aí minhas palavras ecoando e relembrando não apenas Drummond como também personagens fictícios, tornados reais pelo simples desejo. A mistura daquilo que não é real e do que não é apenas o termômetro do quanto se pode ser feliz sozinho, acompanhado, nesse e em out...

Cidade Baixa

Toda cidade tem uma cidade baixa, onde a puta nasce, o filho da puta cresce, o bandido se faz e de onde a surpresa origina grandes feitos. E isso é de uma verdade tão imutável que até o próprio povo reluta em aceitar. Na cidade baixa os pobres entram em processo multiplicativo, as casas não têm lá o luxo que se ostenta em bairros nobres e a educação é sempre um item de discussão, dentro e fora de casas e escolas. Nessa baixa também surgem as pedras raras – escritores, pintores, administradores, engenheiros, idealistas, criadores. E o que falta aos jovens é justamente a oportunidade – o dinheiro para um curso, o alimento regular, o sono tranquilo, uma moradia digna ou, o mais importante, alguém que acredite no potencial e no futuro desses. Toda cidade tem o ladro reluzente, feito para turista ver. E tem a vida de fato, com esgoto na rua, com sujeira, com a população que faz do ambiente ser uma cidade, ainda que polarizada. A vida, em qualquer lugar, encontra-se na cidade baixa....