Um senil no Exército
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Devo concordar com os historiadores quando eles dizem que o regime
militar é muito recente para que tenhamos uma visão confiável e consolidada
sobre os vários aspectos da sociedade brasileira à época e como o regime
influenciou as décadas posteriores. E ainda que não tenha vivido tão nebulosa
época, seus reflexos são sentidos por mim, indiretamente, como uma das gerações
subsequentes – que herdaram os males e os benefícios (se houve) da ditadura.
Quase não penso nos militares e quando me vejo refletindo sobre o
período militar é, geralmente, como consequência de fatores externos. Esses
dias estava sentado à mesa de um dos 1º Sargentos da 6ª Região Militar, à
espera de atendimento, quando uma cena muito inusitada ocorreu bem na minha
frente. Um homem, passado e muito da idade de andar sozinho na rua, ocupou o 1º Sargento, que atendia o público e que
logo me atenderia, com nomes e datas errados, para um fim que nem Deus saberia
dizer, por longos trinta minutos. E quando ia embora, já de pé, voltou para o
militar e confidenciou-lhe, como um segredo de Estado, “que a palavra corrupção
não existia no dicionário do Governo Militar e que só passou a existir a partir
do Governo Sarney. Não existia corrupção naquela época. Isso é coisa desses
Governos”.
Observando passivamente o monólogo do homem (o militar controlava-se
para não sorrir e concordava com a cabeça), pude confirmar que nem todos os
militares, que foram incorporados durante os governos democráticos, ao menos,
não concordam com as virtudes do Governo Militar. E por motivos óbvios.
“Quem assumiu o Governo morreu pobre. Pobre não, só com o salário que
o Exército pagava”, dizia o homem.
Sim, claro. Vamos ver isso continua como devaneio verdadeiro se
abríssemos os arquivos da ditadura. É muito fácil ser virtuoso com uma capa de
chumbo cobrindo arquivos governamentais – que hoje a Lei de Acesso à Informação
obriga a publicar, nos governos federal, estaduais e municipais.
Os militares continuam com um grau gigante de sucateamento em suas
repartições e deverá continuar assim enquanto tivermos medo de outro golpe
militar. E não devemos negar que os serviços de engenharia do Exército é de uma
qualidade ímpar. Mas nem tudo são flores e a Mão amiga tem um Braço Forte
demais para o gosto dos sensatos.
Os insensatos acreditam que o Braço Forte é exponencialmente mais
virtuoso que a democracia – até que esse mesmo Braço, usando essa mão amiga,
arrebente-lhe os dentes. E certamente aquele homem senil nunca deve ter sentido
o carinho do Braço Forte.
Ao ir embora, depois de cumprimentar o Coronel e trocar amenidades,
tive mais uma vez a certeza que as Forças Armadas tem mais defensores fora que
dentro.
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