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Mandar os malditos embora

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Xilogravura: A Sibila Tirburtina contando ao Imperador Augusto sobre a vinda em Cristo, após Parmigianino. Sec. XVI. Metmuseum.   Decisões são necessárias. Livrar-se de indivíduos que se divertem ao provocar prejuízos e malefícios a outrem não é uma mera decisão, mas um ato de ousadia que sempre será rechaçado por esse tipo maldito de indivíduo.  É necessário afirmar-se e criar o próprio ambiente seguro não como necessidade apenas de ego e sim como forma de autopreservação e amor próprio.  O não deve ser jogado em suas faces, sem piedade e de forma direta e incisiva.  O repúdio a esses seres não nos torna iguais a eles e nem piores que suas ações, apenas sobreviventes em um mundo cuja decadência encontra abrigo em casas de porcelana.   E bani-los é um ato de amor e caridade, ao eu interior que a tudo suporta com medo da rejeição social - um medo paralisante que tem origens nas feridas abertas de famílias e caracteres pessoais de, outrora, crianças rejeitad...

Emoções em signos

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Xilogravura: A competição entre Apollo e Marysas. Niccolò Vicentino. Metmuseum.  Meus vizinhos amam músicas sertanejas e bregas que exaltam as dores emocionais. Do meu ambiente home office eu as ouço e silencio a minha trilha sonora de modo que consiga ouvir a letra, a melodia, os gritos e as tentativas de cantarolar o hit do momento.  E sempre fico avaliando não a letra cafona ou o ritmo inexpressivo, mas a capacidade de auto identificação com a composição, com as situações da vida que nos impulsiona a traduzir em signos todas as emoções que nos alegram e afligem na montanha russa brasileira que é viver em condições difíceis e com pessoas não menos complicadas. E se não é possível mudar, de imediato, a situação que ao menos consigamos embriagar o corpo, o intelecto e o espírito com música, álcool e paixões requentadas e lembranças adocicadas pelo tempo.   Meus  vizinhos vivem uma vida pobre, que beira a miserabilidade material e imaterial, e parecem não se impo...

À Senhora dos Ventos, dos Raios, dos Oruns

 Minha Senhora, o entardecer hoje foi nublado, com brisas frias que embalam sestas em dias quentes e pós trabalho intenso. E seus pontos ecoaram por entre meus pensamentos e minhas mãos, tecendo quadros de gratidão e revoadas alegres.   O teu braço estendido, acalentador, é a minha direção; a minha baliza na desordem e a força que me mantém no caminho.  O teu raio sou eu. A minha força és tu. O teu florim sou eu. O vento que me protege e acalma és tu. Porque nas tempestades eu estou em casa, flanando com a calma e a agilidade de uma borboleta; e em meio a áridos terrenos eu estou em tranquila caminhada, como o búfalo em seus ciclos migratórios em terras distantes.  Os meus inimigos ficam à margem do caminho e o horizonte tem as cores da tua dança. E diante disso eu só consigo bradar EPARREY!

Em estado solo

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Quadro: Retrato de Mulher, possivelmente Ginevra d'Antonio Lupari Gozzadini, Atribuído ao Maestro delle Storie del Pane. Metmuseum.   Noites de delícias e sossegos. Dias de trabalho e sons diversos. E entre o passar das horas e a imposição de limites para o fim de atividades, o fim de auto pressões sociais, o fim de velhos hábitos, existem  descobertas que nos provocam e tornam-nos interessantes - e é sempre melhor que seja para si do que para outrem.  Porque quando ficarmos sozinhos - presos em nossos mundos físicos, com tantas limitações quantas forem possíveis existirem em ambientes trancados, sem o verdor natural do mundo, com odores vendidos em farmácias e comida competentemente pré-cozida por multinacionais que nem sempre são boas para nossos corpos frágeis e viciados - precisaremos ter com o que nos divertir e distrair. As noites deliciosas podem ser com única companhia e as de sossego, idem.  Os dias de trabalho podem ser mudados e reformados. No entanto, o l...

É a primavera chegando ao fim

Vídeo: Rafael Rodrigo Marajá Da janela podemos ver um mundo rotineiro, cronometrado, dividido entre achismos e vizinhos. E em uma realidade pandêmica, atribulada, ocupada, preocupada, nossa janela, por muitas horas do dia, são de apenas algumas polegadas.  De repente, sons celestes, tímidos, são ouvidos e a tensão aumenta. Para os fiéis, são os primeiros sinais que o Rei está passando.  A chuva cai. As janelas são fechadas. O povo corre. E então o verão mostra sua face durante a primavera. É o fim para ela. É o renascimento para ele.  É o espetáculo belo, gratuito, aleatório, perigoso e dominador.  Os filhos da tempestade não temem e os Orixás mostram, embora não precisem, a vida que flui, muda, transforma e é transformada.  Vídeo: Rafael Rodrigo Marajá

Entre respostas e mutações

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Escultura: Um hipócrita e um caluniador. Franz Xaver Messerschmidt. Metmuseum. Em meios aos afazeres do cotidiano e do completo abandono das redes sociais deparei-me com uma notificação da BBC News Mundo sobre a nova variante do SARS-CoV-2 detectada no sul da África. Parei um minuto e fui ler a matéria, como todas as outras, muito boa.   E qual não é a minha surpresa ao chegar ao fim da notícia e deparar-me com a seguinte afirmação  " La lección de la pandemia es que no siempre se puede esperar hasta tener todas las respuestas ( BBC News Mundo , 2021, online)." E fiquei a cismar com essa afirmação a tarde toda não porque seja complexa ou extraordinariamente impactante, mas porque revela o quanto somos dependentes de respostas e, nessa sociedade cada vez mais doente pelo imediatismo provocado e fomentado por ambientes virtuais e sociais, acabamos por levar ao precipício a nossa saúde mental sempre que esse imediatismo e essas respostas não satisfazem nosso sadomasoquismo....

Aceitação algoritmizada

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Escultura: Cravo. Michele Todini, Basilio Onofri, Jacob Reiff. Metmuseum.   Querer a aceitação do outro sempre foi um problema - para todos. Para conseguirmos essa aceitação, transitória e iludida, submetemo-nos aos mais degradantes estados sociais que podemos atingir. Com as redes sociais em alta e a pandemia chicoteando-nos por todos os lados, passamos a admitir o ridículo como pré-requisito para sermos legais, engajados e respeitados. Dançar com baldes na cabeça ou segurar em um fio energizado com os pés dentro de uma bacia cheia de água passou a ser o mínimo para conseguir uma aprovação de poucos segundos. E por quê? A nossa solidão, os nossos vazios e os nossos dilemas íntimos explicam isso. Não seguir uma pessoa é não gostar dela. Não estar presente em lives é ficar pelo caminho. Não ter engajamento é simplesmente desaparecer em um mar de desconhecidos.  E a morte social ganhou outros patamares.  Ter um perfil privado e ter, simultaneamente, poucos seguidores signif...