Emoções em signos

Xilogravura: A competição entre Apollo e Marysas. Niccolò Vicentino. Metmuseum. 


Meus vizinhos amam músicas sertanejas e bregas que exaltam as dores emocionais.

Do meu ambiente home office eu as ouço e silencio a minha trilha sonora de modo que consiga ouvir a letra, a melodia, os gritos e as tentativas de cantarolar o hit do momento. 

E sempre fico avaliando não a letra cafona ou o ritmo inexpressivo, mas a capacidade de auto identificação com a composição, com as situações da vida que nos impulsiona a traduzir em signos todas as emoções que nos alegram e afligem na montanha russa brasileira que é viver em condições difíceis e com pessoas não menos complicadas.

E se não é possível mudar, de imediato, a situação que ao menos consigamos embriagar o corpo, o intelecto e o espírito com música, álcool e paixões requentadas e lembranças adocicadas pelo tempo.  

Meus  vizinhos vivem uma vida pobre, que beira a miserabilidade material e imaterial, e parecem não se importarem com isso porque simplesmente não lhes sobra tempo para reflexão - vantagem de quem possui as necessidades mais básicas supridas. Eles estão vivendo o que dá, com o que possuem, em doses homeopáticas e bem direcionadas pela indústria do álcool e do entretenimento. 

Com o que você tem, o que consegue fazer? E como consegue viver?

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