Breves linhas periféricas
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Arte: View of the Brenta, near Dolo, Giambattista Cimaroli. Met. |
Na periferia, na praça esquecida pelo poder público, dois times concorrentes formados por moradores locais distraem transeuntes e os próprios jogadores dos acontecimentos tediosos que estão prestes a serem reiniciados pela rotina do trabalhador brasileiro. Os pontos comerciais começam a abrir e empregados do varejo, sentados à porta dos estabelecimentos esperam o tempo de humilhação regimentar que caracteriza a diferença entre patrões e empregados.
Nas ruas, sacolas de lixo esperam ser recolhidas e animais abandonados aguardam a cota de ração doada pelo pet shop local. A vida periférica parece ser a mesma, sempre: trabalhadores indo ao trabalho bem cedo, comerciantes humilhando os trabalhadores, velhos se preparando para o culto e ruas sujas. Observando de longe, é um local vulgar, sujo e que serve de depósito para pobres.
Nas regiões "nobres", as padarias são delicatéssen, os empregados não são vistos sentados à rua porque precisam atender os clientes "refinados" com brevidade e amabilidade artificial excessiva e as ruas, sempre bem policiadas, são mantidas limpas sempre que possível. Em algumas, imagine, é possível encontrar até árvores!
Entre a área "nobre" e a área "pobre" - que erroneamente adjetivamos como periferia - a diferença mesmo é o cuidado - dos moradores, do poder público, dos visitantes. Nada além de cuidado.
É justamente essa carência que delimita o sonho do "pobre" em morar em um lugar melhor - sempre próximo da área "nobre"- e o desejo de manter o pobre em uma situação de subalternidade que se estabelece o conflito de classe entre "pobres" e "ricos".
A periferia acorda cedo. Sofre com a falta de saneamento básico e cuidados. A periferia, ao contrário das áreas "nobres", mesmo em meio à bruma da ignorância e das correntes de humilhações, pulsa vida. E isso, para os "ricos", é um crime hediondo.
A vida segue resistindo, apesar dos rótulos sociais; apesar dos "ricos".
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