Centenários

Dois mil e doze é o ano dos centenários no Brasil!
Esse ano comemora-se o centenário de Jorge Amado, Luiz Gonzaga, Herivelto Martins e da publicação do livro EU, de Augusto dos Anjos.
Evidentemente que a massa populacional, analfabetos funcionais ou incultos, saberá apenas do que as emissoras de televisão do País noticiará, com muita parcialidade. Mas devemos estar atentos para esses detalhes que enriquecem e privilegia a cultura nacional.
Em 13 de dezembro de 1912 nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento, que ornou a vida nordestina com a poesia da música simples, retratando a vida e os anseios do povo pobre do nordeste, além, claro, das maravilhas que só o nordeste possui.


Triste Partida


Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai
A treze do mês
Ele fez experiênça
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
Ai, ai, ai, ai
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Sinhô São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai
Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nóis vamo a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Ai pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai
E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai
Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrívi
Que tudo devora
Ai,lhe bota pra fora
Da terra natal
Ai, ai, ai, ai
O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai
No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Com seu filho choroso
Iscrama a dizer
Ai, ai, ai, ai
De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai
E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai
E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo e azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos fio pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai
Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Percura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai
Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai
Se arguma notíça
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade de móio
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai
Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai
Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
A lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai



Também no nordeste desenvolveu aquele que levou o nome da Bahia para muito além do oceano, traduzindo a cultura e o dia-a-dia de brasileiros e baianos para as mais diferentes línguas. Imortalizado por suas obras e por sua luta, Jorge Amado também completaria cem anos de vida nesse dois mil e doze. Autor de clássicos como Gabriela Cravo e Canela, Dona Flor e seus dois maridos, Capitães de Areia e Mar Morto, Jorge Amado contribuiu mais que qualquer outro para a formação de uma nova visão política, social e cultural de indivíduos vitimados pelo preconceito que cerca a pobreza e a religião popular.
Nascido em 10 de agosto de 1912, Jorge Amado escreveu 32 obras:

Romances:

O País do Carnaval, 1931

Cacau, 1933

Suor, 1934

Jubiabá, 1935

Mar Morto, 1936

Capitães da Areia, 1936

Terras do Sem Fim, 1943

São Jorge dos Ilhéus, 1944

Seara Vermelha, 1946

Os Subterrâneos da Liberdade (3v), 1954 (v. 1:Os Ásperos Tempos; v. 2: Agonia da Noite; v. 3: A Luz no Túnel)

Gabriela, Cravo e Canela: crônica de uma cidade do interior, 1958

Os Pastores da Noite, 1964

- Dona Flor e Seus Dois Maridos: esotérica e comovente história vivida por Dona Flor, emérita professora de Arte Culinária, e seus dois maridos — o primeiro, Vadinho de apelido; de nome Teodoro Madureira e farmacêutico o segundo ou A espantosa batalha entre o espírito e a matéria, 1966

Tenda dos Milagres, 1969

Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972

Tieta do Agreste: pastora de cabras ou A volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e suspense!, 1977

Farda Fardão Camisola de Dormir:fábula para acender uma esperança, 1979

Tocaia Grande: a face obscura, 1984

O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria, 1988

A Descoberta da América pelos Turcos ou De como o árabe Jamil Bichara, desbravador de florestas, de visita à cidade de Itabuna, para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram fortuna e casamento ou ainda Os esponsais de Adma, 1994

O Compadre de Ogum, 1995

Novelas

A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, 1959

A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua (publicada juntamente com Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, in Os velhos marinheiros, 1961

Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, 1976

Literatura Infanto-Juvenil:

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor, 1976

A Bola e o Goleiro, 1984

O Capeta Carybé, 1986

Poesia:

A Estrada do Mar, 1938

Teatro:

O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958

Contos:

Sentimentalismo, 1931

O homem da mulher e a mulher do homem, 1931

- História do carnaval, 1945

As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965

Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco, 1979

O episódio de Siroca, 1982

De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989

Relatos autobiográficos:

O menino grapiúna, 1981

Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992

Textos autobiográficos:

ABC de Castro Alves, 1941

O cavaleiro da esperança, 1945

Guia/Viagens:

Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945

O mundo da paz (viagens), 1951

Bahia Boa Terra Bahia, 1967

Bahia, 1970

Terra Mágica da Bahia, 1984.

Documento político/Oratória:

Homens e coisas do Partido Comunista, 1946

Discursos, 1993

Livro traduzido:

Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934

Em parceria:

Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929

Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matilde Garcia Rosa, 1933

Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz, 1942
- O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel de Queiroz, José Condé, Guimarães Rosa,  Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962 


(extraído de http://www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp)


Já Herivelto Martins foi outro célebre brasileiro que produziu pérolas inestimáveis à música popular brasileira. Foram mais de 190 músicas que envolveram o Brasil nas décadas de 1940 e 1950, representando, no íntimo das palavras, as brigas e reviravoltas que teve com Dalva de Oliveira.
Em 30 de janeiro de 1912 também nasceu este poeta.


Que rei sou eu?
Que rei sou eu
Sem reinado e sem coroa
Sem castelo e sem rainha
Afinal que rei sou eu?
(bis)
O meu reinado
É pequeno e é restrito
Só mando no meu distrito
Por que o rei de lá morreu
Não tenho criado de libré
Carruagem sem mordomo
E ninguém beija meus pés!
Meu sangue azul
Nada tem de realeza
O samba é minha nobreza
Afinal que rei sou eu?
Que rei sou eu
Um falso rei?

E, por último, mas não menos importante, temos paraibano Augusto dos Anjos, que publicou em 1912 seu único livro: EU. Com poemas que envolvem termos científicos, refletindo a vida sob um prisma de realidade pura, abstracionismo e muita mestria, Eu é um exemplo de bom livro. O emprego de termos técnicos em nada tirou da poesia de Augusto dos Anjos a graça e o prazer da leitura, muito pelo contrário!
Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá