Parecença escriturária

Comendo uma fatia do bolo de aniversário de um desconhecido, às 3h47, sob a luz fraca da minha cozinha, eu pensava sobre a dificuldade de expressar, seja em poucas linhas ou difíceis palavras, nosso sentimento ou singelo estado de ânimo para alguém que seja íntima ou que precise de palavras amáveis e afáveis.
Em minha última leitura, O gato sou eu, do Fernando Sabino, ele expressava, em um de seus textos, a dificuldade de escrever uma nota de pesar; e ainda justifica revelando que o Gabriel García Márquez sofria de igual problema.
Não sei se é apenas uma característica de célebres escritores ou um item intrínseco aos que são capazes de escrever sobre tudo e todos, revelando amor e ódio em linhas de aparências íntimas. E qualquer um é capaz disto, como uma vez enfatizou Neruda. O fato é que em congratulações para aniversário, quando não sei se felicito ou lamento a velhice alheia, ou em velório, quando nada há a dizer, ou ainda em outros momentos quando parece que um sorriso não basta, sou também um Sabino, um Márquez - o que dizer, ora!?
O bolo até que está bom e graças a Deus não precisei fazer cara de tédio na frente do aniversariante, que andou mais um pouco em direção à morte. A luz fraca irrita-me, até parece que deseja felicitações para ser mais brilhante - é melhor apagar logo antes que seja tarde!



Foto: Centro histórico de Paraty - RJ. Rafael Rodrigo Marajá.

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