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Origem Uterina

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Arte Abstrata Há quem discuta sobre religião, política, moda e relacionamento, fazendo desses temas o eixo principal de tudo o que existe de filosofia no mundo paralelo das calçadas. Ainda existe quem discute se choverá e de onde vem o homem, quando muito. E embora seja mais fácil surgir a pergunta que a resposta, não existe quem aceite a origem   tão simplória do homem. Sim, origem simplória! O homem não vem de outro planeta. Não vem de outra dimensão. Não está circunspecto em uma redoma de nobreza. Também não é obra do acaso. E, para a desilusão de milhares, o homem vem do útero! Exatamente do útero, órgão do sistema reprodutivo feminino, situado atrás da bexiga e na frente do reto. Esse órgão, oco, é que abriga o homem e faz o maior esforço para que, em um período não superior a nove meses, nasça o espécime cuja imagem e semelhança todos conhecem. Mesmo assim, ninguém o reconhece. Pobre útero! Se tivesse vontade própria certamente reclamaria dos créditos que ...

Sistema de saúde e Câncer

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A saúde pública do Brasil alcançou seu primeiro nível de evolução, prática, com o processo de vacinação – que deu origem à revolta da vacina e à popularização do nome de Carlos Chagas. Depois, em 1988, com a constituição democrática e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o povo brasileiro pode ter assegurados os direitos a uma qualidade vida satisfatória bem como o acesso aos serviços de saúde, essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade sadia. Entretanto, a relação usuário – SUS tem demonstrado uma ineficiência evidente em salvaguardar os direitos adquiridos pelos usuários ao longo da história nacional.   Essa deficiência, ora logística ora na formação dos profissionais da saúde, reflete-se no aumento de certas patologias, como o câncer. Essa patologia, representativa de um conjunto de mais de cem doenças, tem agredido, de maneira contundente, inúmeros indivíduos provocando a onerosidade dos serviços de saúde oferecidos em Unidade Básicas de Saúde (UBS’...

Mendigo interior

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Área de Embarque/Desembarque. Terminal Rodoviário de Arapiraca.   Quem viaja, regularmente, e corta Alagoas passando pelas cidades de Arapiraca e Palmeira dos Índios certamente já se deparou com as particularidades das rodoviárias da Capital do Agreste e da Princesa do Sertão. Além do não maravilhoso sistema de transporte alternativo, hospedado em parte exclusivamente na rodoviária de Palmeira dos índios, existe a o isolamento natural do terminal da Capital do Agreste, Arapiraca. Baseado em um opressivo silêncio e em um frio desolador, independente da estação do ano, o terminal arapiraquense é uma atividade involuntária de mendicância. Sim, de mendicância! Imagine que são 3h15min de uma madrugada outonal, uma chuva fina acompanhada de umas três ou quatro almas em um balcão de lanchonete lança-se sobre a cidade intermitentemente e o frio senta-se na área de embarque/desembarque. Ao longe, no mesmo terminal, um mendigo compartilha o estado físico inabitado. E, de repente, ne...

O ano mais longo da história

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Dominique LeComte No ano acadêmico mais longo que já existiu, crianças foram concebidas entre o cálculo de curva e a discussão filosófica de tudo o que é permitido e proibido entre as quatro paredes de uma sala de aula universitária. Um período que desafiou a paciência de discentes bem humorados e a sacanagem de docentes mal intencionados. O ano em que o Papa renunciou em pleno Carnaval, em que foi anunciado a construção do Templo Mórmon do Rio de Janeiro, em que inúmeros desentendimentos provocaram vários finais inesperados entre almas não-gêmeas. Um ano que entrou no calendário alheio e fez 13 virar 12 por força das circunstâncias e dos fatos.  Nesses dezessete meses, foram tantas as inovações que surgiram, tantas outras oportunidades que apareceram do inesperado cotidiano, tantas partidas, chegadas e despedidas que somente o tempo fará a poeira assentar sobre os móveis velhos que, como o 2012 que insiste em não terminar, resistem às intempéries. O clima sempre foi ...

As trevas de hoje, a boemia de ontem

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A boemia, antes exercício natural de muitos daqueles que hoje temos como ícones literários e musicais, tornou-se um argumento desfavorável à confortável vida tranquila e produtiva do nosso cotidiano. E talvez seja isso o que torna as produções artísticas medíocres, acarretando em um insignificante diferencial no mercado de trabalho.   É durante a noite que as ideias podem fluir mais calmamente, ou não, e abundantemente. Que se pode reinventar métodos. Resolver conflitos e definir novos métodos produtivos. Nessa ausência efetiva do sol  a qual chamamos de noite, é que se pode, com a clareza de quem conhece a si e seus problemas, provocar as revoluções na música e na escrita, que sempre influenciam gerações. Mas a boemia quase acabou. Nos bares, quem sobreviveu à onda das redes sociais, não mais inova, apenas  trata de não esquecer o que viveu - enquanto o álcool permite. Nos passeios, a violência  - que dizem ser maior hoje que ontem - espantou os casais pú...

A hora no Ônibus

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Abstrato de cheiro Que não fazer nada pode ser um pecado, todo mundo está sabendo. Que passear é um privilégio de quem não precisa estudar e depois trabalhar, sempre e cada vez mais, isso a maioria sabe sem precisar de líderes - religiosos ou políticos - que nos diga qual a cor do paraíso ou o cheiro do inferno. Entretanto, a união desses dois fatores - passeio e preguiça - é o que torna qualquer rotina em uma viagem cheia de particularidades  nem tão boas, nem tão ruins, mas sempre interessantes! Assim, tente sair de transporte coletivo, sob um sol que provoca a ira do calor constantemente, cheio de pessoas que se movimentam pelo cansaço e estresse de provas; pela pressa ineficiente de compromissos de importância duvidosa e por uma vida sempre tão igual, cuja monotonia faz qualquer criatura vegetar à luz de   um céu profundo e ao som de músicas impertinentes. Então, em um dia que a coragem subiu a um nível pecaminosamente alarmante, decidi pegar o ônibus coletivo...

Do outro lado da parede

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Arte Abstrata As pessoas têm o hábito de esperar aquilo que, talvez, não se pode esperar e acabam se decepcionando. Ah!, essas decepções são apenas frutos da imaginação de quem só espera. E isso é um dom de muitos! Entretanto, contrapondo-se a esse movimento gerador de desilusão está a curiosidade, ou melhor, a forma de pessoas inquietas olharem, de longe e sem interesse, a vida alheia. Pois é assim que se desenvolve a vida de muita gente, ou pouca se comparar com aquelas que se decepcionam. Imagine então que os indivíduos que moram em casas alugadas sabem que o imóvel nunca será seu e, portanto, seus vizinhos podem ter uma vida tão inconstante quanto a sua. E de mudanças na casa do lado, todos sabemos um pouco da vida alheia. Em uma dessas mudanças – apenas mais uma na rede finita de mudanças possíveis já feitas – acabei dividindo uma parede com um casal bem à moda década de 80, quando a mulher era apenas a dona de uma casa não dela, nos anos iniciais de sua adolescê...