O abstratismo de fim de tarde
Óleo sobre tela: O Pensador: Retrato de Louis N. Kenton. Thomas Eakins. Metmuseum. |
Andando despreocupado pela calçada, escondendo-me do sol terrível desse pedaço de chão sulamericano, sente o cheiro do sexo, da transa, do vendaval de tramas e ideias que coabitam minha imaginação e meu corpo.
O caminho tem se mostrado fácil, com algumas pedras à margem e alguns animais maltratados. As fofoqueiras velhas e os homens em fim de carreira estão sempre sentados à porta ou à sombra, autorizando a vida alheia, esperando meu "bom dia" ou minha saudação mecânica. Palavras que nunca recebem, independente de quanto se esforcem.
Ah, o sexo! Seu perfume passa das minhas mãos para os objetos que toco e a excitação de uma transa qualquer, à montante ou à jusante da pequena caminhada, paira sobre a curiosidade do fiscais da rua.
Ando despreocupado.
Sinto cheiros iguais.
Colerizo-me com os maus tratos sistemáticos contra animais, sempre indefesos e vítimas da carência e do egoísmo humano.
O meu cheiro, a minha figura, os abstratismos do meu ser - tudo vai desfilando pela calçada na doce sombra das dezesseis horas.
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