O dia de depois
Quadro: Jovem Esposa: Primeiro Cozido. Lilly Martin Spencer. Metmuseum. |
É o segundo dia do ano e o calor lanha minha pele com seu chicote implacável.
Na lembrança, a última boca que beijei em 2021, macia, grande, falsamente temerosa e quase inalcançável no alto do seus 190 centímetros. E se a ordenha não saiu na virada, pode ser que saia repentinamente por uma mão macia ou uma boca sedenta, sempre da etnia negra.
Na padaria, a inflação açoita a mim, a mulher que estava no caixa, no fim de uma interminável compra, e que também trabalha lá durante a semana. Para o Alan, a inflação parece que só faz bem.
A Coca-cola parece aguada e a caixa de bombom Garoto não é tão apetitosa como parecia na hora que escolhi comprar. Será efeito do resfriado que peguei na madrugada do dia 31? Ou é porque a produção desses itens está com a qualidade duvidosa?
De qualquer forma, é o que acontece hoje.
Hoje, engraçado que o hoje, o presente, precisa de um pouco mais de safadeza, um pouco mais de brisa fresca, um pouco mais de minutos de ordenha nesse meu brinquedo a serviço de héteros e da comunidade LGBTQIA+.
Amanhã há de ser outro dia. Hoje, dia que corre e derrete, converge e difunde.
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