EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: Breve análise


Monografia cedida a terceiros por tempo determinado. Disponível a todos. Ao utilizá-la, citar o autor MARAJÁ, Rafael Rodrigo.



SUMÁRIO






INTRODUÇÃO



O surgimento de um novo empreendimento requer estudo e planejamento, a despeito das condições relativas à política econômica adotada pelo governo. Nesse contexto, o papel do administrador, ora empreendedor, ora consultor, deve refletir os conhecimentos técnicos e operacionais necessários à sobrevivência do empreendimento.
Nesse contexto, o empreendedorismo precisa ser entendido como um movimento dinâmico e que consiste em várias formas de manifestação. Nesta monografia, o empreendedorismo será confrontado com o processo de globalização, os tipos de economias de mercado em que se insere um empreendimento, considerando apenas o ocidente.
O empreendedorismo será abordado conceitualmente, em que os conceitos de empreendedor o perfil do empreendedor será revisto.
Além disso, a interferência da política nos empreendimentos e o impacto do papel da mulher na abertura e sobrevivência de novos negócios serão analisados do ponto de vista inovador e de prática empreendedora. 
Por fim, o empreendedorismo no Brasil será analisada com base no sério estudo publicado pelo Global Entrepreneurship Monitor, em que os anos de 2008 e 2014 são confrontados para estabelecer parâmetros para que se oriente o empreendedor inicial na tomada de decisões concernentes a seu novo negócio.





 1 A globalização e o empreendedorismo



O processo de globalização apresentou novas possibilidades de promoção de desenvolvimento local a partir da geração de emprego e renda a indivíduos ligados as multinacionais ao passo que conformou seus trabalhadores e à sociedade do local de instalação da linha de produção, total ou parcial, à ideia de que só existe trabalho e só é trabalho quando um indivíduo está ligado a um empregador por meio de um vínculo empregatício, ainda que informal. A globalização, se analisada meramente do ponto de vista da geração de emprego e renda, apresenta como vantagem a capacidade do indivíduo tornar-se empregado, com vínculo formal, de uma instituição em longo prazo – onde apenas fatores determinantes como a capacitação do empregado e suas características servis são considerados como fator de permanência na empresa.
Por outro lado, essa expectativa gera a acomodação das comunidades locais ligadas a essas empresas e dos empregados que dela faz parte, inibindo a capacidade empreendedora dos indivíduos envolvidos, levando-os a crer que, uma vez desligados do vínculo empregatício estabelecido com uma empresa de grande ou pequeno porte, não há possibilidade de promover a autossuficiência do próprio indivíduo e dos que deste dependem.
Essa visão não se origina apenas como reflexo da acomodação oriunda dos vínculos empregatícios com empresas globalizadas. É também fruto da indústria dos concursos públicos, comum no Brasil, em que a expectativa de tornar-se empregado vitalício do estado inibe a capacidade empreendedora do indivíduo. Trata-se, portanto, não apenas de uma visão isolada sem efeitos práticos na economia e na sociedade, mas de um movimento que, se não revertido, pode causar a insustentabilidade de todo um país.



1.1 Contexto econômico



Para se compreender a dinâmica econômica de um país, de uma região ou de uma localidade é preciso entender que cada parcela geográfica é dotada de peculiaridades responsáveis pelo que é produzido ou oferecido como serviço, quem produz e até que ponto há o comprometimento com as questões sociais, éticas e ambientais da organização geradora do produto ou serviço. Essas peculiaridades geralmente definem a missão, a visão e as políticas norteadoras que são empregadas na sede e na filial da instituição empresarial.
Partindo desse contexto, Ésther (2014, p.2) esclarece
:
Ao se referir às economias mundiais, tende-se a fazer generalizações muitas vezes forçadas, negligenciando particularidades e culturas específicas. Ao mesmo tempo, tratar cada economia de forma absolutamente particular torna inoperante análises globais e comparativas. Neste sentido, destaca-se a abordagem sobre as variedades do capitalismo que [...] identifica dois grandes padrões de interação estratégica das empresas, constituídos por diferentes legados institucionais, regras, organizações e características culturais, cujos mecanismos predominantes de interação – mercado e coordenação – definem as condições em que se verificam o aprendizado, a confiança e o poder de sanção dos atores sociais (ÉSTHER, 2014, p.2).

Ou seja, não se pode apenas analisar uma economia a partir do sistema de produção vigente. É preciso considerar a atuação dos principais atores envolvidos no processo de geração de riquezas e que é capaz de garantir a sustentabilidade do empreendimento e das comunidades que interagem com ele.
Como o sistema de produção ocidental é o capitalismo, serão abordadas aqui as variações desse sistema para se compreender  e esclarecer a dinâmica econômica das empresas globalizadas e o impacto que estas causam nas economias locais, quais sejam, aquelas que estão ligadas a comunidades e que promovem o sustento e o desenvolvimento comunitário, compostas por empresas pequenas e curto alcance.

1.1.1 Tipos de economia de mercado



No capitalismo, há duas principais formas de economia que regem as relações de mercado dentro e fora dos países e que influenciam os atores econômicos no desenvolvimento da economia, com vista o crescimento da empresa, da localidade da sede e das filiais da empresa, quando há, e do indivíduo – de modo que este possa suprir suas necessidades básicas e secundárias (ÉSTHER, 2014, p.3).

1.1.1.1 Economias de Mercado Liberal



São marcadas pela coordenação mercantil nas relações entre as empresas, nos setores de trabalho e finanças; cuja coordenação econômica é definida pelo sistema de preços (Ésther, 2014, p.3).

As firmas tendem a evidenciar estruturas de comando verticais, as relações interfirmas são basicamente concorrenciais, as relações de trabalho conflituosas e atomizadas, o financiamento das empresas obtido junto ao mercado de capitais. O financiamento bancário, quando existe, depende da avaliação do desempenho das firmas, medido pelos seus balanços e lucratividade. Atividades para qualificação da mão de obra desenrolam-se à margem das firmas e/ou de redes que estas estabeleçam. Por fim, os processos de transferência de tecnologia efetivam-se precipuamente através mercado, ensejando a exigência de formas contratuais rígidas e a regulação do mesmo modo rigorosa dos direitos de propriedade, o que confere especial importância ao sistema de patentes e licenciamento do uso de tecnologias. A abordagem sobre as diversidades de capitalismo sugere que tal modelo favorece a ocorrência de inovações tecnológicas radicais, pela flexibilidade de que dispõem as firmas para desenvolvimento de novas linhas de produção, dada a reduzida regulamentação do mercado de trabalho, as facilidades para fusão e/ou aquisição de firmas inovadoras e a presença de engenheiros e cientistas que operam no mercado de inovações por conta própria (ÉSTHER, 2014, p. 3).

 


1.1.1.2 Economias de Mercado Coordenado

 

Nesse tipo de economia as relações entre as empresas, os trabalhadores e a política financeira seguem uma cultura que favorece os processos de coordenação por meio dos espaços deliberativos, fundamentados na colaboração e na confiança reciprocas (Ésther, 2014, p. 3).

A estrutura de comando nas empresas e a relação interfirmas envolvem a presença de organismos colegiados e de relações mais estreitas com os acionistas, fornecedores e clientes. Poderosas associações patronais e de trabalhadores comandam os processos de negociação coletiva e dispõem de credibilidade e poder de sanção para ensejar a colaboração em ações de qualificação profissional e de barganha salarial. A colaboração entre as firmas e destas com os trabalhadores, em contratos de longa duração, modelam as atividades de inovação e transferência de tecnologia, favorecendo a ocorrência, principalmente, de inovações incrementais. No rol das complementaridades institucionais, apontadas pela literatura das variedades de capitalismo, pontifica a presença de uma estrutura jurídica que admite relações contratuais abertas, incompletas, que favorecem os processos de colaboração.  (ÉSTHER, 2014, p. 3).


O entendimento sobre as estruturas de mercado é indispensável para compreender a economia local e do país e tomar decisões assertivas sobre o negócio, sua expansão e suas consequências econômicas locais, regionais e nacionais.








1.2 O Brasil no cenário econômico



O Brasil possui o capitalismo como sistema de geração de riquezas, com economia receptiva a investimentos estrangeiros e alta burocracia para regularizar empresas nacionais.
Tomando a formulação das variedades de capitalismo como referência, o Brasil apresenta uma configuração que fica entre os dois padrões de interação, caracterizando-se por [...]:
- Autofinanciamento e financiamento do Estado, através dos bancos públicos, no financiamento das empresas, não obstante a expansão do mercado de capitais.
 - Predomínio de conglomerados familiares entre as grandes empresas nacionais, mas é expressiva a presença de empresas estrangeiras.
- Regime de propriedade concentrada, a governança corporativa segue o padrão latino-americano, com peso expressivo do controle familiar e pequena participação de acionistas e funcionários.
- Prevalecimento do contrato individual, em meio a significativa presença do Estado na regulação de direitos individuais do trabalho.
 - Corporativismo sindical rege as organizações patronais e de trabalhadores, e convive com crescente diversificação da estrutura de representação de interesses. 
- Qualificação é efetuada por agências semi-públicas, que oferecem formação profissional elementar, ao lado da formação geral, garantida pelo Estado. São escassas as ações de colaboração entre empresas e empregados para inovação e qualificação.
- Iniciativas para acentuação da colaboração entre as firmas têm sido estimuladas pelo Estado, como os fóruns de competitividade, envolvendo diferentes segmentos das cadeias produtivas dos setores, e o apoio a clusters e arranjos produtivos locais, mas estão longe de ser uma prática generalizada. 
- Dotada de vigoroso mercado interno, a economia brasileira tem se mantido relativamente fechada, com níveis ainda elevados de proteção, sem superar, contudo as deficiências de sua capacidade de inovação tecnológica.
 - A relação Estado-empresariado no Brasil tem se efetuado por uma multiplicidade de canais, pluralistas e corporativos, [...] (ÉSTHER, 2014, p.4).

Como vantagem competitiva, o Brasil apresenta um importante cenário que propicia o desenvolvimento econômico, por ser um país em desenvolvimento e apresentar nichos de mercado inexplorado ou pouco explorado; e conter variedade de recursos naturais capazes de produzir gêneros únicos e apreciados no mundo inteiro. É a partir dessa visão que se pode analisar os índices de competitividade e alcance produtivo à luz do movimento empreendedor.
Ainda em desenvolvimento, o Brasil ainda é visto pela comunidade internacional como um país agrícola, destinado à produção de commodities e consumidor de produtos industrializados. Essa concepção sobre a imagem brasileira é ocasionada pela própria ação brasileira que não dirime deficiências internas como os problemas logísticos, que são mais evidentes no escoamento da produção agroindustrial nacional, e na interferência do governo na economia, gerando dúvidas e incertezas quanto a investimentos no país e a abertura de novos negócios, independente do ramo de atuação.
Nesse contexto, o desenvolvimento do Brasil, principalmente em momentos de crise, como a ocorrida em 2008, concentra-se, quase que exclusivamente, nas pequenas e médias propriedades rurais, quando se trata da produção agropecuária e da comercialização desse tipo de produto no mercado informal; e nas pequenas e médias empresas, formais e informais, como promotoras de empregos e geração de renda para a parcela da população com pouca instrução, dispensada das empresas de grande porte ou sem experiência comprovada. Nesse ponto, torna-se proeminente a natureza empreendedora do Brasil e sua capacidade de superar momentos de crise e dificuldades financeiras originadas fora do país, uma vez que o Brasil é extremamente suscetível às variações do mercado internacional.











2 Empreendedorismo



O empreendedorismo é uma importante ferramenta de promoção do emprego e renda para os indivíduos de uma sociedade, estando esta em momentos de crise ou não, e que os torna capazes de suprir suas necessidades básicas e secundárias, de maneira sustentável e digna.
Tema recorrente nas últimas décadas, o empreendedorismo passou a ser estudado com mais interesse como ferramenta, inclusive de empoderamento das classes mais baixas da sociedade, que geralmente apresenta baixos índices de escolaridade, pouco discernimento quanto ao próprio papel na economia e no exercício da cidadania e deficiências estruturais que impedem o desenvolvimento sustentável de negócios com nichos não explorados. Além disso, há ainda a faceta feminina do empreendedorismo, independente da classe social em que está inserida a mulher, e de como essa atuação tem impactado na formação de uma sociedade mais receptiva e menos machista bem como atuação feminina é capaz de promover o desenvolvimento de comunidades pequenas, quando se refere a pequenos negócios.
Embora pareça complexo, o empreendedorismo, em sua forma conceitual é apenas a contextualização científica de um movimento que não parou de ocorrer na humanidade desde o seu surgimento e que se modifica sempre que as organizações humanas necessitam adaptar-se a novos cenários, sejam econômicos, sociais ou políticos.   
É a partir dessa prática que surge o esteio para o desenvolvimento da política, do pensamento crítico-filosófico, da ciência e da tecnologia  - uma vez que é necessário o acúmulo de riquezas e as garantias que esta proporciona que o homem pode pensar e produzir aquilo que não é estritamente  essencial para a sua sobrevivência no curto, médio e longo prazo e o que permitiu, à luz do empreendedorismo não-econômico, o homem se adaptar as mais adversas condições climáticas e desfavoráveis do globo e manter as conquistas acumuladas ao longo da história como meio de promover seu sedentarismo físico e tecnológico.

2.1 Contexto histórico do empreendedorismo



Ao considerar as atividades humanas como sendo eventos que se originam da necessidade e do aproveitamento dos recursos, naturais ou não, renováveis ou não renováveis, pode-se concluir que elas foram fruto do desejo de mudar, por força da própria vontade ou das circunstâncias a que o homem estava exposto, desde a sua origem.
Sendo assim, embora o conceito de empreendedorismo seja moderno, ele reflete a ação do homem como uma entidade capaz de modificar o ambiente ao seu redor de modo a proporcionar condições para suprir as necessidades que surgem em suas organizações sociais. Essas necessidades, divididas em básicas e secundárias, em um primeiro momento, é o combustível para a inovação e o desenvolvimento da humanidade.
Ao longo da história, o desenvolvimento de atividades com resultados positivos, como o domínio do fogo, o domínio da tecnologia dos metais, aplicação do vapor e a busca por combustíveis fósseis e renováveis, que geraram a evolução social, tecnológica e científica da humanidade, desde a chamada pré-história, refletem aquilo que, a partir do século XX, convencionou-se denominar empreendedorismo.
Na segunda metade do século XX, o empreendedorismo passou a ser visto como um evento expansivo em que abarcava as dimensões: social, econômica, política e comportamental, permitindo ao homem caracterizar as atividades dos seus ancestrais como empreendedoras e caracterizar várias outras ações como empreendedoras e necessárias para o desenvolvimento da humanidade, seja em escala global, seja em escala local, em que as ações alcançam um pequeno número de indivíduos.
Os enfoques de maior destaque, no estudo sobre empreendedorismo, por estarem sendo utilizados com maior intensidade no campo científico, são: o econômico [...] e o comportamental [...]. De uma maneira geral, os economistas tendem a alinhar empreendedores com inovação, enquanto os comportamentais concentraram-se nas características criativas e intuitivas dos empreendedores. (PEREIRA, 2005, p.5)

Nas duas primeiras décadas do século XIX, o empreendedorismo passou a ser ainda mais importante devido à sua influência como criador de oportunidades de negócios e sociais capazes de desenvolver comunidades locais e internacionais, em face da troca de cultura e produtos provocados pela globalização.
Nesse período, a grave crise de 2008, que provocou o colapso da economia global e a crise econômica de diversos países na Europa, América e parte da Ásia, ressaltou a necessidade da aplicação do espírito empreendedor como ferramenta de superação da crise, em diferentes níveis, principalmente nos países mais afetados e que desenvolveram políticas de austeridade como meio de conter a perda de poder econômico.















2.2 Conceitos e definições do empreendedorismo



Para se compreender as razões que levam o empreendedorismo a assumir tal grau de importância, em momentos de crise econômica ou de simples evolução estrutural do homem, é preciso conhecer seus conceitos e definições de modo que não seja um mistério ou um empecilho ao seu livre exercício. Esse conhecimento básico, escasso em diversas comunidades e quase inacessível aos socialmente marginalizados, torna a atividade empreendedora, em suas dimensões aplicáveis, um desafio para o indivíduo que inicia uma atividade que requer o mínimo de conhecimento e que, como efeito imediato, tem-se, por exemplo, a falência de micro e pequenas empresas – embora não seja a única causa, é a principal delas.

2.2.1 O que é o empreendedorismo?



O empreendedorismo é, para Souza apud Gimenez et al (2000, p.10), “o estudo da criação e da administração de negócios novos, pequenos e familiares, e das características e problemas especiais dos empreendedores”. Além dessa definição, o empreendedorismo pode ser entendido como a aplicação eficiente da liderança, da identificação de oportunidades e a destreza para lidar com a criação de riquezas, seja econômica, social ou científica.
Nesse contexto, não se pode apenas restringir o empreendedorismo à criação de novas empresas, mas vê-lo como ferramenta propiciadora do crescimento do indivíduo ou de uma comunidade, de modo que o social, o político, o comportamental e o econômico interajam para a promoção de resultados positivos para os envolvidos direta e indiretamente.


2.2.2 O que é um empreendedor?



O empreendedor é um indivíduo que assume a responsabilidade pela criação ou aproveitamento de oportunidades no campo econômico, social, político ou comportamental.
No entanto, não se deve assumir que o empreendedorismo seja uma característica nata de alguns indivíduos. Conforme esclarece Pereira (2005, p.2) “O empreendedorismo é tido como um comportamento ou um processo para iniciar e desenvolver um negócio ou um conjunto de atividades com resultados positivos, portanto, é a criação de valor através do desenvolvimento de uma organização.”

2.2.3 Perfil do empreendedor



Embora não seja uma característica nata de um grupo de indivíduos ou de determinadas instituições, o empreendedorismo apresenta necessidades essenciais para o seu desenvolvimento e que configuram o que se denomina perfil do empreendedor, que são qualidades que um indivíduo precisa desenvolver para conseguir resultados positivos em seus esforços empreendedores.
• Comprometimento e determinação: são decididos, persistentes, disciplinados, dispostos ao sacrifício e a mergulharem totalmente em seus empreendimentos.
• Liderança: são iniciadores, formadores de equipe, aprendizes e professores.
• Obsessão por oportunidades: possuem conhecimento íntimo das necessidades dos consumidores, são orientados pelo mercado e obcecados por criação de valor e aperfeiçoamento.
• Tolerância ao risco, ambiguidade e incerteza: são tomadores de risco calculados, minimiza dores, tolerantes ao estresse e são dispostos a resolver problemas.
• Criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação: possuem a mente aberta, são impacientes com o status quo, aptos a aprender rapidamente, altamente adaptáveis, criativos, habilitados para a conceituação e atentos aos detalhes.
• Motivação para a excelência: possuem orientação clara para resultados, estabelecem metas ambiciosas, mas realistas, possuem forte direcionamento para descobrir, saber seus próprios pontos fracos e fortes e focalizam mais o que pode ser feito do que as razões por que as coisas não podem ser feitas.” (BATEMAN & SNELLl, 1998, pag. 211).

Embora essas qualidades formem o perfil do empreendedor, há que se considerar outras características que compõem o caráter empreendedor de um indivíduo e que está intrinsecamente ligado à formação sociocultural do indivíduo.
• Ter iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização.
• Trabalha sozinho, tem perseverança e tenacidade.
• O fracasso é considerado um resultado como outro qualquer. O empreendedor aprende com resultados negativos, com os próprios erros.
• Tem grande energia. É um trabalhador incansável. Ele é capaz de se dedicar intensamente ao trabalho e sabe concentrar aos seus esforços para alcançar resultados.
• Saber fixar metas e alcançá-las. Luta contra padrões impostos. Diferenciar-se. Tem a capacidade de ocupar um espaço não ocupado por outros mercados, descobrir nichos.
• Tem forte intuição. Tem sempre alto comprometimento e crê no que faz.
• Cria situações para obter feedback sobre o seu comportamento e sabe utilizar tais informações para o seu aprimoramento. • Sabe buscar, utilizar e controlar recursos.
• É sonhador realista. Embora racional, usa também a parte direita do celebro.
• É líder, cria um sistema próprio com seus empregados.
• É orientado para resultados, para o futuro, para o longo prazo.
• Mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negócios.
• Tem alta tolerância à ambiguidade e a incerteza e, é hábil em definir a partir do indefinido.
• Cria um método próprio de aprendizagem. Aprende a partir do que faz emoção e afeto dão determinantes para explicar o seu interesse. Aprende indefinidamente.
• Traduz seus pensamentos em ações. Tece relações (contatos, amizades) moderadas, mas utilizada do intensamente como suporte para alcançar seus objetivos... “(DOLABELA, 1999, pp. 37 e 38)”.








2.3 Empreendedorismo e política



O papel da política nas práticas empreendedoras está ligado às ações dos governos através da política fiscal e da criação ou diminuição de instrumentos burocráticos para a formação, regulação e fiscalização de atividades ligadas à exploração econômica ou de fiscalização e regularização de atividades sem fins lucrativos.
A política adotada por um governo pode, em diferentes graus, dirimir os empecilhos criados pelo processo de globalização no estreitamento das barreiras à empresas em determinados nichos de mercado através da proteção às empresas nacionais de modo que estas possam sobreviver à ação de grandes empresas estrangeiras ou promover a livre iniciativa, retirando os empreendedores do mercado informal e desenvolvendo políticas de acesso ao crédito.
Embora apresente pontos positivos, a interferência política no mercado gera incertezas e questionamentos que derivam em fuga do capital investido no país ou insegurança e falta de confiança dos próprios cidadãos nas ações governamentais. É a política econômica adotada por cada país e como essa política influência, principalmente o mercado interno, que deve ser objeto de apreciação do empreendedor, uma vez que ele será o gerador de emprego e renda não apenas pra si, mas toda uma cadeia produtiva do qual o negócio desenvolvido por ele faz parte.
Deve-se atentar, no entanto, que o empreendedorismo não está atrelado à política ou ao governo, em qualquer de suas esferas. Mas influencia e é por eles influenciado à medida que o negócio cresce e necessita de aporte para aprimorar seus produtos e serviços, expandir unidades fabris, comprar ou desenvolver tecnologia e transformar todas as ações em atividades lucrativas, na geração de empregos diretos e indiretos.



2.4 O papel do empreendedorismo na formação de pequenas e médias empresas



Haja vista a política econômica adotada por um governo, o empreendedorismo é responsável pelo surgimento de pequenas e médias empresas. É o empreendedor quem idealiza, cria e estrutura uma empresa para explorar determinados nichos de mercado de modo a aproveitar as oportunidades que se originam na dinâmica econômica do mercado.
Através da ação empreendedora dos indivíduos é possível movimentar a economia de um país, mesmo em épocas críticas, através da ação de pequenas e médias empresas, não obstante os altos índices de falência desse tipo de empreendimento. Para o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP apud GEM (2014, p. 7), “os empreendedores nascentes e novos são considerados empregadores iniciais ou em estágio inicial”. Essa característica proporciona a comunidades locais a oportunidade de manutenção da própria economia, muitas vezes independente da ação governamental ou das flutuações de mercado, por comercializar ou oferecer serviços que não são passíveis de consequências de ações externas, por apresentarem características peculiares, por motivo da matéria-prima utilizada ou do público-alvo consumidor.
Para a formação de pequenas e médias empresas e sua sobrevivência, o empreendedor não é apenas o agente que origina, mas é também o principal ator na promoção da sustentabilidade desse tipo de empreendimento. São as características do empreendedor, que formam o que se convencionou denominar de perfil do empreendedor, que garante a sobrevivência do empreendimento e a contínua geração de emprego e renda do empreendimento.
As características empreendedoras, que originam novos negócios, são as responsáveis pela manutenção da ordem econômica uma vez que permitem que os indivíduos, trabalhadores, promovam a manutenção das necessidades básicas do núcleo familiar a que pertencem, a despeito do índice de mortalidade das pequenas e médias empresas (SOUZA, 2005, p. 2).

2.5 Empreendedorismo nas empresas familiares



A formação de empresas familiares pode ser considerada um exemplo clássico da prática empreendedora porque é através de empreendimentos familiares que se originam pequenas e médias empresas voltadas para o mercado consumidor local, tendo em vista a sede da empresa. Embora possua características peculiares relativas à gestão, inovação e administração de recursos, as empresas familiares são responsáveis pela propagação do espírito empreendedor na geração fundadora da empresa e nas subsequentes, através do processo de sucessão.
Ainda mais acentuado em empresas familiares, o empreendedorismo exige que o núcleo familiar desenvolva as características natas do perfil empreendedor e que são necessárias para a sobrevivência do empreendimento.
Esse tipo de prática empreendedora, que se configura na gênese da dinâmica mercantilista, merece o fomento do poder público e o incentivo através de uma política educacional em que a formação do proprietário e dos funcionários sejam objetos de programas que visem a capacitação e o aperfeiçoamento intelectual e técnica dos indivíduos.
A análise das condições de surgimento e de desenvolvimento das empresas familiares, à luz do empreendedorismo, reflete as necessidades prementes do empresariado majoritário, uma vez que as empresas familiares são responsáveis pelo volume de empresas registradas, quando se trata do Brasil, e permite avaliar a eficiência das empresas enquanto promotoras do desenvolvimento econômico e social da localidade e do mercado nacional.
De modo direto, o empreendedorismo é o pilar das empresas familiares, que se tornam, por definição e legalização, pequenas e médias, e promove o desenvolvimento local, regional e nacional. É, portanto, o fator primordial para o crescimento e evolução dos indivíduos e das comunidades que formam a rede de economias que sustentam o sistema econômico de um país.

2.6 Empreendedorismo feminino



O papel da mulher na atividade empreendedora é objeto de estudo e preocupação no estabelecimento de políticas públicas de valorização do trabalho feminino.

O empreendedorismo feminino está em evidência, por conta do processo de feminização do mercado de trabalho, e ocorre assim um aumento gradativo de empreendimentos organizados por mulheres, tornando-se cada vez mais importante conhecer sua importância no cenário econômico, e primordialmente as razões que as mulheres têm para empreender e ainda revelar uma parcela das particularidades do empreendedorismo feminino, destacando a trajetória da mulher no mercado de trabalho, setores de empreendimento, gestão feminina e consequências para a sociedade, segmentando por necessidade e/ou oportunidade. (AMORIM & BATISTA, 2011, p.1)

Deve-se ressaltar, haja vista os preconceitos sofridos pelas mulheres no ambiente de trabalho, que a atividade empreendedora é uma atividade não exclusiva de gênero em que tanto homens quanto mulheres podem praticar. Para realizar o empreendedorismo é necessário apenas que o indivíduo, homem ou mulher, aceite os riscos inerentes da atividade e seja respeitado enquanto promotor de emprego e renda e como ser humano.
A atuação das mulheres, no entanto, merece destaque devido o fato de que elas representam a maioria dos empreendedores iniciantes (GEM 2009, p. 56).

As mulheres, de maneira geral, possuem como característica natural maior sensibilidade, maior empatia, comprometimento, vontade de ajudar. Essas são algumas das características que auxiliam uma mulher a se tornar uma empreendedora de sucesso na área de serviços por exemplo. Nesse setor essas características facilitam o trabalho que requer facilidade de relacionamento (com clientes, colaboradores, comunidades, etc.), possibilitando um desenvolvimento diferenciado e inovador (AMORIM & BATISTA, 2011, p.1).

O empreendedorismo feminino não pode tornar-se rótulo, ainda que sob a égide da criação de políticas públicas para o incentivo e o empoderamento da mulher como empreendedora.  Mas só existe devido a desigualdade existente entre homens e mulheres no mercado de trabalho. É, também, fonte de riquezas e de diminuição de situações críticas relativas ao convívio da mulher em seu próprio lar e na comunidade em que reside.

Normalmente, um empreendimento feminino gera apenas o próprio emprego e/ou o emprego de familiares, porém pode gerar, quando o empreendimento tem sucesso , duas frentes de trabalho, pois a empreendedora necessita também de um empregado doméstico, para auxiliá-la nas atividades do lar, mesmo diante de tantas conquistas a mulher nunca será dispensável dessa responsabilidade.
[...]Como contribuição à sociedade o empreendedorismo feminino atua na geração de empregos, expandindo a economia, proporcionando a realização de um trabalho que sustente seu crescimento pessoal, profissional e financeiro(AMORIM & BATISTA, 2011, p.11)
. 

É preciso enxergar o empreendimento feminino não como uma ferramenta geradora de igualdade apenas, mas também dar-lhe igualdade em toda a plenitude dessa palavra de modo que se possa promover a mulher como participante válida e cidadã da economia e do contexto social em que está inserida.









2.7 O empreendedorismo como prática empoderadora



Quando o empreendedorismo gera como resultado emprego e renda para o empreendedor e para todos os que dependem dele há a manutenção das necessidades básicas de todos os indivíduos envolvidos e a promoção da autossuficiência econômica e social desses indivíduos. Isso promove a autoestima e o senso de dever cumprido e de responsabilidade, que somente é possível através do trabalho e do esforço próprio.
Nesse contexto, os atores envolvidos com o empreendimento, direta e indiretamente, deixam de depender de políticas públicas que visam a distribuição de renda e passam a ser agentes do desenvolvimento local, uma vez que seu poder aquisitivo contribui para o crescimento econômico local e, consequentemente, nacional. Essa capacidade de sustentar-se confere poder ao indivíduo e permite-lhe ter outra visão acerca de si.
Para as mulheres, ainda mais importante devido à cultura machista que se desenvolve no mercado de trabalho, o empreendedorismo permite que elas tornem-se agentes de seu próprio crescimento, uma vez que passa a não depender de outra pessoa para sobreviver.
O empreendedorismo empodera quem o promove à medida que torna o próprio indivíduo agente do desenvolvimento social, politico e econômico no cenário local, com reflexos regionais e nacionais.






2.8 Empreendedorismo e Inovação



O empreendedorismo é, por si só, a criação do novo a partir de algo pré-existente ou do aproveitamento eficiente de um nicho de mercado ou de oportunidade disponível. É uma expressão do próprio conceito de inovação.

[...] o processo de inovação começa com uma ação concreta de um indivíduo empreendedor, cujos atributos podem ser classificados em quatro conjuntos: desejos, aptidões, temperamento e ativos (suas aptidões e não apenas seu currículo). [...] As aptidões referem-se àquelas habilidades naturais do indivíduo, normalmente associadas às tarefas realizadas com facilidade. O temperamento é um atributo que se refere, principalmente, à forma como são explicitadas as reações diante de situações e de pessoas. Os ativos constituem as experiências, características, áreas de especialização ou patrimônio que podem prover vantagem do empreendedor sobre outras pessoas; a maioria dos ativos é decorrente do exercício das aptidões, tendo seu valor, cada vez mais, dependente das situações e, por isso, aumenta a necessidade de conhecimento dos comportamentos do cliente para o desenvolvimento de ativos de maior valor (SOUZA, 2005,p.7).

Desse é preciso entender o empreendedorismo não apenas como a criação de um negócio ou como algo que só ocorre em grandes empresas ou em países desenvolvidos. É preciso aceitar que o processo de inovação que dá origem ao empreendedorismo pode ocorrer tanto dentro de uma empresa já estabelecida como também no processo de fundar e estruturar uma empresa.

No entanto, a concepção de inovação permite ao menos duas variantes: as chamadas inovações radicais e as inovações incrementais. Observa-se que as formas liberais de capitalismo criam condições institucionais para as inovações radicais, enquanto formas coordenadas estimulam o desenvolvimento de inovações incrementais[...]. As primeiras estariam relacionadas aos fast-moving technology sectors, tais como a biotecnologia, semicondutores, softwares, vinculando-se, ainda, ao suprimento de outros setores como telecomunicações, defesa e lazer, por exemplo. Neste caso, as empresas assumem mais riscos ao lançarem novos produtos com rápida implementação, sendo o preço um aspecto fundamental da estratégia competitiva ao se lançar produtos diferenciados. As inovações incrementais, por outro lado, estariam relacionadas à produção de bens de capital, bens de consumo duráveis, artefatos e equipamentos de transporte. Neste caso, busca-se a introdução de inovações que aperfeiçoem a qualidade de uma linha de produção já estabelecida, de modo a garantir a lealdade do consumidor, além de assegurar a redução progressiva dos custos[...]( ÉSTHER, 2014, pp.8-9)

Através, portanto, da disseminação do conhecimento produzido e adquirido pela cultura empreendedora que se pode vislumbrar a dimensão do processo inovador que dá origem ao empreendedorismo, seja considerando um ato empreendedor pequeno, médio ou grande.

[...] o desenvolvimento de uma consciência para a formação de pessoas disseminadoras da inovação, característica básica para a formação de empreendedores. Além disso, essa autora destaca que a pró-atividade, a criticidade, a criatividade, a liderança, a visão de futuro e a independência são características fundamentais para a formação de empreendedores no mundo moderno (SOUZA, 2005,p.7).

A partir dessa concepção, o empreendedorismo deixa de ser apenas gerador de riquezas monetárias e passa também a ser promotor de ciência, tecnologia e cultura. Essa noção, no entanto, requer estudo, aplicação e reflexão por parte do empreendedor e do aplicador de políticas públicas de modo que se possa estabelecer parâmetros que proporcionem o real crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável dos negócios e dos indivíduos envolvidos direta e indiretamente no processo empreendedor.








3 Empreendedorismo no Brasil



O empreendedorismo no Brasil é monitorado pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade através do Global Entrepreneurship Monitor – GEM -, de modo que o panorama e a evolução da atividade empreendedora é analisada sob a perspectiva da detecção de oportunidades, propiciando a criação de políticas essenciais para o desenvolvimento da atividade.
O Global Entrepreneurship Monitor apresenta como diferencial, em relação a outros estudos sobre empreendedorismo:
· Levantamento de dados a partir de fontes primárias, ou seja, com os indivíduos envolvidos e não com as empresas, o que permite obter conclusões baseadas nos indivíduos empreendedores e em seus empreendimentos (GEM, 2014, p. 7);
· Utilização de um conceito amplo de empreendedorismo, que envolve empreendedores formais e informais (GEM, 2014, p. 7).

É importante ressaltar que o GEM utiliza um corpo conceitual próprio, com recortes que não vão obrigatoriamente coincidir com informações sobre empreendedorismo disponíveis em outras fontes, principalmente quanto se trata de registros administrativos. As comparações com outras fontes são possíveis, mas não sem antes estabelecer as equivalências com conceitos e medidas adotados pelas diversas pesquisas(GEM, 2014, p. 7).

Os dados que doravante serão apresentados foram extraídos desse estudo e visam apresentar o potencial do Brasil no cenário do empreendedorismo e de como as políticas podem ser facilitadoras da atividade empreendedora através do conhecimento sobre a realidade do empreendedor brasileiro e seus desafios peculiares à política e ao mercado brasileiro.



3.1 Evolução do empreendedorismo no Brasil



Em 2008, o Brasil ocupava a 13ª posição no ranking mundial de empreendedorismo segundo o Global Entrepreneurship Monitor, com uma taxa de empreendimentos iniciais de 12,02%. Essa taxa de empreendimentos iniciais posicionava o Brasil como um país acima da média dos países observados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2008, p.25).

A TEA média brasileira de 2001 a 2008 é de 12,72% contra uma TEA média dos demais países GEM de apenas 7,25%. Isso reforça que o Brasil é um país de alta capacidade empreendedora e que na média entre 2001 e 2008 o brasileiro é 75,58% mais empreendedor que os outros (GEM, 2008, p.27).

Em 2014 a taxa de empreendedores iniciais foi de 17,2%, um aumento de 143,09% em relação a 2008. A taxa de empreendimentos iniciais apresentadas em 2014 foi semelhante a de 2013, com 17,3%. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor, a taxa de empreendimentos iniciais apresentadas no ano de 2014 indica:
·        Crescimento constante da taxa de empreendedores novos desde 2012;
·        Aumento de 1,2 pontos percentuais entre 2013 e 2014;
·        Baixa participação de empreendedores nascentes, que foi reduzida entre os anos de 2013 e 2014.
A taxa de empreendedores iniciais indica como o país reflete a valorização e o incentivo das políticas desenvolvidas no país e que promovem o empreendedorismo. Os dados do Global Entrepreneurship Monitor indica uma situação preocupante com relação aos empreendedores nascentes, que são aqueles que estão iniciando novos negócios, porque a retração na taxa desses empreendedores pode indicar, em longo prazo, que existem barreiras que precisam ser sobrepujadas, como a confiança na política fiscal e a dificuldade burocrática em se abrir novas empresas, para que o país consiga retomar o crescimento dessa taxa e, consequentemente, retomar o crescimento econômico nacional.

3.2 Demografia da atividade empreendedora no Brasil



Quando se trata de empreendedorismo, não se pode menosprezar a influência da geração que dá origem ao negócio. Esse fator é de extrema importância porque reflete o quão aberto à inovação e à aplicação de tecnologias para a melhoria de produtos e processos produtivos será o empreendimento. No Brasil, segundo o Global Entrepreneurship Monitor, a taxa de atuação do jovem no empreendedorismo, entre os anos de 2001 e 2008, foi de 11,9%, ou seja, menos de um terço dos empreendedores brasileiros.

A taxa de empreendedorismo na faixa etária de 55 a 64 anos em 2008 é de 3%, inferior à média do período 2001-2008 (5,5%). O adulto de meia-idade, que em 2001 representava 10,5% dos empreendedores brasileiros, hoje representa somente 3,4%. Quais os fatores determinantes nessa mudança demográfica do empreendedor brasileiro? Por falta de empregos formais na atividade econômica o jovem busca no empreendedorismo uma alternativa de trabalho e renda. A mulher continua com sua participação na complementação da renda familiar.  Em relação ao grupo de faixa etária mais avançada (54-64 anos), um fato importante é a tendência à universalização da previdência social, que garante sua sobrevivência (GEM, 2008, pp.91-92).

Em relação à atuação do jovem no empreendedorismo, as razões que levam à baixa participação no cenário empreendedor pode-se citar, de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor:
· Envelhecimento populacional;
· Menores taxas de fecundidade;
· Maior expectativa de vida.
A participação dos jovens na atividade empreendedora levanta a questão da renovação e da necessidade do surgimento de novos empreendimentos aptos a aproveitar os nichos de mercado disponíveis e as potencialidades que surgem com as novas realidades que surgem com o avanço e a popularização da tecnologia.

3.3 A inovação nos empreendimentos brasileiros



Fator de extrema importância para os novos negócios e para empreendimentos que visem a sustentabilidade no longo prazo, inovação pode ser considerada o pilar do empreendimento e que requer o fomento de políticas modernas nas relações de trabalho e nos meios de produção ou de oferecimento de serviços.
Partindo desse ponto, os empreendedores podem ser classificados, segundo o Global Entrepreneurship Monitor, como empreendedor Não-inovador, Inovador e com capacidade de inovação intermediária.
Características do empreendedor Não-inovador:

·      Não se considera novos conhecimentos sobre o produto/serviço;
·      Enfrenta muitos concorrentes;
·      Utiliza tecnologias e processos com mais de cinco anos;
·      Não possui, nem almeja, consumidores externo, para exportação;
·      É capaz de criar até cinco empregos.

Características do empreendedor com capacidade de inovação intermediária:

·      Possui seletividade para a inovação de alguns produtos;
·      Enfrenta poucos concorrentes;
·      Utiliza tecnologias e processos com idade entre um e cinco anos;
·      Possui até 50% de consumidores externos;
·      É capaz de criar até cinco a vinte empregos.


Características do empreendedor inovador:

·      Busca novos conhecimentos sobre todos os produtos/serviços;
·      Não enfrenta concorrentes;
·      Utiliza tecnologias e processos com menos de um ano;
·      Possui mais de 50% de consumidores externo, para exportação;
·      É capaz de criar mais de vinte empregos.

Não é impossível admitir que os empreendedores mais desejados são aqueles inovadores por permitem ao mercado a inovação nos produtos e que, por si só, incentivam a exportação dos produtos nacionais e incentivam a inovação em toda a cadeia produtiva em que estão inseridos. 
Entretanto, não se pode esperar que todo empreendedor seja inovador, uma vez que o próprio indivíduo é mutante em suas concepções e pode, em determinadas épocas de sua vida, refletir no empreendimento, principalmente quando se trata de pequenas e médias empresas familiares, características dos três tipos de empreendedor.
O Brasil é um dos últimos do ranking dos países com empreendimentos inovadores. Os segmentos de empreendedores com potencial de inovação merecem um olhar atento para as suas potencialidades, buscando-se colocar à disposição desses empreendedores informações técnicas e sobre mercado, fomentar a colaboração e as parcerias entre os produtores e dos produtores com fornecedores e clientes, incentivar as aglomerações de empresas, criar programas de melhorias de qualidade e produtividade e ampliar as possibilidades do mercado nacional e internacional por meio do estímulo a feiras, viagens internacionais e visita de técnicos especializados. Esse empreendedor, com o apoio de ações reguladoras e estimuladoras e de colaboração, tem condições de assumir e fazer prosperar o seu empreendimento. As políticas voltadas para os empreendedores inovadores, que desenvolvem inovações radicais, devem estar vinculadas à formação de incubadoras tecnológicas, ao aprofundamento da relação universidade-empresa, à criação de laboratórios de pesquisa, à formação de pesquisadores e grupos de pesquisa e ao financiamento ao capital de risco, entre outras ações (GEM, 2008, p72).

Essa variação no comportamento e na atuação do indivíduo enquanto empreendedor explica a colocação do Brasil no ranking dos países empreendedores.

3.4 Características específicas do empreendedorismo brasileiro



A análise das especificidades do empreendedorismo brasileiro permite vislumbrar com nitidez cenário empreendedor nacional, considerando as peculiaridades existentes no Brasil quanto a gênero, faixa etária, faixa de renda e empreendedores em estágio inicial e estabelecidos.
O estudo sobre os aspectos relativos aos empreendedores servem, principalmente, para entender a dinâmica da abertura e falência de empreendimentos, as vicissitudes inerentes a cada empresa e seu respectivo nicho e para entender como pensa os diferentes grupos de empreendedores. Esse conhecimento facilita a criação de políticas e programas públicos para o incentivo e incremento de novos empreendimentos no mercado nacional, visando a promoção do desenvolvimento econômico sustentável nacional.
Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (2014, p.11), em relação ao empreendedorismo inicial:

·        Existe igualdade na atividade empreendedora entre homens e mulheres;
·        Indivíduos entre 25 e 34 anos são mais ativos em termos de atividade empreendedora inicial;
·        Indivíduos entre 55 e 64 anos são menos ativos em termos de atividade empreendedora inicial;
·        Indivíduos com escolaridade entre o primeiro grau incompleto e o nível superior são igualmente ativos na atividade empreendedora inicial;
·        Indivíduos com escolaridade inferior ao primeiro grau incompleto são menos ativos na atividade empreendedora inicial;
·        Indivíduos com renda familiar acima de três salários mínimos apresentam maior atividade de empreendedorismo inicial;


Em relação ao empreendedorismo estabelecido:

·      Os homens são mais ativos que as mulheres;
·      Indivíduos entre 45 e 54 anos são mais ativos na atividade empreendedora;
·      Indivíduos entre 18 e 24 anos são menos ativos na atividade empreendedora;
·      Indivíduos com escolaridade até o segundo grau incompleto são mais ativos;
·                      Indivíduos com escolaridade superior ao segundo grau completo apresentam menor atividade no empreendedorismo estabelecido;
·                      Indivíduos com renda familiar acima de seis salários mínimos apresentam maior atividade empreendedora no estágio estabelecido.

3.4.1 Características sociodemográficas dos empreendedores brasileiros



Em 2014, segundo o Global Entrepreneurship Monitor (2014, p.11), estimou-se a quantidade de empreendedores no Brasil em 46 milhões, divididos igualmente entre empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos.
Conforme os dados apresentados pelo Global Entrepreneurship Monitor (2014, p.11), dos 23 milhões de empreendedores em estágio inicial:         
· 49% são homens e 51% são mulheres;
· 53% tem de 18 a 34 anos 
· 40% tem de 35 a 54 anos
· 8% tem de 55 a 64 anos;  
· 50% tem escolaridade de segundo grau completo ou acima;          
· 41% possuem renda familiar maior que 3 salários mínimos;           
· 62% são casados ou vivem em união estável; e        
· 51% são brancos. 
Dos 23 milhões de empreendedores em estágio estabelecido:
· 55% são homens e 45% são mulheres;
· 24% tem de 18 a 34 anos
· 58% tem de 35 a 54 anos
· 17% tem de 55 a 64 anos;
· 42% tem escolaridade de segundo grau completo ou acima;          
· 43% possuem renda familiar maior que 3 salários mínimos;           
· 63% são casados ou vivem em união estável; e        
· 54% são brancos.  

A análise dos dados do Global Entrepreneurship Monitor revelam a importância de política públicas para o fortalecimento do empreendedorismo feminino e para a criação da cultura cultivo do conhecimento em gestão de negócios, políticas de recursos humanos e gestão da produção.
Com 45% de participação em negócios estabelecidos e 51% de participação no estabelecimento de novos negócios, as mulheres brasileiras refletem questões sociais crônicas ligadas à autossuficiência, própria e familiar, e a necessidade de afirmação no mercado de trabalho através da criação de oportunidades ao criar empresas ou negócios, formais e informais.
O grau de escolaridade também é fator determinante para o sucesso do novo negócio, que se torna estabelecido ao longo do tempo. Como apontado pelo Global Entrepreneurship Monitor, em 2014, 50% dos empreendedores iniciais possuem o segundo grau completo ou mais. A escolaridade pode refletir o fator inovação, tão essencial para a modernização da empresa e das políticas internas aplicáveis, uma vez que o indivíduo mais escolarizado é mais propenso a aceitar, desenvolver e/ou adquirir tecnologias que sejam aplicáveis às relações pessoais de trabalho e ao método de produção, promovendo o aumento da lucratividade a empresa e do seu tempo de vida.

3.5 Características dos empreendimentos brasileiros



O Global Entrepreneurship Monitor (2014, p. 12) reafirmou a tendência do brasileiro de estabelecer negócios em áreas incompatíveis com a natureza do negócio. Embora não seja uma afirmação que abarque todos os negócios, devido as exceções, descreve genericamente como o empreendedor brasileiro decide onde estabelecer seu empreendimento. Uma das causas para esse erro é a acomodação, que faz com que novos negócios surjam no mesmo imóvel em que reside o empreendedor, por ser cômodo, a despeito de haver ou não clientes em potencial nas proximidades.
As estatísticas do Global Entrepreneurship Monitor (2014, pp.12 e 13) sobre os empreendimentos brasileiros expressam:
·        22% dos empreendedores iniciais consideram seus produtos novos para praticamente todo o mercado;
·        15,8% dos empreendedores estabelecidos consideram seus produtos inovadores para o mercado;
·        A diferença entre empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos concernentes à aceitação de concorrentes é de 8,9%;
·        Empreendedores iniciais utilizam tecnologia inovadora com mais frequência que os empreendedores estabelecidos, a uma taxa de diferença entre eles de 1,5%.
·        A diferença entre empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos concernente a clientes no mercado externo, pelo menos 1%, é de apenas 0,3%.
·        Empreendedores iniciais possuem mais empregados que empreendedores estabelecidos.
·        Empreendedores iniciais possuem mais expectativa de gerar pelo menos um emprego, no prazo de cinco anos.

Embora os dados sobre o empreendedorismo no Brasil sejam bons, eles não representam grandes expectativas no longo prazo devido a fatores burocráticos, logísticos e culturais do povo brasileiro, que geram desânimo e enfraquecimento, com consequente endividamento dos indivíduos envolvidos no empreendimento, seja, em maior grau, o proprietário, seja, em menor grau, os empregados que do empreendimento dependem.
Para o Global Entrepreneurship Monitor (2014, p.16) afirma que

A disseminação da cultura empreendedora e a aceitação do empreendedorismo pela população contribuíram para as avaliações positivas do fator “capacidade empreendedora” à medida que aproxima o empreendedorismo do cotidiano da população. Por outro lado, a baixa escolaridade e a falta de foco no empreendedorismo como alternativa de carreira profissional explicam a opinião dos especialistas ao escolher este fator também como limitante. Ainda há na opinião dos especialistas falta de planejamento e deficiência na gestão dos empreendimentos, os quais acabam fechando suas portas nos primeiros anos de atividade ou se mantêm em operação, mas em potencial de crescimento (GEM, 2014, p.16).


A partir dos dados fornecidos pelo Global Entrepreneurship Monitor, aliados com o conhecimento empírico da lida de negócios em estágio inicial e em estágio estabelecidos, é possível vislumbrar como e por quê o Brasil apresenta oscilações em relação ao ranking mundial de empreendedorismo, cuja reflexão leva-se em consideração aspectos políticos, econômicos, educacionais e estruturais dos meios de transportes, mostrando como diferentes setores da sociedade interferem no sucesso ou fracasso de um empreendimento, uma vez que este reflete a individualidade, necessidades e aspirações de um ou mais indivíduo.





CONSIDERAÇÕES FINAIS



O empreendedorismo no Brasil enfrenta diversos problemas, como logísticos, de gestão e de operação, que são gerados, na maioria dos casos, pela falta de conhecimento dos empreendedores. Esse desconhecimento acerca do panorama político e econômico nacional é reflexo da cultura de baixa instrução dos indivíduos que pretendem abrir novos negócios.
O papel da mulher no cenário econômico oriundo da abertura de novos empreendimentos precisa ser objeto de interesse não apenas dos gestores públicos como também da grade curricular dos cursos básicos e superiores de modo que se origine uma nova cultura de valorização e empoderamento da mulher no ambiente de trabalho, principalmente quando esta é a proprietária.
O grau de inovação, seja na promoção de uma cultura de valorização do indivíduo ou nos processos de produção e de gestão, precisa ser levado em consideração em novos empreendimentos e em empreendimentos já estabelecidos de modo a garantir o desenvolvimento local, regional e nacional.
Do ponto de vista do empreendedorismo, a sociedade e o país não podem ser reduzidos a cifras, uma vez que o próprio movimento empreendedor vai muito além do crescimento econômico. No caso do Brasil, o empreendedorismo ainda é bem pouco empregado nas regiões em que há deficiências estruturais na educação, a despeito dos potenciais econômicos a serem explorados como no ecoturismo, turismo e nos novos nichos de mercado em pequenas cidades no interior do Brasil.
Os problemas logísticos ainda são os principais empecilhos que atravancam o desenvolvimento sustentável nacional e a popularização empreendedorismo servirá de base para a detecção de novas oportunidades e a exploração sustentável dessas oportunidades.



REFERÊNCIAS


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