Do meu quarto ouvi a fuzilaria
Madrugada passada o silêncio banal de uns apartamentos, os gemidos de outros e o sono de alguns honrados cidadãos de tantos outros cubículos do cortiço Eucaliptos (ou Eucalyptus, eles ainda não se decidiram) foram interrompidos por uma discussão doméstica ao pé de um dos prédios.
Uma mãe que literalmente pôs a filha sobre os ombros, e depois foi ao chão junto com ela, para que esta não fosse se encontrar com um tal de "ele".
E como era de praxe, colocaram o deus dos hebreus no meio da briga e um tal de pelamordedeus para evitar que ela e " ele" se juntassem mais uma vez.
Cá para nós - nem Deus pode dormir com esse pessoal chamando por ele toda hora e por qualquer banal motivo. E olhe que Ele proibiu dos seus fiéis chamá-lo em vão, já prevendo a chateação. Só que parece que não deu muito certo.
Daí a pouco "ele" chega, a mãe grita mais e a filha insiste e persiste na ideia fixa até conseguir concretizá-la.
E vai embora, madrugada afora, com vários desejos, palavras e vontades na boca.
A mulher mais velha, a mãe, acompanha até a portaria. E vendo que mais nada pode fazer, volta para seu cubículo (que as empreiteiras chamam de apartamento).
Os incomodados ficam acordados, ora!
E enquanto a baixaria rolava solta, reverberando pelo corredor de prédios, lembrei-me de um poema muito querido do Drummond - Necrológio dos Desiludidos do Amor.
Madrugada passada "do meu quarto ouço a fuzilaria. As amadas torcem-se gozo. Oh quanta matéria para os jornais.
A vida anda realçando a arte, fazendo poemas.
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