Vamos falar sobre essas férias (greve)

Em 2012 a promessa era de o mundo acabar em várias catástrofes onde todo o conhecimento, o avanço tecnológico e cultural da humanidade seriam dizimados, junto com toda a espécie humana. Isso, para decepção de alguns poucos pessimistas e fatalistas, não aconteceu. A Segunda Vinda também não e a Igreja (independente da denominação) pôde dormir em paz sabendo que seus pecados estariam, por mais algum tempo, seguros da terrível ira/justiça divina - que parece não saber tudo, segundo dizem nos púlpitos. O que ocorreu, e de forma desastrosa, foi uma greve nas Universidades e Institutos Federais - como sempre exigindo uma autonomia, um reajuste salarial e, em último tópico, melhoria na infraestrutura. 
Meses depois o Governo Federal calou os docentes com uma porcentagem diminuta, parcelada e um chute na bunda para voltar ao trabalho - sem barulho e feliz pela migalha. Foi nessa ocasião que o Andes-SN sofreu uma cisão e surgiu outro sindicato. Igual ao primeiro, mas disposto a ceder sempre que o Governo exigir.
Em 2014 não havia nenhuma tragédia anunciada e, no entanto, só a Academia Brasileira de Letras perdeu mais imortais que a década passada toda. E entre eles o imortal baiano João Ubaldo Ribeiro - uma perda muito grande para a nossa literatura (que bom que ele é imortal e será vivificado sempre que alguém ler seus livros). E logo no início do ano os desocupados de plantão, sustentados pelos cofres públicos e provedores de serviços públicos de baixa qualidade, e que vulgarmente chamamos de professores, começaram com a conversa de greve. Por sorte, nem todos os docentes são vadios e a maioria, em quase todas as Universidades, rechaçaram veementemente essa conversa de "direitos salariais, autonomia e infraestrutura". A única exceção foi a Universidade Federal de Sergipe onde os docentes ansiavam para assistir aos jogos da Copa do Mundo na Arena Fonte Nova, em Salvador, ou na do Recife. A Minoria ganhou porque a maioria, como sempre, não foi votar contra. E parece que essa greve exclusiva da UFS deu azar para a seleção brasileira. E tão rápido como entrou, saiu. Sem vitória, sem migalhas percentuais e com o descaramento típico assim que o Brasil perdeu para a Alemanha. No outro dia, pós-derrota no mundial, a UFS já estava com as aulas normalizadas e os grevistas, "com o rabo entre as pernas" - como bem gostava de escrever aquele outro baiano, Jorge Amado-, mais sérios que nunca, pedindo ordem nas chacotas espalhadas de boca em boca nos corredores da Universidade. Foi uma piada que os alunos tiveram que arcar com o ônus.
Agora, em 2015, a conversa de greve voltou e dessa vez trouxe atitude. Trouxe, de novo, a greve. A UFS, uma vendida, logo se animou e não via a hora de parar para umas férias, adivinhe... nas festividades juninas...é sempre muita coincidência esses períodos de greve.
Muitas outras Universidades começaram a aderir também sob a égide da "autonomia, da melhoria salarial e das condições de trabalho". A balela de sempre que pode ser resumida em "quero receber mais para dar, no máximo, 90h(ou apenas 30h) de aula em um período de 4 meses". Essa greve não promete ter muitos frutos já que o próprio ministro afirmou que "só se faz greve quando todas as possibilidades de negociação foram esgotadas". Ou seja, o ministro disse "vão voltar ao trabalho e vão sem fazer barulho".
O problema é que o país passa por ajustes fiscais e o Governo fez cortes e ainda que eu acredite que cortar bilhões da educação não vai resolver o problema a longo, nem a curto prazo, não é com uma greve mesquinha que a sociedade brasileira vai conseguir avançar rumo a um desenvolvimento efetivo.
Os professores, em suas reuniões, só discutem salário. Na UFS, o terminal de integração, onde os estudantes, e alguns docentes substitutos usam para chegar e sair do campus, está caótico em uma reforma eterna, ameaçando a vida dos alunos e demais usuários; o posto do SETRANSP, vizinho do sindicato docente (ADUFS), é uma vergonha de tão ineficiente. Até mesmo a porta da ADUFS alaga de um modo impressionante quando chove e entre tantos outros problemas internos o ADUFS só sabe gritar por salário. Na prática, e quem se incomodar em olhar com atenção, a história da autonomia e da infraestrutura é só para enganar ingênuos.
Nem vou citar a UFAL com seu plano de interiorização fracassado e vergonhoso ou o IFS com a insegurança latente que faz a Direção Geral elevar os muros até a altura de muro de presídio ou o campus da UFS em Laranjeiras onde alunos são sequestrados, há a venda de drogas até mesmo dentro das residências universitárias e o máximo que a reitoria fez foi transferir os cursos para o campus de São Cristóvão.
Se os queridos docentes quisessem mesmo resolver esses problemas, e tantos outros, já o teriam - mas o egoísmo da classe, o olho gordo em um salário fictício e "condições melhores de trabalho que só o Governo Federal pode oferecer", a vontade de aparecer e o estrelismo impedem que sejam racionais e práticos - até mesmo unidos.
E sabemos quem vai pagar a conta dessa greve - os alunos. Sempre os alunos. 
E para não dizer que não citei as flores, o que mais irrita nessas greves é que a maioria dos professores, com poder de voto no sindicato - e isso é em quase todas as Universidades e Institutos Federais - não vai votar contra, mesmo sendo contrário à greve, com medo de apanhar da minoria que almeja férias extras. É medo de apanhar mesmo e para comprovar isso é só conversar com algum professor contrário ao movimento e que tenha poder de voto.
E se a maioria é medrosa e não se faz ouvir, a minoria faz o que quer.
Culpar o Governo Federal pela greve? Jamais. A culpa é dessa maioria palerma cujo peso não serve nem para escorar a porta.
Estamos em greve, de novo. Por um tempo indeterminado, de novo. E o que esperar de uma classe de "estrelas"?
O jeito é sentar e observar até quando as Universidades irão se portar como moleques vagabundos e de rua que espera a "Veraneio Vascaína" passar para levá-los para instalações mais "agradáveis".

Foto: uipi.com.br

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