A casa é sua, também

Imagem: Clip de A Casa é sua, com Arnaldo Antunes.
Em dias como hoje, quando a Tancredo Neves fica praticamente intransitável por algum problema de engenharia de tráfego, e os vizinhos do grande cortiço Eucaliptos (que ainda não se decidiram completamente se a escrita é eucaliptus ou eucaliptos) não conseguem escolher entre o brega e o rock, entre um final de semana em paz ou um regado à cachaça e discussões, o mais correto é abrir uma coca-cola, de preferência com um pote de sorvete, e ouvir o som do Arnaldo Antunes, em leve contraste com as demais melodias que reverberam pelos corredores de concreto formados pelos prédios do cortiço.
Não há muito o que fazer. Talvez pensar na vida (miserável) ou nas inúmeras impossibilidades que se apresentam à janela; de repente ver o que os vizinhos andam aprontando em seus apartamentos, igual ao que ocorre em Ó paí Ó; ou, quem sabe, só beber e tentar ver o mundo sob a perspectiva expansível e filosófica de um bêbado sábio. 
Seja lá qual fim tenha um sábado como esse, quando o melhor seria estar sentado na areia da praia (quem sabe tomando a mesma coca-cola já que água de coco ninguém merece), absorvendo a maresia e a calmaria das ondas morrendo na areia e pensando em como é triste e belo o pôr do sol quando não há tristezas nem alegrias para rir ou chorar. 
Ah, sim. Existe quem goste de um drama, de uma pilha de reclamações e de assuntos desagradáveis para passar o tempo. Há quem goste de não viver bem.
E se não é possível chegar na praia e nem se livrar deses vizinhos nobres, resta oferecer a casa, o quarto, o corpo e a alma para quem mereça; sempre na esperança de quem quer que chegue faça um vendaval, traga novidades e faça do sábado a sexta-feira pré happy hour. 
A casa é sua.
O sábado, também.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá