A Cidade do Sol

Cabul, uma capital em que a disputa pelo poder, pela supremacia de um regime ou/e de uma religião fez suas vítimas; seus mais atormentados testemunhos. Uma cidade em que várias histórias deixam de existir, na queda inesperada de uma bomba, e que outras tantas resistem, inseguras em casas, orfanatos e ruas.
Essa cidade, com cidadãos evadidos, com casamentos arranjados, com mulheres espancadas e maltratadas, é o cenário para a vida - a mesma vida que se justifica ao fazer florescer uma flor, e ao assassinar milhares.
A vida das mulheres afegãs, representadas por Laila e Mariam, vitimadas por dogmas sociais e religiosos que impedem a igualdade entre os gêneros; que justifica a mulher ser apedrejada, agredida, xingada, estuprada. Mariam, bastarda, vítima desde cedo de uma sociedade em que um homem pode ter várias esposas porém nunca uma filha fora da poligamia. E é essa mesma Mariam que ama Jalil, seu pai, e que ignora essas vicissitudes sociais que passa a humilhação de dormir à porta de Jalil - de ser tratada como mendiga. Órfã de mãe, após essa noite, Mariam não é apenas hostilizada pelas madrastas como é vendida a um qualquer que mora em Cabul, no outro lado do país, para a vergonha do pai ser esquecida. Passa pela frustração de abortos espontâneos; sofre as agressões físicas e emocionais de um marido que lhe imputa a responsabilidade de não poder ter um filho - homem.
E sofre, resignada com o destino.
Do outro lado do seu calvário, Laila nasce, cresce, descobre a amizade, o amor e entra na multidão dos desgraçados ao vir seus pais morrerem em um ataque de bomba.
Laila, diferente de Mariam, instruída, amada, cai no mesmo calvário que Mariam e o destino age em um desfecho impressionante.
A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini, é um retrato, ainda que ficcional do Afeganistão, de suas guerras, de suas tradições e opressões, de suas belezas e do seu desafortunado destino. Um livro que não pretende mexer com o amor romântico do leitor, mas alertá-lo para as diferenças que existem nos mais diferentes países sem deixar que o subjetivismo dos sentimentos de fora de um contexto tão árido.
Hosseini é mais uma vez real, brutal e poético. A Cidade do Sol é de uma profundida poucas vezes vista na literatura e pode ser assemelhado a Guerra e Paz, de Tolstoi.
Um romance tão profundo quanto a cultura afegã; tão impressionante quanto uma cicatriz facial, feita pelo fogo.
É um livro para quem não tem medo de enfrentar a realidade.
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