Talvez lembremo-nos
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Área verde - UFS, São Cristóvão |
Talvez, acabemos tão separados de nossas simplicidades, de nossos
pequenos egoísmos que acabemos caindo no abismo da perdição que José de Alencar
tanto cita em seu renomado Lucíola. E, entre as efemeridades, acabemos efêmeros,
egoístas demais para caber no mundo e na ordem reinante.
Outro dia, lembraremo-nos daqueles olhos que sorriam à nossa chegada,
daquela alegria infantil que absorvia o dia em grandes divertimentos, que de tão
simplórios, acabaram se perdendo em mesquinharias criadas pela doentia maneira
de nunca acostumar-se com a tranquilidade do que é bom e infante.
Lembraremo-nos das vezes que acabamos indo dormir felizes, apesar das
discussões diurnas. Lembraremo-nos das lembranças que compunham o segredo e a
publicidade, a razão e a despreocupação, a ação e a passividade. Lembraremo-nos
de tudo o que nos fez estar juntos, quando as consequências eram as mais
pessimistas. Lembraremo-nos de todos os que choravam ao nosso redor e das
lágrimas que nós mesmos deixamos cair em meio à tristeza do ferimento mútuo,
gratuito, desnecessário.
E então, passados muitos dias e muitas noites, os ferimentos terão se
fechados e as razões para a nossa dissolução hão de sumir, as lágrimas, há
muito secadas do rosto e do travesseiro,
irão transformar-se em passado desnecessário. Aí, do fundo daqueles olhos que
um dia sorriam, a distância pesará a felicidade um dia vivida e, então, as
garras da saudade serão sutis agulhas nos corações, naqueles dois que partilharam
seus medos e temores, em outro longínquo dia.
Talvez, depois que o mundo acabe
e o dia não termine nunca, teremos coragem para darmos as mãos e, em silêncio,
continuar do ponto onde paramos, sem novos machucados, cheios de experiências e novas
imaginações.
De janeiro a Janeiro - Nando Reis e Roberta Campos
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