Amar é para poucos!

Templo Sud - Salt Lake City

Os relacionamentos quase sempre começam errados, com toda aquela expectativa e todo o estardalhaço que a beleza ou a inteligência pode provocar entre duas pessoas. Tudo é levado ao extremo glacial ou ao inferno penoso no qual se arrasta a maioria dos romances. E na busca pela dominação do outro acabamos esquecendo o mais essencial, o princípio de toda forma amorosa, a doação incondicional, aquilo que torna especial a discussão sobre uma meia parede durante a madrugada de um  novo ano. 
E buscam a perfeição em formas distorcidas pelo modismo e pela filosofia barata que acabamos ouvindo e lendo em painéis eletrônicos. Para que a perfeição se é justamente o imperfeito que cabe em uma praça ensolarada, banhada no sorvete que escorre por entre lábios, e que apenas os olhos do bem-querido pode contemplar sem a cobrança de um crescimento desmedido ou de uma criancice habitual e meiga.
Não precisamos de uma máscara de maquiagem, roupas bem estampadas, flores, perfumes, inteligência para amar o que é inanimado, para que, então, cobrar de algo animado tudo o que é fútil e descartável?
Na adequação dos ais é que profanamos a amizade, geradora de todo amor que existe, com superficialidades desprezíveis, com alegorias que horrorizam o bem e invoca a monstruosidade da humanidade contra a pessoa bem-amada. E quantas vezes os relacionamentos esvaíram-se com lágrimas, dúvidas, traições e xingamentos apenas porque acreditamos que aquele ser, à frente, é desconhecido?
Precisamos imortalizar os amores, as paixões desses amores, e sorrir com todas os percalços do caminho a dois e deixar, livre como um pássaro raro, seu maior bem para que o tempo transforme-o em imortal: nas folhas rabiscadas, em blocos escritos, em perfumes, em festas e nas cicatrizes poupadas.
Ferir a pele de quem se ama, ou amou, é ferir-se duas vezes com punhais de tortura e rancor, que mais afastam a beleza de uma força inquebrável de um sonho vivido. 
E se começam errado, que terminem certo!
A separação de um dia é o reencontro, com novas oportunidades, em outro cujas esperanças se reescrevem nos ensinamentos da vida e daquele(a) a quem tanto se amou e se entregou na sofreguidão da estranheza dos primeiros dias. É quando a realidade bate à porta, chamando-nos à luta que podemos despertar grandes recordações que farão, no preamar, um adorável balanço para um descanso de viagem. E na baixa maré, a reviravolta dos planos e contos.
Para tornar um amor eterno não é preciso morrer de amor ou provocar loucuras terríveis. Basta apenas compreender o outro na hora certa, colher suas lágrimas e, com elas, regar o jardim construído nos arredores dos castelos íntimos e pessoais.
Para todo amor existe o pós-amor e a volta, triunfal, dos olhos brilhantes da alegria, enormes, negros, escancarados, que estarão brilhando por você ou por outro(a) e, nesse momento, é que o verdadeiro amor, aquele que fez dois seres quase se beijarem no encontro a uma parede bicolorida de um dia de jogo. Então, poderá ser sentido o ar leve  e um aroma de felicidade entre as coisas do mundo insano.
Não destruam os mistérios de dois seres romanceados , sejam apenas seres, que erram, brigam, gritam, entendem-se, reinventam-se, planejam, vivem. Um dia a ponte estará descongestionada, o cartão estará cheio e o amor, no anel, entrará em seu último refúgio. 
Amar é para poucos. Amar é privilégio de alguns, talvez o que o caro leitor esteja sentindo por outrem seja passatempo e o que o outro, que lê de relance, esteja sentindo seja amor, puro e verdadeiro, livre da pornografia e da cobrança; esse sabe onde irá chegar.

                                                                                                                                                               

 (Desligue o Reprodutor musical)

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