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O prazer de Finados

Escorrendo por entre os poros, o dia passa devagar e quente. Na TV alguém falava sobre a vida após a morte como se a morte fosse um estado semipermanente em que alguém precisa ficar por um bom tempo. _ "Lá é lindo, não há dor e todos são iguais até o juízo. .." - a voz parecia que tinha ido e voltado do mundo dos mortos como naquele filme da Pixar. Uma porta bateu e uma criança chorou ao longe. Um cachorro latiu. E, de repente, um leve estalido e o silêncio entrou, sem pedir licença. Apenas ecos e choros de crianças roçavam as paredes. Roçando-lhe a libido, uma mão subia por sua perna, apertava-lhe sua cocha e permanecia imóvel, esperando a reação, a repulsa, o ódio. Deitada, ela abriu-se mais, afastando as pernas. Empinando-se. O calor, do clima, do corpo, do quarto, sendo opressor e oprimido pelo desejo. A mão levantou-se, apalpou e caiu, desferindo-lhe um tapa inesperado.  Gemidos. Os dedos subiram, tocaram seu sexo, provocando sua umidade lasciva. A res...

A prostituição das Igrejas

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Foto: do G1, 30/10. As Igrejas foram prostituídas para a política. Os fieis, tão crentes em um Deus misericordioso, não se furtaram em abrir as portas e forrar a cama para que políticos, da extrema esquerda à extrema direita, possuíssem o Reino dos Céus na terra. E onde ficou Deus na história degradante entre religião e política? Bom, parece ter ficado de fora da festa "democrática" pelo bem da família cristã tradicional. A aberração sócio-religiosa não parou por aí. Com uma bíblia na mão e uma ou duas passagens bíblicas decoradas, candidatos saíram à caça de eleitores, aumentando a ojeriza da juventude pelos dogmas e posições "morais" das Igrejas. A crise institucional religiosa, que faz com que os fieis se debandem dos templos religiosos apenas aumentou e, pelo que se pode esperar conforme o movimento que se observa a alguns anos, só tende a aumentar depois que a exaltação política  acabar e os honrados políticos voltarem aos seus gabinetes. Da ...

Sentimento do ser

O sentimento é independente. Uma reação autômata que, às vezes, se transforma em ações. E que não precisa nada além de um estado de espírito capaz de modificar a visão que se tem do mundo, sem, necessariamente, mudá-lo. É por isso que parece absurdo exigir demonstrações tangíveis de algo que não se pode mensurar. E é absurda a busca que alguns empreendem para encontrar o sentimento empacotado em embalagens de 200g, vendido em lojas sujas do centro da cidade. O sentimento, embalado a vácuo ou por pessoas de mãos sujas, vendidos em lojas populares ou recebidos de pessoas mesquinhas, continua sendo o mesmo sentimento inalcançável que seres tão esperançosos buscam no vazio de filosofias ingratas. O sentimento é só o sentimento, sem aspas, sem contra-argumentos, sem ações reativas.

A podridão que nos cerca

A religião geralmente esconde a podridão da sociedade. Por meio dela temos as justificativas para toda e qualquer atrocidade que se faça, porque é tudo em nome de uma divindade que nunca aparece, mesmo quando reinvidica a autoria do mundo e de tudo o que é bom. Filiado à uma organização religiosa, estudei a doutrina, e acredito nela, e observei o comportamento dos membros e líderes. Testemunhei e sofri agressões físicas e morais, testemunhei o acobertamento de agressões sexuais e a exploração da força de trabalho dos membros de boa vontade. Testemunhei a forma humilhante com que os verdadeiramente pobres são tratados e como a segregação e a acepção de pessoas é nefasta, ainda mais porque se usa o nome de um Deus omisso. E tudo sob a observação e anuência de líderes que misturam Igreja e Política, que visam mais a aparência em detrimento dos ensinamentos de Jesus Cristo. Líderes que se amontoam em facções para manter o domínio injusto e maléfico sobre os membros. E embora exis...

De volta à baia

Chegamos ao fim de um processo eleitoral que se aproximou da barbárie e que, por pouco, não dizimou até a religião, que tão hipocritamente o brasileiro diz seguir (independe do credo). Em Alagoas testemunhei o hilário e o extraordinário. Candidatos que pleiteavam, no primeiro turno, uma cadeira na Assembleia Legislativa foram os mais absurdamente inovadores - muitos que sequer saíram de suas casas para fazer campanha conseguiram, ninguém sabe como, a oportunidade. Outros, tão acostumados a vitória, viram seu domínio ruir, mesmo com a compra de votos. Houve quem subisse em carro popular, copiando candidatos de outrora, para pedir voto e parar o trânsito - e mesmo com todo o esforço, sequer passou perto dos mil votos. A Assembleia Legislativa teve um alto índice de nomes novos - uma aparente renovação, dizem os mais críticos. Quem ganhou com isso foram os prefeitos, como de Palmeira dos Índios e Quebrangulo, que tiverem seus deputados estaduais eleitos e seu poder político aumentad...

Ninguém salva o Brasil de si

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Portrait of the Artist. Mary Cassatt. Met. Olhando a onda que se espalhou pelo país, e que é tão costumeira no processo eleitoral de um povo que resiste ao processo educacional civilizatório, há que sorrir da ironia do eleitores frente às ideologias dos partidos e às "propostas" dos presidenciáveis. À parte as agressões, reais e inegáveis, dos bolsominions contra minorias e a latente apologia à tortura e à ditadura; e igualmente desconsiderando os petistas fanáticos, tem-se um drama violento que se desenrola nas ruas, nas igrejas e nos domicílios, onde ninguém sai vencedor, a despeito do resultado do pleito. Foi observando essas anomalias que chego à conclusão que uma parte dos gays enrustidos continuarão cometendo suicídio e aumentando os casos de depressão registrados no sistema de saúde. E isso pela simples razão de que eles acreditam que estar enrustido, suprimindo seus desejos em uma organização religiosa (pensando que vai para um pseudo céu) e aplaudindo dis...

A exaltação do homem comum

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Exaltation. Arthur B. Davies. Metmuseum. O correr da vida passa pelo sururu de Alagoas, espalhado por todo um estado, mesclando-se a sabores, cores e divergências da casa ensebada do pobre que faz festa pelo novo diminuto que surge como um bálsamo para as agruras de uma existência infeliz; ou do novo rico, que acredita que o sensato é defender o horror e o ódio de um "movimento" que quer obrigar a democracia a se retirar depois de poucos anos de sossego. Passando pelas ruas à beira mar, ou à beira da lagoa, ou à beira do rio, recordando os versos de Jorge de Lima, a vida parece mais singular, indo de uma tristeza sutil a um conformismo sem tamanho de um povo que não teme mais nada, nem mesmo um Deus, morto há tempos, nem mesmo um Diabo, que parece habitar somente o fundo da panela, o sertão, a ponta do lápis. O dia, a vida, as esperanças, as tristezas, a beleza. Tudo vai escorrendo entre lembranças e desejos insatisfeitos. E o homem, só carne, ossos e sentimento...