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As nossas pequenezes

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Foto: Egyptian Sculpture. Charles Sheeler. Met. A gente sempre quer alcançar uma coisa grande. A gente sempre quer ser grande;  quer ser mais. O contrário disso é disritmia com a nossa natureza humana. No entanto, olhar para o todo requer coragem e uma dose cavalar de desânimo. É por isso que temos que olhar para as pequenas partes e buscar as pequenas, porém trabalhosas, vitórias. É por meio das pequenas partes, quase insignificantes, que somos feitos e do que são feitas as nossas alegrias mais efêmeras. Somos sol, ar (e estresse), chuva (às vezes de lágrimas e desespero), pequenas vitórias e grandes desassossegos. Assim é que a gente vive nesse mundo de obrigações inventadas, querendo ou não.

Status quo

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Foto: Egyptian Sculpture. Charles Sheeler. Met. Embora saibamos que a vida, essa sucessão de acontecimentos aleatórios e descontrolados, seja para uns uma corrida contra o tempo para ver quem chegará primeiro a marte com uma melancia no pescoço montado em um unicórnio enquanto que para outros  ela é só uma maresia de má sorte. Independente de como se queira levar a vida, não se pode admitir a mediocridade ou a humilhação como algo normal e esperado oriundo da estrutura social e necessárias para o próprio desenvolvimento social/espiritual/econômico/intelectual. Não se pode aceitar que o homem, com qualquer  status quo, aceite trocar suas possibilidades por um medo irracional de parecer arrogante ou orgulhoso perante uma sociedade escravagista e injusta. Há uma hora que é preciso olhar para a vida, para os que condenam a arrogância, o orgulho e todos esses "sentimentos" e enviar-lhes os cumprimentos do FODA-SE. FODA-SE a vida. FODA-SE  dualidade entre o div...

Decrépitos virtuais

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Foto: Doylestown House. Charles Sheeler. Met.  A necessidade de tudo postar nas redes sociais revela mais que o início de uma patologia - revela um caráter fragilizado que, não fosse as redes sociais, travestiria-se de preconceitos para impor ideais nocivas não apenas ao meio que frequenta, mas até mesmo a aqueles que estariam fisicamente e virtualmente distantes. Indivíduos que se autoafirmam a cada passo estão tão longe de si mesmos que seria preciso reinventar a própria noção de espaço virtual e alongar as incapacidades humanas para que essas criaturas conseguissem enfrentar o espelho sem ter que impor corretivos imaginários a suas próprias deficiências. O que se tem, aos montes e nas mais diferentes hashtags, são seres que vivem na pós-verdade utilizando ora palavras antiquadas ora nenhum signo para expressar a inutilidade de seus corpos, suas mentes, suas vidas em um mundo que não precisa deles.  O mundo precisa de realidade - seja no subjetivismo da alma ...

Cultura lacrimosa

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Foto: Statue of Diadoumenos. Charles Sheeler. Met. Domingo. Como de hábito, o dia de arrumar-se, ir à uma igreja qualquer e chorar porque não se tem um "pai" ou um "filho", mas apenas a promessa escrita e incomprovada de uma vida tranquila após a morte. Histerismos. Cada um que vai a essas liturgias creem-se em domínio da verdade e de uma fé inabalável; crê-se tomados de uma religiosidade danosa, tal qual os fanáticos puritanos de Silent Hill (2006), que arrasta à lama o bom senso e a imagem da verdadeira fé. E agora que aderem ao culto da tristeza, do abandono, da perda e da morte paterna há muito pouco o que se fazer para mudar tal cultura. O remédio é viver. Os abandonados filias que superem. A morte que cuide dos seus mortos. Os vivos que aprendam a viver.

O vizinho e a doutora

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Foto: Cast of Giuliano of Médici by Michelangelo. Charles Sheeler. MET.  O vizinho da esquina que só ouve músicas de baixa qualidade não é muito diferente da doutora que leciona em universidade pública - é a falta de refinamento que os aproxima. Um ouve o que lhe parece cult; a outra não possui firmeza de caráter para defender suas próprias ideias. A humanidade é assim  - covarde em sua maioria e ridícula em pequenas ilhas de isolamento que cria sob a forma de humanoides deprimentes e serventuários do dinheiro. Não há muito o que discorrer sobre quem não quer melhorar-se e seguir sendo parte de uma massa que alimenta mercados populares. Não há muito a ser feito contra essa cultura danosa que faz das periferias reduto de dinheiro e mau gosto.  Não há muito o que fazer para melhorar doutores que pensam ser a cereja do bolo do conhecimento. Apenas lamentar que gente com tal status quo não tenha compreendido o próprio papel em nossa sociedade e na atual era do ...

22:31 - Tempo gasto*

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Fotografia: Campden Hill. London. Bill Brandt. April 1949. O tempo que a pessoas gastam contigo é exatamente a expressão do quanto te valorizam. A chuva cai. A noite cai. As pétalas de uma flor caem. A pele cai sobre outros pedaços de pele. Os olhos deixam cair tudo aquilo que não se pode conter porque é grande demais para ser digerido por uma mente tão cansada e tão resistente às intempéries de uma tempestade nas ilhas de granito de uma costa qualquer. E quando os ventos trazem chuva, dizem que não pode aparecer. Quando o sol está alto e o cheiro de terra se mistura com o de gente, dizem que não pode ir ao passeio. Quando a maré baixa disputa com a alta por uns momentos de alucinações, dizem que não pode estar presente, pois não há cais. E quando estará, presente, mesmo através de feitiçaria? O tempo não perdoa, apesar de seu poderio inabalável. E quando se fala em tempo também se fala em valor, pois o tempo, mais que o metal e a pedra preciosa, quantifica, expressa e d...

Com a perna na BR-101

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  Há uma preguiça incalculável em escrever e descrever certas cenas, principalmente quando estas se tornam tão comuns quanto caminhar nos corredores de uma Universidade. As seguintes imagens refletem um texto de mais de mil palavras sobre como é interessante e tedioso viajar para o mesmo lugar, repetidas vezes. Todas as imagens são do trecho da BR-101 que liga Arapiraca-AL a Aracaju - SE.    Foto: Céu de Arapiraca. Rodoviária. Rafael Rodrigo Marajá.     Foto: BR-101. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Duplicação sobre a Ponte do Rio São Francisco. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Duplicação sobre a Ponte do Rio São Francisco. Rafael Rodrigo Marajá.  Foto: BR-101. Duplicação sobre a Ponte do Rio São Francisco. Rafael Rodrigo Marajá.  ...

Fotografia, um poder imenso

Quem não tem fotografias guardadas? Retratos que registraram tantos momentos implícitos, tantas formas ímpares de dizer palavras sem ao menos abrir a boca, ou sorrir sem desgrudar os lábios. Nas imagens que estão guardadas, onde está aquele desejo de imensidão que tomava conta das ruas e diminuía o esforço de viver na corda bamba das decisões difíceis? Talvez não sejam milhares de fotos, nem tenham pessoas bem vestidas em poses poderosas. Talvez os papéis coloridos recortem sua alegria silenciosa em um dia à beira-mar, em que a saudade aflorou a paixão e todas as palavras do mundo poderiam ser ditas em um único gesto, quem sabe um grito? O poder do registro é imenso. O da fotografia extrapola esse poder e estabelece fundamentos únicos que são seguidos à revelia dos indivíduos, pois ela guarda histórias inteiras, breves lapsos de vida, uma gigantesca expressão intraduzível. Lá, entre folhas rabiscadas, livros lidos, planos, pessoas, passado, poeira, está o que realmente impo...

Um conto para Melissa

No corredor cinza-e-branco o tempo não podia ser medido apenas por um relógio digital, na tela de um aparelho celular, cujo plano de fundo sempre lembrava o mais lindo sorriso que já viu. Também não podia ser aprisionado durante aqueles breves instantes em que a luz do visor se mantém acesa e seus olhos buscaram, naquele rosto, todo o amor que emanavam dos núcleos das minhas células para aquele corpo, tão distante e tão perto, que era retratado ali, na única forma de segurar brevemente o tempo – a fotografia. O tempo, imensurável, transformou-se em bits, que enviaram por meio das micro-ondas, uma simples mensagem de texto que chegou atrasada no celular de destino simplesmente por que a operadora de telefonia móvel oferecia mais linhas e promoções do que sua estrutura podia suportar. Mesmo assim, talvez a mensagem tenha cumprido sua missão – já que a pessoa pode ter caído de emoção ao recebê-la – ou não. Só que outra mensagem nunca chegou de volta, dizendo o que quer que fosse. N...

A poesia da Princesa

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Poesia é uma arte que mesmo quem pensa ter, na verdade não a tem, apenas imagina. Poesia é uma expressão condensada de uma vida cheia de observações realmente praticadas no dia a dia de uma normalidade tão humana e que, mesmo olhando para o nada de uma manhã uniformizada, ou uma tarde trabalhosa, é possível vislumbrar sempre o outro da linha  – da loucura, talvez-, fazendo tudo ser linhas e palavras pequenas no tamanho, colossais nos significados. De poesia vive-se. Pergunte aos vendedores de livros. De poesia morre-se: de amor, de alegria, de saudade, de realidade e de fantasia, de verdade e de mentira. De poesia o mundo gira e o tempo para em frente a um show de música tão diversa quanto a inconstante alma feminina. Nessa parada, um corpo atrai outro com os medos tranquilos que afligem o pensamento alheio a uma aparente felicidade. De repente, junto à boca, surgem as orientações de uma dança e a compreensão do certo, tão errado às vezes. E, juntos, um aprende a dançar, ...