A poesia da Princesa





Poesia é uma arte que mesmo quem pensa ter, na verdade não a tem, apenas imagina. Poesia é uma expressão condensada de uma vida cheia de observações realmente praticadas no dia a dia de uma normalidade tão humana e que, mesmo olhando para o nada de uma manhã uniformizada, ou uma tarde trabalhosa, é possível vislumbrar sempre o outro da linha  – da loucura, talvez-, fazendo tudo ser linhas e palavras pequenas no tamanho, colossais nos significados.
De poesia vive-se. Pergunte aos vendedores de livros. De poesia morre-se: de amor, de alegria, de saudade, de realidade e de fantasia, de verdade e de mentira. De poesia o mundo gira e o tempo para em frente a um show de música tão diversa quanto a inconstante alma feminina. Nessa parada, um corpo atrai outro com os medos tranquilos que afligem o pensamento alheio a uma aparente felicidade. De repente, junto à boca, surgem as orientações de uma dança e a compreensão do certo, tão errado às vezes. E, juntos, um aprende a dançar, o outro a se divertir.
Entre pessoas de várias etnias, com consciências pequenas e grandes, de belezas variando entre o extremo da feiura e a extrema beleza, a dança vai avolumando-se em uma explosão de risos, de conversas, de olhares indiscretos a outros e a um momento em que a confiança ganha o lugar do medo da dança em público e de segredos comuns.
A poesia, então, não é a melodia vinda de um palco vulgar, nem a bebida que molha o longo cabelo dela nas várias voltas dos passos inventados, mas a transformação que ocorre ao ar livre e que faz dois corpos quase ocuparem o mesmo lugar, contrariando as leis da física e da matemática. A poesia faz do céu o teto da melodia e do público, do qual faz parte, sua plateia particular. Da poesia emanam as gargalhadas abafadas pela conversa dos vizinhos que só dançam. Da poesia, os versos escorrem entre os braços e se alojam nos bolsos, guardados na infinitude do tempo até a virada de mais uma folha do calendário, quando o som já cessara e a monotonia do vai-e-vem faz tudo ser quase cinza, mesmo nos dias de cores vibrantes. Nesses dias os livros não são capazes de desejar tudo aquilo que se quer de verdade, nem de expressar aquilo que se deve, nos momentos devidos. No entanto, entre esforços inúteis, fotografias molhadas de alegria e de lágrimas tristes de noites de amores silenciosos e dolorosos, o tempo resgatou os versos guardados para dizer a Princesa da dança noturna que a poesia é uma arte que foi impressa em seu cabelo, na cor da sua pele e na espontaneidade do seu sorriso.  Naquilo que nem todos entendem, sabe que o tempo e a continuidade das danças em público é a certeza de que a poesia também é sua, sempre no quatorze de março.


Fotografia - Leoni

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