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Mostrando postagens com o rótulo Felicidade

Vida imposta

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Obra: Convalescent, Mme Lepère. Auguste-Louis Lepère. Met. Sob este mesmo céu ainda ouço o estalar do chicote e o sangue que de mim escorre Sob esta mesma pele sinto a vida e a tristeza que de mim se desprende em ondas em dores em saudades Sob esta vida que me impôs sob este céu que me obriga a viver sinto as feridas que faz mim uma triste e feliz existência

Felicidade*

Sou simples e sua Espero que você chegue Suada e cansada desse dia Que passou na correria dos Amigos que passaram Não preciso de atenção Na independência de ti Estou no mais cômodo lugar Não sou egoísta Precisas de outros também Precisas ser amada E mimada, na cobertura das carícias Que o seu bem te fará Não me chame na noite Seu descanso é minha glória Sou sua escrava no amor E na revolta Sou você na tarde quente E na noite fria No dia com pipoca E no dia do jejum Faço da sua tristeza meu guia E de suas lágrimas minha chegada Não sou o alarme do carro Nem a fortuna anunciada Sou apenas sua felicidade. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Ser crente é ser feliz?

Quando desci do Marcos Freire/DIA no terminal da Zona Oeste a primeira visão que tive foi de umas pessoas panfletando – nada demais e nada anormal. A anormalidade, além da demasiada espera por qualquer ônibus para o terminal do campus, da sujeira, dos pedintes, do calor, do fedor de milho e comida em cozimento eterno, estava na prepotência do panfleto que convidava a todos para uma confraternização natalina em uma dada igreja e afirmava que para ser feliz é preciso ser crente (em letras garrafais). Bom, se essa é a condição para a felicidade terrena ninguém inseriu a informação no meu programa original. Ainda que eu não tenha bugado com a ousadia da afirmação é de se considerar que pessoas emocionalmente frágeis podem cair no conto da carochinha propagado por várias congregações. A felicidade não é ser e sim estar (ou até mesmo isso esteja errado). O que não pode acontecer, como hoje é tão comum e vulgar, é a venda da crença que a felicidade pode ser engarrafada e vendida em tal ...

A queda para a alegria do homem

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Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para que tenham alegria. 2 Néfi 2:25 Adão, de Tullio Lombardo. Quando você sai à rua e vê os pregadores destilando tristezas a cada leitura de versículos bíblicos, as mulheres lamentando a falta de sorte em “ter um homem que valoriza” o trabalho delas, os cobradores xingando cada partícula de poeira que cai em sua caixa registradora e alguns estudante em completado estado de drama e melancolia é possível perceber que a queda de Adão parece ter sido desnecessária e inútil. No segundo livro de Néfi todos podem tomar conhecimento de uma verdade que transcende qualquer conhecimento apóstata que tenha sobrevivido – o homem existe para buscar a felicidade e serem alegres. Mas alegria de verdade, não somente aquela encontrada em estados efêmeros. E como Leí mesmo disse, ainda no segundo livro de Néfi, o arbítrio está aí, com todos e qualquer um e com ele pode-se escolher de qual lado você deseja ficar – ...

Ganhe 5 cm, Rafael!

Existe um tipo de criatura que adora o pênis mais que a mulher (isso se presumirmos que a mulher moderna é ignorante o suficiente para enxergar pênis até no formato de um garfo): o homem. E não importa o que se diga, a cultura instituída e aceita, sem reclamações e com muita frustração, é que o pênis tem que ser grande, grosso e potente o suficiente para destruir mulheres, outros homens, levantar um carro e satisfazer vacas, éguas e elefantes. Um instrumento capaz de destruir civilizações.  Isso tudo no imaginário propagado e fomentado por nossa cultura. Na prática, o colosso transforma-se em um simplório membro capaz apenas de facilitar a reprodução e que é superado exponencialmente por outro tantos, que servem apenas para complementar o visual. E como tentar é sempre permitido, a indústria segue fazendo suas apostas, vendendo milagres. E há quem goste da ilusão. Hoje fui olhar rapidamente minhas 126 mensagens spams para ver se algo importante passou para o lado negro ...

A felicidade no pote

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Foto: sorvetesnectar.com A felicidade pode ser comprada, degustada, comida com vontade, sempre e quando o dinheiro e a vontade quiserem. Ela está guardada em potes brancos de um quilo (ou dois litros) dentro de refrigeradores de supermercados, mercearias e lanchonetes. Essa felicidade, não tão efêmera como o beijo de uma boca vermelha ou como o prazer rápido de uma transa apressada, é a expressão da solidão humana quando está de bem com a vida, feliz consigo e extremamente satisfeita. O sorvete, ah o sorvete!, também é usado quando alguém, geralmente as mulheres, estão de mal com a vida por um desagrado amoroso. Isso dá má fama ao manjar gelado. E a culpa, se não é de Hollywood, é das diversas mulheres carentes de todo o mundo que copia os trejeitos de uma comédia romântica. O sorvete é o primeiro e último item de qualquer lista feliz. Ele esfria o corpo; aquece os desejos; acalma as revoltas; produz gorduras; aproxima pessoas; torna o calor agradável e traz sabor à luz m...

O fedor de boca feliz

Buscar a felicidade, o amor, a fama e a riqueza - eis aí a nossa maior ocupação na vida. E quando alguém simplesmente não sabe o que fazer, nem quando fazer, por falta de orientação ou paciência para tramas e traições, é lhe feito caretas e dito-lhe adjetivos pouco louváveis. Afinal, todos são obrigados a serem gananciosos, mesquinhos e infelizes em uma busca sem sentido e egoísta. Quem quiser que busque suas formas de felicidade, seja ela efêmera ou podre. De efêmera já basta a alegria ao alcançar um objetivo, que nem sempre é tão fácil de ser alcançado. Deve ser por isso que domingo, enquanto marinava no tédio da velocidade controlada do ônibus, deparei-me com a melhor definição de felicidade que jamais encontrei por aí. O para-choque de um carro exibia a máxima:   Felicidade é como fedor de boca, vem de dentro  E é verdade! Pode até parecer vulgar, porém reflete a simplicidade do estado de felicidade que tanto buscamos. O dinheiro só t...

Questão fundamental

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Quadro: Woman in White. Pablo Picasso. Há uma pergunta existente entre o cérebro, os olhos e as veias que definem tudo aquilo que fazemos, ou possamos realizar um dia. Um questionamento tão forte e persistente, quando deixamos que ele se manifeste, que é quase impossível saber onde começa o presente e termina o futuro. Tal pergunta também é perigosa, altamente destrutiva quando não se sabe onde se pretende chegar ou em que direção seguir e, por essa razão, respondê-la é uma honra, mesmo sendo desorientado pela resposta, que muitas vezes está à espreita. Você é feliz? Essa simples e pequena oração é a questão fundamental para qualquer ser humano. Para satisfazê-la criamos poemas, procuramos em outrem a solidez de uma certeza, estabelecemos conexões com a arte e com a ciência e nem sempre conseguimos obter uma boa resposta. Sempre queremos dizer que sim. E dizemos sim mesmo sabendo que é uma das maiores mentiras já contadas. Queremos, ansiamos desesperadamente, ser felize...

Exageros de paixões diversas

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The Love Letter. Jean Honoré Fragonard (French, Grasse 1732 - 1806 Paris) Os exageros da semana estão disputando lugar entre a irracionalidade de uma torcida cujos resultados em nada interfere na vida e os exageros do dia dos namorados, que por coincidência é no mesmo dia da abertura da Copa  do Mundo. De um lado vejo fotos de jovens casais que consolidam seus relacionamentos com um pedaço de metal no dedo e que simboliza a eternidade. E aí fico imaginando que qualquer tipo de relação que necessite de publicidade ou/e de uma prova de sua solidez já é insólito e efêmero desde sua concepção. Indivíduos que sabem  o que querem e  que estão certos daquilo que sentem não necessitam de nenhum desses dois itens para serem felizes. A felicidade é surda, muda e cega para a opinião alheia! No outro extremo, mas ainda assim colada com o oposto citado, está a torcida de milhões de pessoas por suas seleções nos jogos do mundial. Atos até exagerados e desnecessários que s...

Fotografia, um poder imenso

Quem não tem fotografias guardadas? Retratos que registraram tantos momentos implícitos, tantas formas ímpares de dizer palavras sem ao menos abrir a boca, ou sorrir sem desgrudar os lábios. Nas imagens que estão guardadas, onde está aquele desejo de imensidão que tomava conta das ruas e diminuía o esforço de viver na corda bamba das decisões difíceis? Talvez não sejam milhares de fotos, nem tenham pessoas bem vestidas em poses poderosas. Talvez os papéis coloridos recortem sua alegria silenciosa em um dia à beira-mar, em que a saudade aflorou a paixão e todas as palavras do mundo poderiam ser ditas em um único gesto, quem sabe um grito? O poder do registro é imenso. O da fotografia extrapola esse poder e estabelece fundamentos únicos que são seguidos à revelia dos indivíduos, pois ela guarda histórias inteiras, breves lapsos de vida, uma gigantesca expressão intraduzível. Lá, entre folhas rabiscadas, livros lidos, planos, pessoas, passado, poeira, está o que realmente impo...