A felicidade no pote


Foto:sorvetesnectar.com

A felicidade pode ser comprada, degustada, comida com vontade, sempre e quando o dinheiro e a vontade quiserem. Ela está guardada em potes brancos de um quilo (ou dois litros) dentro de refrigeradores de supermercados, mercearias e lanchonetes. Essa felicidade, não tão efêmera como o beijo de uma boca vermelha ou como o prazer rápido de uma transa apressada, é a expressão da solidão humana quando está de bem com a vida, feliz consigo e extremamente satisfeita.
O sorvete, ah o sorvete!, também é usado quando alguém, geralmente as mulheres, estão de mal com a vida por um desagrado amoroso. Isso dá má fama ao manjar gelado. E a culpa, se não é de Hollywood, é das diversas mulheres carentes de todo o mundo que copia os trejeitos de uma comédia romântica.
O sorvete é o primeiro e último item de qualquer lista feliz. Ele esfria o corpo; aquece os desejos; acalma as revoltas; produz gorduras; aproxima pessoas; torna o calor agradável e traz sabor à luz monocromática de almoços tediosos.
E quem repreender alguém que consome dois litros de sorvete em vinte e quatro horas merece nada menos que a privação eterna do sorvete e do gelo até muito depois da eternidade. E não importa o sabor, a marca, o modo de apresentação ou o clima – o importante é abrir a felicidade, retirá-la com cuidado do pote, degusta-la e não parar até que o poço sem fundo que guardamos dentro de nós seja saciado.

O resto é prosa sem sentido.

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