A felicidade no pote
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A felicidade pode ser comprada, degustada, comida com vontade, sempre
e quando o dinheiro e a vontade quiserem. Ela está guardada em potes brancos de
um quilo (ou dois litros) dentro de refrigeradores de supermercados, mercearias
e lanchonetes. Essa felicidade, não tão efêmera como o beijo de uma boca
vermelha ou como o prazer rápido de uma transa apressada, é a expressão da
solidão humana quando está de bem com a vida, feliz consigo e extremamente satisfeita.
O sorvete, ah o sorvete!, também é usado quando alguém, geralmente as
mulheres, estão de mal com a vida por um desagrado amoroso. Isso dá má fama ao
manjar gelado. E a culpa, se não é de Hollywood, é das diversas mulheres
carentes de todo o mundo que copia os trejeitos de uma comédia romântica.
O sorvete é o primeiro e último item de qualquer lista feliz. Ele
esfria o corpo; aquece os desejos; acalma as revoltas; produz gorduras;
aproxima pessoas; torna o calor agradável e traz sabor à luz monocromática de
almoços tediosos.
E quem repreender alguém que consome dois litros de sorvete em vinte e
quatro horas merece nada menos que a privação eterna do sorvete e do gelo até
muito depois da eternidade. E não importa o sabor, a marca, o modo de apresentação
ou o clima – o importante é abrir a felicidade, retirá-la com cuidado do pote, degusta-la
e não parar até que o poço sem fundo que guardamos dentro de nós seja saciado.
O resto é prosa sem sentido.
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