O antibiótico para o defunto
Tem dias que parece que estamos em uma novela tragicômica que somente a literatura brasileira pode produzir e que sai da criatividade do semiárido baiano.
Hoje mesmo a rotina estava naquela tranquilidade das terças-feiras invernais que não sabe o limite da realidade quando, lá para o fim da manhã, no minuto exato quando o almoço de alguns esfriava no prato e outros passavam a fome do meio-dia devido ao sistema massacrante do capital financiador do bolsonarismo, repentinamente, fotos de coroas de flores chegam no aplicativo de mensagens instantâneas.
Quem morreu?
Ninguém sabia!
E nem tão rápido quanto o recebimento das mensagens, descobriu-se.
Lá para as bandas de Irecê um defunto esperava, putrefazendo-se, suas coroas de flores e sua roupa fúnebre para que os curiosos pudessem dar a última escarrada verbal em sua face antes que se transforme em adubo orgânico. No meio da madrugada, porém, uma pessoa agoniada e que perdeu a hora, foi lá e pegou a última reverência ao morto.
Aí, quando essa outra pessoa abriu a encomenda, esperando remédios para manter vivo outrem por tempo determinado e sofrido, deparou-se com o temidos Adeus.
Gelada, sem acreditar no que via, a pressão baixou, ficou branca, trêmula, indignada e chorosa. E agora, o que fazer?
A se perguntar, o morto passou o dia se revirando sobre o leito refrigerado, com potentes doses antibióticas à disposição para revigorar uma vida que abandonou a carcaça para sempre.
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