Solitariamente em boa companhia


Só nas últimas 24h eu pedi ao zelador para olhar o meu chuveiro elétrico e desentupir o ralo do  banheiro, questionei a minha utilidade no trabalho, recusei ser trapaceado no mercado, corrigi o preço do quilo da goiaba na quitanda (o rapaz queria vender goiaba pelo preço da pêra), manifestei-me fervorosamente contra o racismo e o preconceito estrutural que querem manter sobre os Orixás, dormi, comi, defequei gostosamente, cuidei de mim, possui o corpo alheio, excluí aplicativos do meu aparelho móvel, comprei bolo e canjica (e comi), mandei mensagens que não serão respondidas logo, desisti de estudar a mais, estudei o suficiente, fofoquei, falei com pessoas que se interessam por mim e eu por elas, verifiquei textos esperando a publicação em revista, pensei em criar novos perfis com os mesmos nomes, pensei em ex-pessoas, imaginei cenários, interagi em lives,  assisti um filme...
E mesmo assim não abri aplicativos de redes sociais para informar ao mundo a insignificante banalidade de uma segunda-feira qualquer. Não mendiguei atenção virtual e afetos de desconhecidos. 
É mais um dia em que não precisei encharcar-me de lama por breves segundos de pseudo aplausos. 
Em minha solidão, embora acompanhado de mim mesmo, eu resisti a mais um dia. E isso jamais será compreendido.

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