Sempre esquecemos o mais importante


Aquela sensação de esquecimento vai corroendo as bordas da empolgação como um ácido fraco e persistente que foge do encapsulamento pseudo seguro. 
Pensamos que esquecemos de fechar a válvula do gás, apagar a luz, trancar a porta, guardar a comida na geladeira, fechar todos os registros. 
Que bobagem crer que não vamos esquecer de nada e acabamos esquecendo sempre as coisas mais importantes e, por isso mesmo, as mais bobas. 
Esquecemos até do tempo, esse mesmo tempo que fingimos apreendê-lo em relógios, smartphones, números em agendas e, no auge de nossa pretensão, em fotografias e vídeos. Esquecemo-nos dele e ele jamais nos esquece. 
Na rodoviária o rapaz passou correndo, um foguete em meio à babel de caixas, cores, pessoas e emoções, para não perder o ônibus que acabara de fechar a porta. O tempo não espera por ninguém. O motorista, imitando esse Deus implacável, também não espera, embora pudesse e devesse, em nome do bom atendimento ao cliente. 
O rapaz aprendeu que foguete não tem ré porque se desfaz, por princípio de funcionamento. E o tempo, Zara Tempo, nunca recua, nunca se desculpa, nunca se despede, nunca esquece.
O que muda são nossas limitações, nossos olhares, nosso estar. 
Quem muda somos nós.
E não há nada errado nisso.

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