O muro da Senhora do Carmo




Os fiéis da Capela Nossa Senhora do Carmo, logo após a "faixa", bem pertinho do Sergipetec, nem sonham que suas contribuições financeiras, suas quermesses, sua devoção servem a fins ainda mais nobres quando a Capela está fechada e o breu da noite encobre essa terra tão quente nos dias ordinários.
De frente para a porta de entrada, em certas noites quentes, mãos ainda mais sedentas percorrem o quadril da jovem mulata, acariciando suas coxas, apertando cada reentrância. Essa mesma mão que procura a porta do céu, como bem ressalta Luiz Caldas, provoca fricotes pelo corpo todo de uma inocente impúbere que mal sabe o mal que o falo ligado à essa mão pode provocar.
Ela senta nas pernas magras do malandro e acomoda-se para abrir a boca de forma suficiente para deixar sair os diminutos e excitantes gemidos. Passos ritmados fazem a dança frenética momentaneamente hibernar para logo depois voltar com ainda mais força e sublime desespero.
Em outras noites, em pé, apoiados no muro da santa casa da Senhora do Carmo, é essa mesma guardadora de rebanhos carnudos que provoca, em pé, a vítima outrora caçador. E a dança não mais é com as mãos, mas com as nádegas seminuas. 
O cheiro do sexo escorre por entre as portas e gruda-se nas portas da casa da Senhora do Carmo. O desejo, tão escuro quanto a noite e a pele dos impudentes, contamina transeuntes, o solo, o ar, a santidade que um dia talvez tenha existido nesse pedaço de terra.


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