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Mostrando postagens de novembro, 2014

O por do sol

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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá. Falam muito do por do sol e sempre fazem referência ao livro de Antoine. Aí eu pergunto: adianta de que estar sentado em frente a uma tela de computador, reproduzindo a mesma frase regularmente, se quando o sol se põe ninguém está lá para ver? O sol queima, irrita, estressa, adoece, embeleza e enobrece e quase ninguém está interessado realmente nele, apenas em dizer que está ou numa melancolia falsa ou em um amor interessante. Enganação entre si e outrem, apenas. Uma perda de tempo tão grande que poderíamos construir um bem sucedida multinacional em tempo recorde se juntássemos esse povo todo que é "fã do por do sol". Tenho para mim que frases ditas, digitadas e reproduzidas não possuem valor algum. Não agregam valor a nada nem a ninguém e que só serve para destruir as obras literárias enquanto vulgariza os elementos naturais. O por do sol não é nada disso o que dizem. Aliás, ele não nada fora do normal. Ano...

Entrevista com Renata Ventura

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Renata Ventura em bate-papo com alunos das escolas Públicas Durante o III FOCULT - Fórum de Cultura e Territorialidade - e o I FLIJUPIN - Festival do Livro InfantoJuvenil de Palmeira dos Índios, a escritora Renata Ventura conversou comigo sobre seus livros, suas experiências e projetos na literatura. Renata, sempre muito simpática, voltará ao campus, esperamos, e é um prazer recebê-la. Esse bate-papo exclusivo encontra-se apenas aqui, por enquanto e espero que gostem! (Diferentemente do padrão, em que todas as entrevistas são escritas, o modelo gravado foi o mais oportuno e está dividido em quadros - dada a limitações técnicas.)

Mudança destrutiva

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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá Aceitar as mudanças é necessário. Tolerar mudanças ruins é escolha. Em Palmeira dos Índios as praças, que já não passam por uma reforma há anos, começaram a ser destruídas pelo Governo Municipal para 'oferecer qualidade de vida'. No entanto, considere: a) o prazo para entrega das obras não é respeitado; b) os projetos não contemplam a arborização dos espaços públicos; c) O conceito empregado em cada praça não valoriza a história municipal. E como poderia ser melhor? Se os vereadores eleitos fossem cobrados, se os moradores de cada bairro afetado reivindicasse o cumprimento dos prazos e um projeto decente, submetido à aprovação popular, se a fiscalização fosse acirrada - isso tudo se o povo não tivesse vendido seu voto por  uma viagem de ambulância ou qualquer cinquenta reais. Enquanto isso as ruas da cidade não são reformadas, a verdadeira qualidade de vida dos munícipes e dos visitantes, em qualquer rua ...

Buscando a alma #6

E apesar de tudo,                                 do silêncio                                 da falta                                 do amor                                 do sal do gosto                                 do desgosto amargo Prefiro a danação eterna, de hoje em diante e para sempre. (De quando só o tempo cura).

Buscando a alma #5

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Foto: Alagoas- trecho Palmeira dos Índios - Arapiraca. Rafael Rodrigo Marajá. Um dia você verá, com a clareza nítida das manhãs de verão, que não foram os litros de álcool que a fez ser feliz, nem foram os músculos alheios que a fez vibrar. Verá que foi sua fuga de mim e de minhas nada relutantes palavras que a estremeceu em outros braços, que a embriagou, que a impressionou. E então, quente demais para respirar, frio demais para sair, tarde demais para olhar o passado, quererá que minhas correntes a amarre à realidade fantástica da vida - e eu aprisionarei a sua alma à minha. Nesse dia, embora muitas paixões já tenha desatinado minha cabeça e trincado meu coração, estarei de pé, encostado à parede de um lugar qualquer, esperando que seu corpo seja o obstáculo da minha visão, a prisão do meu estado livre. E se me perguntarem o que é o amor? Ora, direi que são olhos clareados, uma pele tingida e um não querer querendo. (De quando o tempo não para e exige ações de quem...

Amor sem perdão

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Trecho de O Tamanho do Céu Amar é nunca ter que pedir perdão.   Essa é uma oração de Thrity Umrigar, em O Tamanho do Céu e que chama a atenção para algo que comumente não nos damos conta - perdir perdão. As teorias, baratas, sobre o amor, as maneiras como amar, as formas de ser amado(a) e a relação amor e sexo discorrem sobre como o homem deve se portar, como a mulher deve ser e quantas vezes devemos pedir desculpas ou perdão. Uma balela que inunda as redes sociais e atrapalha casais, solteiros e desiludidos. Considero que se amar é uma ação que requer pedir perdão, ainda que esporadicamente, então o caminho está errado e há de se reavaliar esse "amor". Erros, responsabilidades e acertos são elementos do processo natural em que duas ou mais pessoas se dispõem a viver e que chamamos de relacionamento amoroso. E para quê esses pedidos de perdão, tão regularmente vistos? Para ressaltar, ao que parece, o amor. Digo que se esse sentimento precisa ser ressa...

Buscando a alma #4

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Foto: Orla lagunar. Marechal Deodoro-AL. Rafael Rodrigo Marajá Ainda hei de dizer                                 [baixo como um sussurro] que é a cor dos seus olhos minha a distração a minha perdição o lábio molhado que são meus os seus pés insistentes rebeldes que é seu meu pensamento o meu tormento que no dia vindouro nem todo ouro me afastará de você.

Ninguém escreve ao coronel

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A solidão nem sempre acontece quando se está só, fisicamente. Pode acontecer em companhia, por longos e tormentosos anos, pode estar de mãos dadas com a fome ou a guerra, sob a chuva e em meio à lama ou sob o sol e o mormaço delirante. Ninguém escreve ao Coronel , do Nobel de literatura Gabriel García Márquez, é uma novela digna dos elogios que recebe. Um retrato do homem que lutou por seu país e acabou esquecido entre a burocracia e o “deixa para amanhã” do Governo, que militou por ideais políticos e acabou à margem da própria sociedade, um pai que ficou órfão de si e do filho. O Coronel é um homem que nada conseguiu da vida, a não ser a fome, uma carta durante quinze anos – que nunca chegou -, e uma esposa que nunca o abandonou apesar das adversidades. Esse foi o segundo livro de García Márquez e demorou três anos para ser publicado, recusado por editores, e que valeu a pena a luta do autor para levar ao mundo tão intensa obra. O realismo de Gabriel torna o livro uma expressão ...

Buscando a alma #3

Sua mão deslizou sobre mim com a naturalidade temerosa de um animal arisco. Não podia, por minha parte, não reagir ao toque comum que em mim santificava o dia. Descendo e revolvendo-me, seus dedos tripudiavam sobre minhas emoções. E sem citações, canções alegres meus pelos entoavam. Ah! A droga de se ter um coro em minha pele e uma voz cantante em minha face, ainda que orquestrada por um mão brincalhona, é não poder dizer, ao vão persistente entre nós, o quanto ecoa meus pensamentos. O momento, tão repentino quanto chegou, se foi. E agora, onde está? Deixei-me levar pela leviandade de amar em segundos.  Deixei-me estar no paraíso mundano do futuro. E caí - ante a tensão do presente - no mais terroso estado, afundando na depressão da minha solidão acompanhada. E agora? (De quando a vida brinca de ser criança e o destino a repreende sem pudor, em público)

Buscando a alma #2

Tenho em mim o ciúme Do vento Do tempo Do ósculo Tenho em mim a alma inquieta Da casa Da vida Da deixa Tenho em mim todos os tormentos do mundo Do seu rumo Do seu olhar Do seu estar O que não tenho É o seu amor, enfim. (De quando o ciúme queima mais que o sol do meio dia.)

Buscando a alma #1

Desapareci entre as mentiras que inventei Reinventei-me sem os amores dantes E como antes sou a sombra do que não fui. (De como a madrugada não deixa nada para depois, cobrando a fatura dos ditos que um dia disse ao coração amado, aos olhos espelhados, à boca tida).

Perdendo manias

   Estamos perdendo, aos poucos e cada vez mais, nossa capacidade espontânea de manifestar opiniões, estados de espírito e humor. Mandar alguém para "aquele lugar", tacar na cara de alguém um "deixa de viadagem" ou um "lasque-se" está cada vez mais escasso e com isso deixamos não só de ser naturais - deixamos de ser engraçados, humanos e socialmente hilários. A mania do coitadismo gay, racial e social (no caso da pobreza) está aniquilando o que o brasileiro tem de mais marcante: o humor, ainda que negro, e a capacidade de expressão espontânea. Agora tudo precisa ser politicamente correto. Agora tudo está mais falso que moeda de dois reais.

Marechal, a Flimar e nós

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Aquela lagoa de Marechal   Marechal Deodoro, no interior alagoano, uma vez por ano, recebe escritores, artistas, editores, cantores e curiosos durante a Festa Literária de Marechal Deodoro - FLIMAR . E a cada ano a Festa fica ainda melhor não por que um artista famoso é homenageado, ou pela participação de imortais. Não. a Festa fica melhor, assim como o vinho, com o passar do tempo e com a intimidade que os visitantes compartilham com moradores, visitantes e personalidades ilustres. E se fosse só por isso estaria bom. Mas tem mais! O sol quente na pele acariciada pelo vento ideal, tão característico das cidades litorâneas; as pequenas descobertas de ruas e histórias; a conversa fiada com estranhos-conhecidos-recentes; a tranquilidade da janela aberta até depois da meia noite; e a proximidade com quem faz cultura são algumas das características da cidade, antes e durante a Festa Literária. Ah, a lagoa! Tivesse eu uma rede, uma varanda em Marec...

Toda paixão, nada de amor

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 The Strange Thing Little Kiosai Saw in the River. John La Farge. O amor que se dane! A graça é apaixonar-se pelo menos um vez, por semana. Fico imaginando os pensamentos das pessoas que pulam a paixão e vão direto para o amor eterno, uma eternidade com uma só pessoa - que muitas vezes se mostra mortalmente entediante. E não me rogo ao constrangimento alheio em que as pessoas não sabem o prazer e a tristeza das paixões diversas, diárias, efêmeras que acomete a quem está atento a si e a seus desejos, desvencilhado(a) dos quereres de outro ser. A paixão dentro de um ônibus que termina em um ponto qualquer; a paixão no shopping por alguém desconhecido; a paixão assassina por um ser maléfico; a paixão sem freios - todas em uma só pessoa,  tão intensas quanto o amor monogâmico e etéreo. Por falar nisso, como saber se o indivíduo amado é para ser eterno se não vivenciar as mais devassas e massacrantes paixões? Tenho que dizer, sem temor e com alegria, que não desej...

2ª SEMAC - Ninguém vai respeitar

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A Universidade Federal de Sergipe cancelou todas as aulas a partir do dia 24 até o dia 28 de novembro para realizar a Semana Acadêmico - Cultural, onde teoricamente todos os alunos irão participar e os trabalhos de pesquisa e extensão serão apresentados. Teoricamente. Na prática nem metade dos professores estarão para "prestigiar". Mas não é para isso que quero chamar a atenção. E sim para a organização do evento. Camisa oficial da  2ª SEMAC A Universidade, veja só!, está oferecendo 20h comprovadas por certificado para os "monitores" trabalharem a semana toda, realizando todo tipo de tarefa para que a SEMAC seja realizada. Seria ótimo não fosse trágico! Os monitores são convocados, voluntários - evidentemente -, para auxiliar nas apresentações e sequer o almoço a Organização pensou em oferecer. Das 7h às 18h os trabalhos que só interessam ao bolsista pesquisador serão expostos e o mais importante é que os voluntários irão receber é um certificado, apenas...

Sentimento do Mundo

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Cada um carrega em si, para si, os sentimentos de seu mundinho, do planeta, do trabalho. Cada um é responsável por suas escolhas, suas visões e suas opiniões. Cada um carrega sobre seus ombros o peso do mundo, em uma visão noturna de frente par ao mar ou ao ver um operário passando sem o uniforme azul. Sentimento do Mundo , de Carlos Drummond de Andrade é uma conversa com um poeta que de ilusões parece só possuir os bons momentos de quem vive: política, sociedade, cidadania, injustiça, amor, nostalgia são elementos das páginas que cabem no bolso. Poemas que não se aplicam apenas às relações amorosas, se é o que o leitor busca nessa obra. Então não se decepcione. Drummond revela, nessas linhas poéticas, com uma prosa escondida, a capacidade de ver a beleza, o caos e o futuro. Um mundo em que o sentimento passa de realidade à saudade, em que a infância é o melhor lugar que se poderia estar [hoje], em que fantasmas também sentem dor, é o retrato de uma visão interessante e particu...

No acostamento do dia

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Foto: Rodovia AL-SE. Rafael Rodrigo Maraja. Para lá e para cá entre Alagoas e Sergipe e nada do que foi será, naquilo que se refere à visão sobre o mundo que nos rodeia. À beira da rodovia existe bar, igreja, casas, residências, currais, redes, luzes e postes abandonados, antenas de rádio e tv e o nada-tudo que a ninguém interessa. Nesses espaços onde o progresso sempre passa correndo, onde as pessoas nunca se interessam em olhar, existem pessoas que estão levando a vida com a maior preocupação do mundo: que não morramos atropelados - e nem sempre por automóveis. De certa maneira a vida parece triste e insolente nos acostamentos das BR's, AL's e SE's. Quase uma afronta à cidades que, ainda que sejam pequenas e mal desenvolvidas, deveria ser o centro onde o cotidiano habita durante a semana, com pequenas pausas para o centro rural próximo. Olhando assim, de longe e separado pelo vidro, cá dentro com condicionador de ar e lá fora com a quentura natural da esta...

Contagem Regressiva

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Que a vida que corre na rua é bem diferente daquela que habita o interior da mente isso é mais que sabido. E nem sempre o discernimento entre essas duas vidas, com tempos diferentes, é notado pelo vivente. E quanto mais velho se fica, mas saudosista queremos ficar. João é um homem que, no alto de sua idade, com filhos crescidos e pouco amados, por ele – como imagina-, luta pela sanidade de viver em um mundo em que nenhuma mulher foi capaz de preencher por muito tempo, ou de forma satisfatória. Teve várias. Teve filhos. Teve a solidão de viver acompanhado e o desejo de encontrar-se. Em Contagem Regressiva é possível notar os pontos de coincidências entre a vida real, a ficcional e uma morte buscada – morremos todos os dias vitimados por vidas infelizes. Uma obra que dispensa comentários de orelhas e de crítica por apresentar uma literatura com densidade emocional suficiente para preencher dias por ser um enredo em que não se nota o autor, somente os personagens, o tempo e as em...

Oh Maria do Socorro!

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A Maria do Socorro que conheço, que é registrada de fato, não tem pernas lindamente torneadas e não é legal - é chata e velha, para ser sincero com a realidade. Mas conheço outras tantas Marias do Socorro que namora o Zé Cachorro e que arrasta uma perna para o Zé Galinha. Essas Marias são uma comédia de domínio público! Só  o samba, bem feito e com uma letra muito particular, poderia imortalizar a mulher que vai ao auge de sua beleza e decai momentaneamente até ser só mais uma igual a tantas outras do morro ou do asfalto.  Fico refletindo o quanto uma Maria do Socorro dessa pode fazer, de estrago, na vida de um pobre coitado mal avisado sobre os perigos de umas pernas torneadas pelas ladeiras ou pelo desejo. Acredito fortemente que se não fosse o morro, as paredes finas - da favela ou dos condomínios -, as mulheres suadas que sobem e descem, imaginam e persistem, nem mesmo a literatura seria capaz de salvar-nos da desgraça de um mundo em preto e branco, sob a luz o...

Nossa solidão, de estirpe

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Foto: From my window at an American Place, Southwest. Alfred Stieglitz "Era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra." Cem anos de solidão Gabriel García Márquez Fico pensando nas imensas possibilidades que alguém teria em passar a marca dos cem anos e chego a conclusão de que é uma completa perda de tempo viver tanto se o corpo caminha para o pó desde o momento em que se nasce. A solidão, por outro lado, não tem nada de triste - se é que alguém a considere mesmo assim. É um estado tão íntimo, pessoal, incondicionalmente humano que seria capaz de alguém voltar do túmulo para readquiri-la? Quem sabe... O que é possível ter certeza é que se pode viver entre multidões e estar completamente só. Amar alguém e viver em um eterno vórtice de pequenas solidões do dia a dia - quem disse que o amor resolve tudo? A solidão das estirpes, formadas mais pela pr...

Rodoviária (aeroporto), duas vezes embarque

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Rodoviária de Arapiraca Viajar é um problema sério para quem, ainda, não tem um cartão de crédito ilimitado ou quem possui mais compromissos que espaço na agenda, ou para quem tem que estar preso às pequenas rotinas diárias. E quando viajar não é problema apesar de o percurso ser o mesmo, cada pó das rodoviárias (ou aeroportos) torna-se familiar demais. Um item que deveria estar sempre na bolsa ou na mala é o livro, não importando gênero ou título. Infelizmente ler não é um hábito entre viajantes, mesmo para aqueles que já estão fazendo buracos nas estradas de tanto ir e vir. As revistarias e livrarias desses terminais de embarque e desembarque, no entanto, podem surpreender o viajante com preços baixos e títulos interessantes (apesar de não ser uma regra geral, o preço). Em Aracaju, apesar da pequena revistaria e livraria ser maltrada, é relativamente boa. Em Arapiraca e Palmeira dos Índios, é um milagre, em uma, ter terminal rodoviário, e em outra, ter lanchonete aberta n...

Tudo real, só

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Trecho de Um sorriso ou dois, de Frederico Elboni De certo modo parece que desacostumamos a estar perto das pessoas e a fazer com que elas gostem da gente - já que like é mais "eficiente" para avaliar o grau de interesse e envolvimento. Mas não é culpa do like. A culpa é nossa que, não se sabe de onde, criamos e cultivamos o hábito de tornar o mundo virtual mais importante que o mundo real. E o resultado acaba ficando um tanto óbvio - relacionamentos artificiais, pessoas descartáveis e muitas fotos e palavras que precisam ser apagadas depois que tudo acaba. Bom mesmo é quando você, no mundo real, encontra alguém interessante que não liga muito para redes sociais e que conserva aquela mania de ser interessante apesar da exposição contínua e obrigatória. E, encontrada, ainda passa para o nível onde conversar e se encontrar é mais legal que conversar por bate-papo.  Sentimentos virtuais de pessoas reais são estados mornos tão comuns quanto a luz solar.  Sentimentos r...

Erro editorial crepuscular

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Trecho de Amanhecer Então você está lá, lendo as linhas de uma saga que já não é lá grande coisa, quando se depara com um "Obrigado, Jacob". Isoladamente, não tem de errado com a construção gramatical ao lado. No contexto a conversa é bem diferente. O trecho em questão foi dito por Esme, vampira, gênero feminino, o que nos indica que o correto deveria ter sido "Obrigada, Jacob", já que obrigado concorda com quem está agradecido. E assim mais um, de muitos erros - já que ninguém vai ler um romance procurando erros-, se propaga e é tomado como verdade.  É de se esperar que um volume com três revisores saia da gráfica impecável. Era de se esperar e isso não é exclusividade da Intrínseca, detentora dos direitos autorais da Saga Crepúsculo no Brasil.  Os editores deviam levar mais a sério a edição dos livros e não confiar no sucesso internacional da obra, qualquer que seja ela. Um erro grosseiro indica apenas que o trabalho não é levado a sério ou que o lei...

Cinquenta Tons de Cinza

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Um príncipe encantado à moda século XXI, uma virgem à século XVII e um enredo forçosamente construído para ter o maior número de páginas escritas. É essa a descrição mais concisa e precisa que se pode ter do não tão aclamado Cinquenta Tons de Cinza. A obra de E. L. James tem um quê de apelação que não consegue sucesso nem nos trechos de sexo nem nos de violência. Talvez por querer misturar sadomasoquismo com romance, talvez por que o romance não seja lá grande coisa mesmo e, por isso, a mistura com práticas sexuais não ortodoxas não pegue tão bem quanto deveria, Cinquenta Tons de Cinza é um fracasso a olhos vistos. Personagens reprimidos em seus próprios mundos, sem falas seguras, sem atitudes independentes, dão o tom de uma artificialidade feita para vender papel, não para encantar com a ficção. Ambientes pobremente descritos, relações “difíceis” e uma riqueza sem precedente que contrasta com a meia vida de Steele são pontos que não passam despercebidos a um leitor mais atento....

Sem concursos para a vida inteira, por gentileza

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Foto/Reprodução: olojista.wordpress.com Não é difícil ouvir sobre concursos públicos, futuro estável e dinheiro garantido todo fim de mês. Mais fácil ainda é presenciar diálogos fortíssimos sobre as maneiras de de ser aprovado em um certame - só não entendo como com tantos "métodos eficazes" poucas pessoas saem vitoriosas. Ser funcionário público só é vantajoso pela estabilidade, que é também uma faca de dois gumes. De resto, o funcionalismo público é chato, degradante da vontade de fazer mais da própria carreira e é extremamente nocivo para aqueles que gostam de se divertir trabalhando - o serviço burocrático torna as pessoas repulsivas. E então você está na casa dos 20 anos (que vai dos 20 aos 29) e sente que o mundo à sua volta só pensa em ser parte do governo, em qualquer esfera. Ou seja, os indivíduos pensam logo, antes mesmo de serem reprovados nos concursos - "vou ganhar dinheiro, vou viver do jeito que eu quiser e me aposento". Será mesmo que...

Medíocres adoradores do medo

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Two Mens Playing Chess. Alfred Stieglitz. Não é impressionante que a maioria das pessoas prefira o medo à claridade da coragem e de seus frutos. Não é raro que se encontre indivíduos que demonizam pessoas e processos numa tentativa desesperada de justificar algo ou com o objetivo apenas de "valorizar" algo, alguém ou agum processo. Em geral gostam de tornar um ser humanamente frágil em alguém com um poder incrível que está, em uma pirâmide imaginária, longe de críticas e de suspeitas quanto à sua capacidade de apreender quem o rodeia. E esse super-humano pode possuir uma beleza incrível, uma inteligência razoável ou ser só outro humano. Esse artifício de endeusar alguém, por exemplo, é meramente uma forma da maioria dizer "sou incapaz, sou irrelevante e medíocre e minha única justificativa é que esse(a) é muito melhor". Os indivíduos estão acostumados com o menosprezo por si mesmo, com a inacessibilidade entre si, com os preconceitos em suas mentes e...

Dia desnecessário dos mortos

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Shadows in like. Alfred Stieglitz. O dia dos mortos é uma invenção de quem gosta de sofrer desnecessariamente e que, por maioria e sob a convenção de que devemos saudar a memória de outrem, acaba sendo uma chateação aos menos sensíveis com os nem-tão-santos-mortos. A mania de creditar aos mortos as características mais beatíficas que se possa imaginar torna os ossos enterrados, ou queimados, relíquias sagradas para que não conheceu pessoalmente a peste que outrora foi de carne e ossos. Uma mania feia e muito mentirosa - e olhe que mentir é pecado, se o que dizem for verdade. Os mortos podem, igual aos vivos, serem separadas, classificados e etiquetados de acordo com suas bondades e perversidades, sem cair no vórtice mentiroso de santidade inata aos desencarnados. A doce ilusão que em vida tudo foi um mar de rosas. Às vezes dois palavrões à beira do caixão é mais sincero que choros intermináveis. E aí a cultura continua: flores baratas e fedorentas sendo vendidas nas por...

Rotina e tormenta

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The Hand of Man. Alfred Stieglitz. A rotina acaba, invariavelmente, destruindo a graça e a beleza que existe naquilo que lutamos para conseguir - seja um Porsche ou um romance. E o que acabamos fazendo sem perceber é justamente ser mais um numa multidão que só baixa a cabeça e segue a onda, sem ao menos perguntar para que lado fica a praia. Nem tão de repente assim, então, aparece, vez ou outra, alguém que nos arranca do ostracismo e leva-nos a querer estar em tal lugar, fazendo tal coisa, de tal maneira e olhando tal rosto. Nos muitos "tals" não nos damos conta que mudamos milímetros suficientes para transbordar rios e mares e passamos a ser aquilo que não conseguíamos 10 minutos atrás: vivos, efetivamente. E a pergunta que resta é - sabemos o que fazer quando as luzes apagam e a mente continua trovejando, ventando e relampeando sal e espinhos sobre a brandura do novo? A vida é engraçada, já escrevera Guimarães Rosa. E será que tanta graça, misturada à rotina...