Dom Casmurro



Uma das obras mais tratadas e discutidas da literatura brasileira não responde, claramente, à pergunta fundamental que está no cerne de sua essência: Capitu traiu Bentinho?
Há quem centre sua atenção nesse detalhe e esqueça dos olhos de ressaca de Capitu, da insegurança de Bentinho, das colocações referentes à classe social daquela e perdoe as imprudências deste.
Machado de Assis, em sua linguagem brasileiríssima que não merece ser adaptada para o analfabetismo do século XXI, leva o leitor a discutir o amor sob a ótica da praticidade cotidiana. Mais que isso, mostra que o amor não precisa ser meloso, com vozes arrastadas e flores em demasia para ser amor intenso e verdadeiro de fato.
Capitu, linda, atraente, interessante atrai olhares, conversas, o mundo. É a representação do indivíduo bem-sucedido que pode envolver-se em uma relação sem comprometer a dignidade de seu intelecto.
Bentinho, com a sua inexperiência, insegurança, exemplifica o que existe até os dias atuais – seres que não conseguem manter uma relação amorosa delimitada pelas vontades e anseios individuais.
Dom Casmurro, mesmo com suas décadas e transformações, mantém, nesse universo da tecnologia, de facebook e de e-book, o charme do mistério amoroso, do fatalismo que cerca as paixões e das dúvidas de quem ama demais e não consegue ter discernimento sobre a vida, ou de quem ama de menos e justifica as ações com qualquer mentira pouco defendida.

Uma obra de um dos grandes da Literatura Nacional que jamais envelhecerá – mesmo que “atualizem” a língua portuguesa para os analfabetos funcionais das Universidades e Escolas de ensino básico.


Áudio livro da obra

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