Empregada negra, por favor!
Chamada da novela |
A empregada ainda é negra. Algumas
gordas, sempre com um pé na vulgaridade e outro no analfabetismo, como se para
ser doméstica é preciso também ser ignorante e submissa: nunca questionar,
sempre obedecer.
As telenovelas continuam
propagando a ideia de que a empregada carrega em si e em seus modos a herança
escravista em que, no passado, carregavam os senhores nas costas e esvaziavam os
penicos de seus amos; e que, hoje, são relegados aos serviços domésticos e à
demonstração constante de sua “classe e lugar”.
Império, apesar de ser um pouco melhor que sua precedente, continua
com a mesma linha: a negra, gorda - em algumas vezes -, submissa e até
piriguete, serve à sua patroa sem pestanejar e sem nunca questionar as atitudes
desta. Em família, com exceção de
apenas uma, tinha todas as empregadas negras. Voltando um pouco no passado, Avenida Brasil também. E assim acontece
com o principal produto da Rede Globo, desde sempre.
Enquanto o Congresso Nacional e o
INSS tentam regularizar o trabalho das empregadas domésticas através de lei que
as proteja, a mídia, se por um lado noticia e faz questão que a lei seja
cumprida, alimenta a ideia de uma imagem secular em que a serviçal é não apenas
estereotipada, como imortalizada sob os princípios preconceituosos e
excludentes que regem a sociedade brasileira – uma hipócrita sociedade
brasileira.
Vez ou outra a empregada, para
ser mais humanizada – para sair da categoria objeto-escravo-, é colocada como “pessoa
da família”. Ora, senhores, empregado é empregado; patrão é patrão. Em qualquer
relação comercial é assim. E quando tentam estabelecer essa ilusória ligação
amo-escravo, o que se observa é como calar o pobre: “dizendo que é como um
membro da família”, como se fazer parte de outra família, além da dela(e),
fosse questão de orgulho e ostentação.
E sabe o pior?
Gostamos disso!
Gostamos da empregada que pinta
as unhas de vermelho e é repreendida. Gostamos da empregada que é fofoqueira.
Gostamos da empregada que é fiel à patroa, sob qualquer circunstância. Gostamos
da empregada puta que se oferece ao patrão, ou ao filho deste.
A mídia não está errada: ela
oferece aquilo que você, eu, todos, gostamos de ver.
Depois não adianta reclamar
quando entra em uma loja do Shopping e a vendedora trata diferente por que se
veste como pobre. Não TV é bonito. E na vida real?
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