Entrevista com Verônica Teixeira

Hoje eu converso sobre Ciência e experiências pessoais e científicas com alguém que surpreende sempre.
Verônica de Carvalho Teixeira é Bacharel em Física Médica (2007) e Física (2011), Mestre (2010) e Doutora (2014) em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Sergipe. Verônica atua em temáticas como: propriedades ópticas e espectroscópicas da matéria condensada, desenvolvimento de nanomateriais, cintiladores e cerâmicas fosforescentes, baseadas em aluminossilicatos. Uma conversa para todos os níveis de escolaridade e para quem busca ser cientista. 


Rafael Rodrigo Marajá: Verônica, qual a importância prática, para um futuro profissional – de qualquer área -, da pesquisa científica?

Verônica Teixeira: A pesquisa científica está diretamente ligada ao desenvolvimento da sociedade. Independente da área, é através de pesquisas científicas que muito do que tivemos ontem, temos hoje e teremos no futuro foi, é e será desenvolvido. A importância prática para um futuro profissional, é que este será um agente do desenvolvimento científico e social.

R.R.M.: Como você vê a atuação de pesquisadores no mercado profissional?

Verônica: Eu vejo como decisiva e muito importante. Em muitos países os pesquisadores ocupam lugares de destaque nos em empresas, transformado ciência em produtos, aplicações e novas práticas. No Brasil, a atuação de pesquisadores é bastante forte no meio acadêmico. Ainda estamos em fase de mudança de consciência da necessidade deste tipo de profissional em outros setores. Certamente, em alguns anos, a presença de pesquisadores será maior nas empresas e indústrias.

R.R.M.: A vida de um pesquisador é tão divertida, movimentada e interessante quanto parece nas reportagens? É muito difícil?

Verônica: Nada é fácil de se conseguir. A carreira como pesquisador exige, no mínimo, empenho e dedicação. O que você cita como “divertida e movimentada” é consequência dos trabalhos desenvolvidos, os quais resultam na satisfação por parte do pesquisador ao apresentar cada resultado. A diversão fica por conta do amor e dedicação que são destinados ao trabalho. Se você faz o que realmente gosta, a vida profissional se torna divertida, movimentada e interessante.

R.R.M.: Qual sua visão sobre o acesso à Pesquisa? Os Editais são realistas para com os discentes?

Verônica: O acesso à pesquisa tem crescido muito nos últimos anos. Há um grande incentivo por parte das universidades, fundações, institutos e agências de fomento.
Sim. Os editais são, em sua maioria, realistas.

R.R.M.: Você é do interior sergipano, fazendo história em uma das melhores Universidades do Estado. Acredita que as oportunidades para melhorar a si e ao ambiente em que se nasceu está melhor, ou seja, agora é só uma questão de querer e não de ter, para todos?

Verônica: As oportunidades existem para todos, basta ser firme nos seus ideais e os buscar sempre, independente das dificuldades. Hoje há um acesso maior ao ensino, informações, etc., o que faz com que as oportunidades para mudar a si  e ao ambiente em que nasceu sejam maiores.

R.R.M.: Possui duas graduações, uma em Física e outra em Física Médica. E sua Pós-Graduação é na área de Ciência e Engenharia dos Materiais. Por que Materiais? O que essa Pós-Graduação tem de chamariz pra fazê-la se interessar?

Verônica: Durante a minha primeira graduação trabalhei com o desenvolvimento de novos materiais para aplicações biológicas. No momento da escolha da pós-graduação, decidi seguir a mesma linha que vinha desenvolvendo na iniciação científica e acreditei que o mestrado e o doutorado em Materiais eram mais compatíveis com o que eu queria fazer naquele momento.

R.R.M.: Recentemente, seu trabalho foi destaque no Portal da CAPES/CNPq, os nanocintiladores. O que eles representam para a ciência? Como esse conhecimento fará a sociedade viver melhor, em um futuro?

Verônica: Cintiladores são materiais capazes de transformar radiação ionizante em luz visível. Um dos seus principais usos são no mapeamento de radiação em equipamentos como tomógrafos, em física de altas energias, em detectores usados no estudo da radiação emitida por estrelas, etc.
A produção de nanocintiladores, ou seja, cintiladores compostos de partículas na dimensão dos bilionésimos de metros “nano” permite que novos materiais detectores de radiação sejam obtidos mais rapidamente, de forma simples e através de métodos ecoamigáveis quando comparados aos materiais tradicionalmente utilizados neste tipo de aplicação.
Com o desenvolvimento destes novos materiais, pode-se desenvolver novos instrumentos científicos, médicos, etc.

R.R.M.: Declarou em outra entrevista “Quando era bem pequena, recebi um livro de astronomia da minha avó e foi amor à primeira vista. Passava as noites olhando para as estrelas. Eu sabia que queriaser um cientista e que isso seria o meu futuro.A Ciência faz meus olhos brilharem”. O que mudou daquela criança com o livro de Astronomia para hoje?

Verônica: A empolgação para me tornar cientista só cresceu desde aquela época. O contato com a ciência e os ensinamentos de minha avó, que é professora, desde cedo me despertaram para este caminho e eu nunca tive dúvidas sobre o que queria ser. O que mudou, é que tudo isso deixou de ser um sonho de criança e está se tornando realidade.

R.R.M.: Vivemos épocas em que mudar de ideia e curso é fácil. Acredita que mudar de curso de graduação pode definir se o discente será um profissional ruim ou se não tem tino para o sucesso?

Verônica: Acredito que as pessoas devem buscar a felicidade e satisfação profissional. Se um outro curso fizer aquele estudante mais feliz e mais satisfeito, acredito que seja válida a mudança e que ela tende a levá-lo ao sucesso profissional.

R.R.M.: O que você diria para quem está procurando inovação e não tem apoio de Fundações?

Verônica: Que não desista e busque apoio junto a outras instituições, indústria, etc.

R.R.M.: Sua mensagem para alunos, de Graduação e Pós-Graduação, é...


Verônica: Independente das dificuldades, se você faz o que gosta certamente terá muito sucesso.


Drª Verônica no Canadá
Verônica, muitíssimo obrigado pela entrevista e pelo tempo que sempre tem para conversa. É sempre muito bem-vinda em Crônicas!
Essa entrevista foi concedida por e-mail.

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