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Poema cansado

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Foto: Rafael Rodrigo Marajá. Que me falte cãibras Que me falte sossessogo Que me falte esperança  Que me falte alimento Que me falte a paixão  Que me falte o vil metal  Que me falte a felicidade Que me falte o estar  Que me falte o ser Que me falte o lugar Que me falte o amigo Que me falte a poesia Que me falte a energia Que me falte o amanhã  Mas que nunca me falte a ousadia de ter coragem.

Sem avisos

Um dia eu vou sumir, não aos poucos como uma fruta que se parte em pedaços e é engolida sem pretensão. Será de uma vez. Súbito. Não, não é estado de tristeza ou depressão que inflama essa afirmação. É um doce sabor de quem há de experimentar um arrebatamento cataclismico. De repente, não mais que de repente (como uma vez escreveu o poeta) eu sumirei em meio à multidão, sem ser notado, sem ser perturbado, sem alarde. E ficará, se alguém algum dia lembrar, como escreveu outro poeta, versos A um ausente. É só o que restará de mim pelas mãos de outro que me antecedeu. Um dia, eu sei, eu vou sumir.  E como não se destroi um império em um único dia, assim eu vou me fragmentando, acostumando os outros com pequenas ausências, silêncios enormes. E onde eu vou parar  ninguém sabe, nem eu, nem você, Olorum, de certeza, mas ele não vai contar. E vou viajar, como o Belchior fez duas vezes.

Eu

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Foto: Rosto atribuído a Ptolomeu II Filadelfo ou um contemporâneo. The Met.  Eu tenho em mim o fim e o começo Sou o sábado de Aleluia e a terça de Carnaval Eu sou o amor que não se diz E o ódio do amor ferido Eu sou a canção que nunca escrevi E as palavras que os outros disseram Eu sou o tédio de um domingo E o motivo do contentamento  Eu sou o brilho no olhar E o ronronado do felino  Eu sou o filme que ainda não estreou E os aplausos que nunca cessam Eu sou o início  E brisas leves dançam ao nosso redor Eu sou o fim E as lágrimas que salteiam Eu sou o meio Que nunca acaba.

Ontem chove hoje

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Está chovendo e meu corpo está salgado. Meu corpo está fechado. E minha mente está sob um rígido estado de alerta. Os sons do desespero, que vagam pela rua, silenciaram E todos ouvem as gotas da chuva bater no telhado. Está chovendo e não há tristezas. Covas rasas serão expostas. Corações rasos serão estraçalhados. E vãs ilusões serão feridas. A chuva aumenta o tom. A minha voz é mais baixa que o rugido da chuva. A minha importância é menor que a umidade de agora. A minha vida é uma gota de uma chuva de vidas. E tudo é tão pequeno lá fora. E tão grande cá dentro. Chove. Escorre o ontem em calhas. E o hoje é molhado. E a chuva, depois da limpeza de almas e casas, Se vai.

Viés

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Arte de Gabriela Santos. À G.S. Tenho em mim a poesia do teu corpo em cheiros que não se desfazem com banhos ordinários. Tenho em meus olhos as luzes que resplandecem a cada manhã, nunca ordinárias ao teu lado. Eis que tenho verdades que não se desfazem em tuas mãos, mas que se constrangem diante do teu olhar. Tens, em tuas curvas, o fogo que consome as minhas horas E os efêmeros romances jamais poderão limitar o amor desmedido que emana dos poros, meus, e das lágrimas, tuas. Porque as tuas lágrimas regam o meu bosque E levam para o mar os sentimentos E trazem do mar os sentimentos das nossas vidas Porque na cachoeira do teu ser que me banho a cada manhã E seja dia ensolarado Seja dia nublado Tenho o que tu tens E tu tens o que eu sou.

Reunião de faces

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Arte: Eugène Delacroix. MET Exu Tranca-Ruas Poema a Oxum Poema sem título Poema final Um poema despretensioso Buscando a alma #1 Buscando a alma #2 Buscando a alma #3 Buscando a alma #4 Buscando a alma #5 Buscando a alma #6 Poemas que fazem parte da obra Anjo da Guarda Fome* Morte Solitária* Passante Vida* Incerteza* Morte* Abandono* Poema 1* Prece* Agressões*  Teu sossego* Felicidade* Futuro amor* Disimpotente* Quando chega a noite* Visão* Efeitos* Intocado* Partido* Lembrança* Tudo está bem* Sub* Pulsante* Promessas* Notícia* Luta* Inocência vivida* Galinha* Dia noturno* Vingança* Desastre* Depois da Festa* Crescida* Caminhada*

A exaltação do homem comum

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Exaltation. Arthur B. Davies. Metmuseum. O correr da vida passa pelo sururu de Alagoas, espalhado por todo um estado, mesclando-se a sabores, cores e divergências da casa ensebada do pobre que faz festa pelo novo diminuto que surge como um bálsamo para as agruras de uma existência infeliz; ou do novo rico, que acredita que o sensato é defender o horror e o ódio de um "movimento" que quer obrigar a democracia a se retirar depois de poucos anos de sossego. Passando pelas ruas à beira mar, ou à beira da lagoa, ou à beira do rio, recordando os versos de Jorge de Lima, a vida parece mais singular, indo de uma tristeza sutil a um conformismo sem tamanho de um povo que não teme mais nada, nem mesmo um Deus, morto há tempos, nem mesmo um Diabo, que parece habitar somente o fundo da panela, o sertão, a ponta do lápis. O dia, a vida, as esperanças, as tristezas, a beleza. Tudo vai escorrendo entre lembranças e desejos insatisfeitos. E o homem, só carne, ossos e sentimento...

Fome*

Rói dentro do mundo O queimor do sem nem o quê Rói o ácido espalhado No mundo interno Do corpo extenso Rói o rueiro Sem medo Corrói a fome. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Morte Solitária*

Acenda o cigarro E queime o pulmão A alma e a casa Destrua o fígado Com  garrafa aberta De cachaça ou uísque Arrase o olho com o pino Do álcool inconsumido Mate-se sem levar consigo Nada de dentro ou de fora. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Passante Vida*

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Obra: The Creation of the World and the Expulsion from Paradise. Giovanni di Paolo. 1445. Olhando para todos Apressados e chorosos Fico na estante No seu cais atracado Sem estreias e cantadas Sem ondas de alegria Olhando apenas como A esfinge a planar Em areias andantes Na nudez ria Da solidez porcelanada Olho da estante. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Incerteza*

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Obra: Chance Encounter at 3 A.M. Red Grooms. 1984. É isso. Não. Aquilo, talvez Ou não Branco ou preto ou colorido Certo ao contrário Deitado ou em pé Talvez, aquilo Não, é isso Sim, é! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Incerteza*

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Obra: Chance Encounter at 3 A.M. Red Grooms. 1984. É isso. Não. Aquilo, talvez Ou não Branco ou preto ou colorido Certo ao contrário Deitado ou em pé Talvez, aquilo Não, é isso Sim, é! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Morte*

Luta, briga, fala Come, corre,cansa Vai, vem e some Clareia, distorce torce e segue no caminho sem sentido O sonho vem, acaba Passa e morre junto Com a alma lembrada. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Abandono*

Será que não vê mais Os mais do tempo Os ais dos casos? Que não sente mais A mão que afaga E apedreja outro olhar? Não mais está no caso Pelo ódio desprezar O ar tirado? *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Poema 1*

Limpos os dentes Pontes colares Do passado tão presente Ente de má fama Famigerado displicente Quente está seu drama Na cama de suas amas Acalma sua sanidade. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Prece*

Ame a rosa! E seus espinhos Suas folhas Seu cheiro forte Ame sua cor Na pouca vida No resplendor do brilho Na sacada do corte Ame a flor Na alegria da chegada Na tristeza da morte No querer bem da lembrança Ame-a Quando não puder vê-la Quando seu cheiro sumir E sumindo ela se for Ame sua rosa! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Agressões*

Peça para calar No estopim da briga E faça cessar Todo o fim Acalme o ânimo forte Forte seja na decisão Que mata e assalta Que morde e esfacela Que cala o silêncio Pegue o orgulho Jogue-o fora Arrependa-se, jamais Jamais cale Se não for suficiente Pegue então seus bons momentos Converta na alegria do agora E, então, no infinito do já! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Teu sossego*

Quando tu chorares Quando o acordar for penoso Quando o perigo te cercar Quando o céu te fizer medo E as estrelas te mirarem Quando tu sorrires E quando tu pedires Quando tu só estiveres E quando ninguém te ouvir Quando o amor pedir licença E quando o ódio teu coração tomar Quando a saudade bater E o relógio parar Quando não suportares E quando o dengo chamar Quando o esquecer surgir E quando não mais o bem-amado existir Quando quiseres conversar E quando o silêncio te roubar Quando a fome te fizer crescer E quando o orgulho te assaltar Quando partires E quando chegares Estarei ao teu lado Te esperando, no acalmar da noite. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Felicidade*

Sou simples e sua Espero que você chegue Suada e cansada desse dia Que passou na correria dos Amigos que passaram Não preciso de atenção Na independência de ti Estou no mais cômodo lugar Não sou egoísta Precisas de outros também Precisas ser amada E mimada, na cobertura das carícias Que o seu bem te fará Não me chame na noite Seu descanso é minha glória Sou sua escrava no amor E na revolta Sou você na tarde quente E na noite fria No dia com pipoca E no dia do jejum Faço da sua tristeza meu guia E de suas lágrimas minha chegada Não sou o alarme do carro Nem a fortuna anunciada Sou apenas sua felicidade. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Futuro amor*

Amar-te-ei com os olhos alegres Amar-te-ei com o ardor do primeiro beijo Amar-te-ei com todo o meu sangue E com o coração pulsante Amar-te-ei quando me odiar Amar-te-ei quando me esquecer Amar-te-ei quando me amar Amar-te-ei no nascer do sol Amar-te-ei no calor da manhã Amar-te-ei no suspiro do cansaço Amar-te-ei quando o sol se for Amar-te-ei de graça! Amar-te-ei sem a cobrança do ciúme Amar-te-ei de verdade Amar-te-ei pelo prazer simples de te amar! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.