Uma revolução na gigante roda



Açude, Praça Moreno Brandão - Palmeira dos Índios -AL

Do alto podia ver todos os telhados banhados pela ausência da intensa luz solar, imersos em uma escuridão quente ao som das correntes de ar vindas do longe desconhecido – provavelmente oceânico. De lá, sempre incerto quanto à sua segurança, podia ver além da magnitude da noite, em uma viagem sem meios físicos e sempre acompanhado. De lá não se via o infinito horizontalizado.
Ao lado, acompanhando o balanço do vento na cadeira inconstante como o coração das efêmeras, estava a surpresa de um telefonema sem cobrança. E com a mesma mão que ligara, estava a apertar, sempre e cada vez mais forte, a mão que atendeu o chamado, cuja conversa é continuamente um segredo de estado capitalista.
Um laço de mãos diferentes apertando-se a cada subida para largar-se um pouco na descida – ora pelo medo da constatação do próprio medo, nunca admitido, ora pelo que os outros iriam achar por tão feroz força aplicada. As luzes amareladas das luminárias distantes e uma multidão de interesses diversos, logo abaixo, com os pés na realidade não percebiam a aflição de uma queda e a realização de um desejo satisfeito, brigando ao mesmo tempo por um lugar à luz do luar. E nada disso interessava a não ser o medo de uma revolução de 360° na metálica cadeira ou então uma intempestiva falta de energia elétrica seguida de rajadas violentas de vento. Mas nada aconteceu. A viagem foi espetacular e terminou sem os acidentes imaginados. Por breves minutos, a roda parou, seus tripulantes desceram e a terra absorveu as aflições da morte.
Na roda viva desmontável que girava, um dia andou. 

Roda Viva - Chico Buarque

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