A travestida feiura
Sentado na recepção de uma home care fico observando a feiura das pessoas. Nestante saiu uma mulher, aloirada pela química agressiva para cabelos, que disse, achando-se muito elegante, que se tivesse que voltar iria "descer do salto". A mulher, cujo peso da idade consumiu-lhe as carnes e somente a máscara descartável oriunda da pandemia tapa-lhe as rugas e os dentes, tem a cara da classe média que pretende segurar a vida em corpos degradados. A vida não aceita cárceres. A vida despreza o degredo. A beleza não parece obedecer ao dinheiro retido sovinamente em heranças travestidas de amor. E se esta ainda pode ser simulada, a feiura, tal qual o ódio, não o pode. É sempre exposta, chocante, nunca elegante.