A Fome

A fome bate à porta da empresa em que você trabalha travestida de mendigo e segue caminhando com xingamentos e críticas pela calçada à  fora. Acham ela normal - "um caminho que o indivíduo quis".
Depois, no ponto de ônibus ou no sinal, você no conforto do seu carro, a fome limpa o seu parabrisa. Você nem sequer retribui com moedas. De novo, "não se pode apoiar a vagabundagem".
Você chega em casa e a fome já lavou seus pratos, cuidou dos seus filhos, assumiu o seu papel enquanto você se ocupava com a máquina de moer gente. 
A fome, batendo em seu estômago por dois segundos, é então prontamente atendida porque "o dia foi muito cansativo".
A fome, vendada, é instrumento de poder, de política, de manipulação de massa, de revolta. 
A fome tem nomes genéricos - Maria, João, Antônia, Pedro...
A fome, no outro, é chacota. E esse é o problema. O outro é só você amanhã caso nada seja feito hoje.

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