As dores dos que passam
Sentado no banco da praça Luiz Nogueira, olhando para a igreja católica do século XVIII, penso no que pode estar se passando da cabeça dos transeuntes.
O homem com relógio dourado, celular à mão e envelope de papel pardo embaixo do braço passa conversando com alguém que ficou à porta de alguma loja.
Os mototaxistas, esperando um cliente, estão jogando conversa fora. A mesma conversa de todos os dias?
Os vendedores do varejo de uma cidade pequena onde todos se conhecem tentam sobreviver ao tédio, ao ostracismo de uma profissão fadada ao enriquecimento de alguém cujo nome é conhecido, mas desprovido de rosto.
Os trabalhadores de uma obra pública são os únicos estrangeiros que quebram a rotina de um povo que se ocupa apenas em sobreviver em horário comercial.
Olho para todos os que passam entre carros, pessoas, bancos e árvores e imagino o que lhes pode provocar aflição, tristeza, desânimo, profundo mal-estar consigo.
Quantos, neste exato momento, podem estar desejando o fim de sua existência em um mundo, aparentemente, indiferente?
Amanhã relembraremos do rapaz que se jogou do edifício em Salvador, do outro rapaz que extinguiu a própria vida em Sergipe, da mulher octogenária paraense que tomou o infame gole. Todos acabaram com suas dores mundanas, carnais.
Embora a vida não seja só isso, é parte dela.
A vida não é só sofrimento e não precisa ser.
O mundo não é só concreto, boletos, ruindades e mesquinharias e não precisa ser.
Nós sempre estamos.
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