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A ex-beata de São Pedro

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Foto: Praça do Açude.Palmeira dos Índios. Imagem da internet Trancada em casa, procurando esconder-se dos próprios demônios, ela se remoía em inveja das antigas amigas que, mesmo tendo alarmantes dificuldades, podiam dar-se ao luxo de discutir, rir e planejar atividades com a família. A fogueira de São Pedro, queimando sob a chuva fina, esfumaçava a rua, as casas, as roupas, a vida dos infelizes solitários que, como ela, não tinha nada além de fofocas e de vis combinações secretas para aplacar o fardo de uma vida infrutífera. A ex-beata de São Pedro, tendo envelhecido como um papel velho abandonado à ação da poeira e das traças, agora tinha que remoer um marido ausente, um punhado de "amigos" oportunistas e uma miríade de arrependimentos. Mas agora, escrava das próprias combinações vis e secretas, tinha que amargar a solidão na fria e imunda casa. Os "amigos", em orgias sodomitas e em prazeres corriqueiros, não só a renegaram, como a baniram de qualquer ti...

Morta, finalmente

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Foto: Alagoas24h. A chuva caia com força sobre o barro vermelho, que já estava mole com tantas chuvas anteriores, tornava-se lama em uma manhã chuvosa no campo santo municipal. O féretro, chafurdado na lama, foi apressado. O buraco, onde a morta seria depositada, ia se enchendo de água, uma água que caía sobre justos e injustos, transformando um buraco vazio em um copo meio cheio. O viúvo, agarrando-se à ideia de beber, fumar e fornicar com uma de suas amantes tão logo o irritante trabalho fúnebre fosse encerrado com o primeiro bolo de barro molhado jogado na cara da defunta. Encaixotada competentemente em um baú de algumas dezenas de reais, a morta não vai mais presenciar a ausência do homem, como ocorria quando a doença ainda roía-lhe as entranhas. Ele, sofrendo na casa da outra, mal se sustentando em pé de tão bêbado, embalsamado pelo cigarro, levou  assim todos os dias em que a mulher esteve sã ou corrompida pela vil enfermidade. Agora, depois que o barro cobriu a po...

A caipora de São João

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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá Às seis da manhã de uma pós-farra junina, em que a fumaça dos restos de fogueira ainda podiam ser vistos na rua e alguns poucos já se dirigiam para os seus cultos matinais, a velha do outro lado da rua já estava de pé, desferindo impropérios contra o vizinho do fim da rua porque este teve a ideia esperada de reavivar a fogueira, reaproveitando a lenha não queimada e as brasas ainda incandescentes. Alheio ao burburinho, o homem assoprava, abanava e esperava a fogueira voltar à sua plena atividade, como tinha sido na noite anterior. Aos poucos a rua ia acordando. Aos poucos a vida ia seguindo. E a velha, galopantemente, seguia seus impropérios e sua ira indignada contra o vizinho. _Agora fica esse aí, fazendo fumaça uma hora dessa. A folia já acabou – tentava argumentar a caipora que incensa a casa de todos da rua ao fumar freneticamente na rua e nas portas alheias. _Mas ainda é São João. Até São Pedro é só fumaça. – ten...

O X Cultural

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Foto: fb/Prefeitura de Palmeira dos Índios De um lado estavam os beberrões, muito bem equipados com suas latinhas de pitu e coca-cola, falando das fêmeas que se espremiam na não-tão-grande multidão que perdia o tempo olhando para o palco. As músicas de sempre, as pessoas de sempre e os namorados entediados de sempre cumprindo o oneroso papel social do relacionamento.Do outro lado, os casais que sempre usam os abandonados prédios próximo à estação para a fornicação diária, sempre depois das 22h, esperando que a madrugada desse um pouco de privacidade. O São João na tal “Capital da Cultura” estava atrapalhando o gozo da própria população, ironicamente. Entre esses dois grupos lá estava ela, de mãos  dadas com um homem e olhando para muito além do palco. Linda, o que é difícil de se encontrar em uma cidade povoada por uma velharia imortal, vestia um vestido junino curto. E, entediada, sendo levada pelo empurra-empurra daqueles que dançavam, acabou largando o homem, que desap...

A fofoqueira da Getúlio

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Imagem: do google maps. 2011 Manhã de fim de verão e estava eu lá, caminhando pela avenida Getúlio Vargas, despreocupado com a vida e com as idiossincrasias dos hipócritas e das poucas pessoas de bem que ainda restam na municipalidade quando ouvi um " psiiiiu". Ignorei completamente, mesmo sabendo quem poderia ser. Mas a insistente fofoqueira e baluarte da difamação e corrupção na cidade insistiu, chamando-me pelo nome. Tive que voltar para dar atenção àquela vulgar e pretensiosa criatura. No exato cruzamento entre a Salu Branco e a Getúlio Vargas, estava eu sendo alugado pela fofoqueira, tendo de ser simpático, como bem manda minha boa educação. Em Palmeira dos Índios é assim - as pessoas fingem que estão esperando a lotação para falar da vida alheia, promover a perseguição e cultivar hábitos vulgares com uma normalidade assustadora. E quem diz que ela é tão vulgarmente baixa é sempre criticado por ir de encontro a uma imagem "boa". É o privilégio das v...

A destruidora de casamentos

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Foto: cena do filme Assédio Sexual A ironia da situação é que o baluarte da moral e dos bons costumes, como frequentemente deixava claro entre indiretas e olhares, é que é pior do que aquelas pessoas que julgava. _ Dora vai precisar faltar hoje – o colega avisou. _Por quê? – sua voz estridente exigiu. _Porque o namorado dela está no hospital e ela precisou ir de repente ao hospital – o colega explicou. _E ela é médica, por acaso? – a honrada personalidade no exercício do dever público ironizou, apenas para fazer graça aos colegas de trabalho. Quem a visse em seu habita t de trabalho, irônica, sentindo-se proprietária da própria moral e da ética, jamais poderia imaginar a podridão que é sua história. Quando confrontada por mentes fracas, tão rotineiras em seu trabalho, julgava cada uma por seu modo de vestir-se, falar e portar-se à sua frente. Em uma situação assim, quando o colega de Dora explicou-lhe a tragédia pessoal da amiga, esse ser humano tão respe...

A professora decadente

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Foto: Açude do Goiti. Foto da Internet Outro dia ouvi a interessante história de uma professora desesperada por atenção que pagou pelo afeto e apoio dos seus alunos. Segundo relato fidedigno, a desesperada professora desembolsou R$ 400,00 para pagar a festa junina dos seus amados alunos, muito embora esse amor todo não fosse recíproco. A festa junina, em um conhecidíssimo bar de Palmeira dos Índios, ocorreu com a sua presença – uma mulher de trinta anos que ainda quer ser o encanto dos rapazes de dezessete. Servindo como financiadora da bebedeira de menores e maiores de idade e sendo a chacota icônica de toda a juventude, a professora acreditava que estava sendo apenas cool – um ledo engano que ela perpetua em sua mente ingênua. Os relatos da festa incluíram as risadas sobre a corrupta docente que tentava trocar dinheiro, bebida e festas pelo apoio incondicional de alunos e colegas de trabalho. O ridículo da situação assentava-se ainda, em ação contínua, no fato de que os p...