A caipora de São João
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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá |
Às seis da manhã de uma pós-farra
junina, em que a fumaça dos restos de fogueira ainda podiam ser vistos na rua e
alguns poucos já se dirigiam para os seus cultos matinais, a velha do outro
lado da rua já estava de pé, desferindo impropérios contra o vizinho do fim da
rua porque este teve a ideia esperada de reavivar a fogueira, reaproveitando a
lenha não queimada e as brasas ainda incandescentes.
Alheio ao burburinho, o homem
assoprava, abanava e esperava a fogueira voltar à sua plena atividade, como
tinha sido na noite anterior. Aos poucos a rua ia acordando. Aos poucos a vida
ia seguindo. E a velha, galopantemente, seguia seus impropérios e sua ira
indignada contra o vizinho.
_Agora fica esse aí, fazendo
fumaça uma hora dessa. A folia já acabou – tentava argumentar a caipora que
incensa a casa de todos da rua ao fumar freneticamente na
rua e nas portas alheias.
_Mas ainda é São João. Até São
Pedro é só fumaça. – tentou explicar outra vizinha.
Nada feito. A velha continuava
reclamando, um cigarro após o outro, do vizinho que já terminava de assar a
primeira espiga da manhã do vinte e cinco de junho. Em outra casa o Pablo já
começava a sofrência e o vizinho, alheio à indignação da velha caipora, já ia
colocando espetos pesados de carne quando olhou para a indignada mulher e
debochou-lhe com um sorriso e um ousado bom dia. A caipora, enraivecida, correu
para a toca, ainda mais irada.
E não manhã pós-São João, a rua
continuava acordando preguiçosamente, cada um fazendo mais fumaça que o outro,
ligando seus aparelhos de som e gritando, rindo e debochando daqueles que
insistem em ser mal-humorados, mesmo no crepúsculo da vida e no alvorecer
da alegria.
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