Morta, finalmente
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Foto: Alagoas24h. |
A chuva caia com força sobre o
barro vermelho, que já estava mole com tantas chuvas anteriores, tornava-se lama em
uma manhã chuvosa no campo santo municipal. O féretro, chafurdado na lama, foi
apressado. O buraco, onde a morta seria depositada, ia se enchendo de água, uma
água que caía sobre justos e injustos, transformando um buraco vazio em um copo
meio cheio. O viúvo, agarrando-se à ideia de beber, fumar e fornicar com uma de
suas amantes tão logo o irritante trabalho fúnebre fosse encerrado com o
primeiro bolo de barro molhado jogado na cara da defunta.
Encaixotada competentemente em um
baú de algumas dezenas de reais, a morta não vai mais presenciar a ausência do
homem, como ocorria quando a doença ainda roía-lhe as entranhas. Ele, sofrendo na casa da outra,
mal se sustentando em pé de tão bêbado, embalsamado pelo cigarro, levou assim todos
os dias em que a mulher esteve sã ou corrompida pela vil enfermidade.
Agora, depois que o barro cobriu
a pobre mulher e a chuva lhe molhou a roupa, o choro escorre pela face, movido
por uma emoção forte, uma alegria imensurável pela liberdade tão almejada. Quem
o vê assim, comovido, não adivinharia o que significa felicidade.
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