Postagens

Lembra Lua

Imagem
Foto: Lua Azul. João Constantino. Lua Azul, de Sangue Grande Gigante E quando olhar Estampado sob o luar Você vai lembrar de mim.

Parecença escriturária

Imagem
Comendo uma fatia do bolo de aniversário de um desconhecido, às 3h47, sob a luz fraca da minha cozinha, eu pensava sobre a dificuldade de expressar, seja em poucas linhas ou difíceis palavras, nosso sentimento ou singelo estado de ânimo para alguém que seja íntima ou que precise de palavras amáveis e afáveis. Em minha última leitura, O gato sou eu , do Fernando Sabino, ele expressava, em um de seus textos, a dificuldade de escrever uma nota de pesar; e ainda justifica revelando que o Gabriel García Márquez sofria de igual problema. Não sei se é apenas uma característica de célebres escritores ou um item intrínseco aos que são capazes de escrever sobre tudo e todos, revelando amor e ódio em linhas de aparências íntimas. E qualquer um é capaz disto, como uma vez enfatizou Neruda. O fato é que em congratulações para aniversário, quando não sei se felicito ou lamento a velhice alheia, ou em velório, quando nada há a dizer, ou ainda em outros momentos quando parece que um sorriso nã...

Neblina passante

Imagem
Hoje resolvi abrir a porta cedo e acompanhar a neblina, vê-la descer pela copa das árvores e destas até minha casa, passar por mim e cobrir toda a cidade. A neblina é ousada e deixa uma estranha sensação de dia que não quer nascer. E enquanto a Adriana Calcanhoto e o Gonzaguinha entoavam as canções de início de dia, o Tesla tentava pegar um passarinho. A pelagem negra do Tesla não deu a camuflagem certa e o passarinho foi embora quando o Gonzaguinha contava sobre ser a lama dos sapatos a medalha que o menino tem para mostrar. A manhã começou com um ar frio e com a vida discutindo com o clima.

Diversão acidental

Imagem
Não importa o que o "politicamente correto" e os preceitos religiosos norteiam, o que gostamos mesmo é da desgraça alheia. E não é qualquer desgraça: gostamos mais daquelas em que outros humanos são partidos e o sangue e os órgãos internos ficam espalhados pela ambiente. E sempre que viajo noto isso com mais certeza. Ontem vinha viajando tranquilamente pela BR-101, na altura do trevo de acesso a Cedro de São João - SE, quando o ônibus parou. Pela janela uma multidão isolava o local de um acidente em dois morreram e três ficaram feridos. A multidão estava feliz : dois mortos! Quanta foto para postar nas redes sociais; e ainda mais numa sexta! A multidão avaliava os carros amassados, analisava o acidente do ponto de vista dos mortos, fotografava cada etapa do fatídico (carros amassados, corpos expostos, translado pelo IML). Quanta matéria para comentários penosos e repetitivos nas redes sociais. E os mortos, quem liga!? Desde que continuem mortos, estrupiados, ...

Céu abaixo

Imagem
Quem mora no agreste, quase sertão, alagoano sabe que quando faz sol é possível esquentar água para fazer chá ou café (depende da preferência) no asfalto. Em novembro a ventania é capaz de destelhar casas e o inverno é mutante - tem ano que parece verão e tem ano que é muito molhado e frio. Esse é um destes. Se brincar com a preguiça e o friozinho vai acabar recebendo uma peça pregada pelo relógio.  Em Palmeira dos Índios você vai encontrar duas situações bem distintas: a) quem mora próximo ao centro, ou seja,  na serra, vai sentir, óbvio, mais frio e a água vai ser passageira; b) já quem mora mais distante do centro, ou seja, no pé da serra, vai sentir o quanto a água causa transtorno e lama. Quem mora nos  lotes de casas populares do Minha Casa Minha Vida que o diga! A única característica que une os habitantes é tão-somente a necessidade de praguejar o clima e esperar que aquele tal político cumpra sua promessa e vá calçar a rua. As doces ilusões do povo pass...

Aquele momento

Existe uma hora, inevitável, em que o mundo vai girando tão rápido que é capaz de não sabermos exatamente o que estamos fazendo - só que devemos fazer. E há aquele momento inexplicável que precede a correria e ao movimento. Um dado instante que passa cronologicamente rápido, mas psicologicamente devagar - tão devagar que podemos descrever nossos passos, falas e atos até aquele fatídico instante. É nesse momento que concluímos o que vale a pena, o que foi desperdício de tempo, o que deveria ter sido feito de outro modo. Um instante que não é nada mais que efêmero e que diz muito a nosso respeito. Para alguns esse instante é o prenúncio da morte. Para outros ocorre depois de uma grande decepção. Há aqueles que não se dão conta quando ele chega e os que só o fazem esperar. É repetível (se não preceder a morte). É importante e desprez...

Do meu quarto ouvi a fuzilaria

Imagem
Madrugada passada o silêncio banal de uns apartamentos, os gemidos de outros e o sono de alguns honrados cidadãos de tantos outros cubículos do cortiço Eucaliptos (ou Eucalyptus, eles ainda não se decidiram) foram interrompidos por uma discussão doméstica ao pé de um dos prédios. Uma mãe que literalmente pôs a filha sobre os ombros, e depois foi ao chão junto com ela, para que esta não fosse se encontrar com um tal de "ele". E como era de praxe, colocaram o deus dos hebreus no meio da briga e um tal de pelamordedeus para evitar que ela e " ele" se juntassem mais uma vez. Cá para nós - nem Deus pode dormir com esse pessoal chamando por ele toda hora e por qualquer banal motivo. E olhe que  Ele proibiu dos seus fiéis chamá-lo em vão, já prevendo a chateação. Só que parece que não deu muito certo. Daí a pouco "ele" chega, a mãe grita mais e a filha insiste e persiste na ideia fixa até conseguir concretizá-la. E vai embora, madrugada afora, com ...