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A casa é sua, também

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Imagem: Clip de A Casa é sua, com Arnaldo Antunes. Em dias como hoje, quando a Tancredo Neves fica praticamente intransitável por algum problema de engenharia de tráfego, e os vizinhos do grande cortiço Eucaliptos (que ainda não se decidiram completamente se a escrita é eucaliptus ou eucaliptos) não conseguem escolher entre o brega e o rock, entre um final de semana em paz ou um regado à cachaça e discussões, o mais correto é abrir uma coca-cola, de preferência com um pote de sorvete, e ouvir o som do Arnaldo Antunes, em leve contraste com as demais melodias que reverberam pelos corredores de concreto formados pelos prédios do cortiço. Não há muito o que fazer. Talvez pensar na vida (miserável) ou nas inúmeras impossibilidades que se apresentam à janela; de repente ver o que os vizinhos andam aprontando em seus apartamentos, igual ao que ocorre em Ó paí Ó; ou, quem sabe, só beber e tentar ver o mundo sob a perspectiva expansível e filosófica de um bêbado sábio.  Seja lá q...

Vamos falar sobre essas férias (greve)

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Em 2012 a promessa era de o mundo acabar em várias catástrofes onde todo o conhecimento, o avanço tecnológico e cultural da humanidade seriam dizimados, junto com toda a espécie humana. Isso, para decepção de alguns poucos pessimistas e fatalistas, não aconteceu. A Segunda Vinda também não e a Igreja (independente da denominação) pôde dormir em paz sabendo que seus pecados estariam, por mais algum tempo, seguros da terrível ira/justiça divina - que parece não saber tudo, segundo dizem nos púlpitos. O que ocorreu, e de forma desastrosa, foi uma greve nas Universidades e Institutos Federais - como sempre exigindo uma autonomia, um reajuste salarial e, em último tópico, melhoria na infraestrutura.  Meses depois o Governo Federal calou os docentes com uma porcentagem diminuta, parcelada e um chute na bunda para voltar ao trabalho - sem barulho e feliz pela migalha. Foi nessa ocasião que o Andes-SN sofreu uma cisão e surgiu outro sindicato. Igual ao primeiro, mas disposto a ceder se...

Pequenas tragédias

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Ilustração: Soupe à trois sous. James McNeill Whistler. The Collection OnLine Sem querer, comecei o período de greve docente mais cedo e não muito feliz com a ideia de passar mais um tempo ocioso apenas para suprir a necessidade gananciosa de alguns docentes. Comecei esse lapso temporal terminando a leitura de Primeiro Amor , um romance de James Patterson e Emily Raymond. Uma ficção baseada na vida de Patterson. Enquanto lia pensava sobre as inúmeras tragédias que se passa na vida de algumas pessoas e de como as nossas tragédias, embora muitas vezes pequenas e sem a mesma profundidade de algumas que viraram romances, acabam por nos tornar isolados de nossas próprias emoções e aspirações. E quando digo tragédia não me refiro apenas à morte, à uma doença terminal ou a algum tipo extravagante de tragédia. Refiro-me a amores que vão embora depois de jurarem não ir (e que não estão com doença terminal); a pais que não conseguem ver nada além de necessidades básicas por medo de enc...

As memórias do livro

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As memórias do livro , de Geraldine Brooks, é um daqueles volumes em que o leitor vagueia pela história e pela realidade através da ficção e da invenção, sem saber exatamente o onde se situa a fronteira do imaginário e do verídico. Com muita delicadeza e sem perder o fio da meada (ou das tragédias humanas), Brooks relata-nos a origem e o caminho histórico e temporal da Hagadá de Sarajevo (que não é de Sarajevo, mas espanhola). Personagens tão intrigantes quanto os caminhos do destino fazem parte da história fictícia da Hagadá e da humanidade. Um livro sem precedentes no que se refere às mazelas pelas quais parte da humanidade infligiu e sofreu, aos incidentes históricos que marcaram os continentes e de como o homem pode ser dedicado e fiel a uma causa, a um povo e à cultura. Geraldine, em As memórias do livro , mostra-nos como um livro guarda, antes de tudo, a memória e as lembranças de um povo através de páginas manchadas, vendidas, usurpadas. Uma obra realmente surpreende...

-ismos do cotidiano

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Não é difícil ouvir reclamações sobre individualismo, egoísmo e todos os -ismos que promovem a vida solitária, apesar do grande esforço das redes sociais em criar ambientes comuns e de "boa convivência". E a grande ironia é que quando o contexto em que a crítica é feita situa-se em cidade metropolitanas são os próprios críticos quem promove a segregação, em seus mais variados níveis. Um exemplo irrefutável da promoção do individualismo e combate à vida coletiva são os condomínios.  Há condomínios pedantes onde é expressamente proibido dividir a churrasqueira e o salão de festas com pessoas diferentes (ainda que morem no mesmo edifício) àquelas que os reservaram; em outros é proibido, igualmente, o som musical; em outros existe o cúmulo da etiqueta que diz que é falta de educação ou indelicado não possuir carro e, assim, ter que cumprimentar o porteiro. Quando não é esse extremo elitista, os condomínios são a representação do descaso dos moradores com suas áreas comuns...

Snapchat

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Ter um smartphone implica ter uma série de aplicativos destinados ao compartilhamento de foto, vídeo e localização. E isso é muito importante, nessa era digital, para quantificar o quanto somos importantes, populares e bem sucedidos. Entretanto, não é ter só um aplicativo que, de imediato, estamos bem colocados. O mercado de aplicativos e compartilhamento de dados depende do quão satisfeito o usuário fica em relação às novidades da interface baixada e como ele pode utilizá-la em seu dia a dia e na sua autopromoção. Muitos APPs já saíram do mercado por falta de criatividade e outros tantos estão fadados aos fracasso por simplesmente oferecerem o óbvio em um design cansativo e repetitivo. Os usuários, a grande maioria deles, simplesmente baixam, utilizam e depois, de acordo com a experiência, abandonam por falta de incentivo para continuar ou não desinstalam por preguiça, ainda que jamais o acessem. Um exemplo de aplicativo cansativo, chato e sem sentido de existência é o Snapchat,...

Inquietação pelo motel

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Estava voltando do conjunto Eduardo Gomes, olhando pela janela do ônibus o resultado de uma tarde e uma noite de chuvas intensas, refletindo sobre a solidão de milhões de pessoas, que às vezes cabe dentro de uma só e às vezes não cabe em lugar algum, quando o ônibus para em um ponto sem qualquer indicação, como parecer ser muito frequente no conjunto. Levanto a vista com a mesma animação que um cachorro acordando e dou de cara com um motel esfarrapado, bem chulo.  Foto: Linha 031, Aju-S. Cristóvão Quem, em juízo perfeito, teve a ideia nada genial de colocar um ponto de ônibus em frente a um motel? Isso ninguém há de saber. O que fica claro, no entanto, é que é o pior lugar do mundo para os clientes do motel que queiram discrição e agilidade na entrada/saída. Para o proprietário, deve ser bom visto que os pobres que não tiverem automóvel próprio podem esperar umas duas horas, em média, para um mero sexo rápido e depois passar pela humilhação de esperar mais duas horas à port...