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As nossas pequenezes

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Foto: Egyptian Sculpture. Charles Sheeler. Met. A gente sempre quer alcançar uma coisa grande. A gente sempre quer ser grande;  quer ser mais. O contrário disso é disritmia com a nossa natureza humana. No entanto, olhar para o todo requer coragem e uma dose cavalar de desânimo. É por isso que temos que olhar para as pequenas partes e buscar as pequenas, porém trabalhosas, vitórias. É por meio das pequenas partes, quase insignificantes, que somos feitos e do que são feitas as nossas alegrias mais efêmeras. Somos sol, ar (e estresse), chuva (às vezes de lágrimas e desespero), pequenas vitórias e grandes desassossegos. Assim é que a gente vive nesse mundo de obrigações inventadas, querendo ou não.

A hora nona

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Escultura: Perseus with the Head of Medusa. Antonio Canova. Met. Chega uma hora que é só cansaço mesmo. Cansaço de tudo e de todos. Cansaço das imbecilidades. Cansaço das idiotices. Cansaços das máscaras. Cansaço dos discursos. Cansaço das redomas. Então a hora chega e o que resta é escolher sair do tédio de ter que conviver com tudo isso e partir para outra coisa - e o que importa apenas é que essa outra coisa seja apenas diferente. Quem nunca se deparou com essa situação pode estar vivendo errado ou está fazendo parte do grupo de coisas e pessoas cansativas e nem se dá conta. A hora chega e a questão precisa ser resolvida por cada indivíduo à própria maneira.

Da dadivosa correção

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Escultura: God. Elsa on Freytag-Loringhoven. Met. O que fazer quando erros grosseiros são cometidos à sua frente e que a correção faz parte do seu escopo intelectual? O que fazer na delicada situação em que se deve mostrar a outra pessoa que ela não apenas não domina o conteúdo que ela mesma diz dominar e ainda mostrar-lhe cada um dos seus erros e evidenciar o que é correto? Em uma sociedade de pobres diabos como a nossa em que o ego fala mais alto que o bom senso e o desejo de progredir intelectualmente, a atitude de corrigir e apontar a direção correta nunca é vista com bons olhos pelos errantes e seus apoiadores. Esses insistem em perpetuar o erro e a ignorância e pouca coisa, ou mesmo nada, é possível fazer para converter esses pobres diabos em anjos do conhecimento. No fim, a situação determina se o pobre diabo, que pode ser um analfabeto ou um doutor, será corrigido. Correção, feita com a intenção de elucidar fatos errôneos e apontar o caminho correto, sempre é um p...

22:45 - Quase morte*

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Escultura: Seated Figure. 13th century. MetMuseum A paisagem corria solta janela a fora pintada com um verde forte e umas manchas acinzentadas pela chuva recente mostravam as feridas nos pequenos montes à beira da estrada. E as rodas frearam. O automóvel parou após um longo silvo de pneus e asfalto. A paisagem parou. Eu parei. Parei entre pensamentos opressivos e um ar rarefeito. Parei para ver o ostracismo de uma rotina que estanca apenas com um acidente casual em uma rodovia qualquer e sem sinalização . Parei com seu nome na língua e sua imagem refletida nas retinas em um filme alegre que parece que não ter uma pausa, uma quebra, o fim e o início. Uma tela que armazena minhas cicatrizes como forma de reviver uma felicidade sombria, porque já não existe mais. Os personagens estão sorrindo para uma bobagem banal e um transeunte, no passado filmado. E, no entanto, abandonaram-se como dois desconhecidos, chorando, sofrendo, martirizando-se, banindo-se de uma felicidade contida...

22:05 - deus*

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Arte: Statuette of Isis and Horus. 332-30 B.C. MetMuseum.  Não se escreve aquilo que se aconselha. Nem se aconselha aquilo que não viveu. A vida deveria dar-me o mundo e suas riquezas. O universo deveria matar-me e fazer-me renascer em todos os milhares de anos. A Igreja deveria tornar minhas falas preces aos injustos sonhadores. E ninguém deveria dar-me tudo, no mesmo espaço de tempo em que o tudo é-me oferecido no silêncio do meu abrigo. Minha atenção é a tensão entre o fazer de tudo e o não fazer nada. Já não quero impressionar a ninguém, nem a mim. Minha paixão tem nome, mas o corpo recusa-se a aceitar que o impossível tornou-se possível no mundo terreno. Minha alma foi ao inferno buscar chocolate quente, de puro cacau, enquanto meu corpo ficou no céu, paquerando as ninfas. Minha casa é um bordel durante as noites e um mosteiro durante o dia. Minhas roupas se transformaram em retratos de luxo e minha pele reveste apenas um veículo. No ser arte de um Ser, acabei sen...

A queda para a alegria do homem

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Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para que tenham alegria. 2 Néfi 2:25 Adão, de Tullio Lombardo. Quando você sai à rua e vê os pregadores destilando tristezas a cada leitura de versículos bíblicos, as mulheres lamentando a falta de sorte em “ter um homem que valoriza” o trabalho delas, os cobradores xingando cada partícula de poeira que cai em sua caixa registradora e alguns estudante em completado estado de drama e melancolia é possível perceber que a queda de Adão parece ter sido desnecessária e inútil. No segundo livro de Néfi todos podem tomar conhecimento de uma verdade que transcende qualquer conhecimento apóstata que tenha sobrevivido – o homem existe para buscar a felicidade e serem alegres. Mas alegria de verdade, não somente aquela encontrada em estados efêmeros. E como Leí mesmo disse, ainda no segundo livro de Néfi, o arbítrio está aí, com todos e qualquer um e com ele pode-se escolher de qual lado você deseja ficar – ...

Uma escultura, um cuidador/guardião e um tentador

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Toda escultura precisa ser cuidada por um artista, independente do tipo de trabalho que este faz. Precisa ter seus desejos, inclusive os inenarráveis, satisfeitos. Precisa ser satisfeita de tantos modos e por tantas maneiras diferentes que apenas os que realmente conhecem, por hereditariedade, a matéria pela qual foi feita a inigualável escultura é que pode realizar proezas colossais em nome da satisfação pessoal e íntima de determinadas obras primas. Em verdade, são fáceis de serem agradadas, mas somente poucos têm a capacidade de fazer verdadeiras artes em cima da criação, tornando-a, em muitos casos, em nova e melhorada obra de um terceiro artista, o cuidador. O ato de cuidar, satisfazer, despertar os instintos e a curiosidade não é exatamente um dom que pode ser dito como popular, pois nem todos os que desejam possuem, naturalmente, os elementos necessários à satisfação, ao cuidado, ao despertar instintivo e à curiosidade de majestosas criações. Entretanto, há alguns que t...