Uma escultura, um cuidador/guardião e um tentador
Toda escultura precisa ser
cuidada por um artista, independente do tipo de trabalho que este faz. Precisa
ter seus desejos, inclusive os inenarráveis, satisfeitos. Precisa ser
satisfeita de tantos modos e por tantas maneiras diferentes que apenas os que
realmente conhecem, por hereditariedade, a matéria pela qual foi feita a
inigualável escultura é que pode realizar proezas colossais em nome da
satisfação pessoal e íntima de determinadas obras primas.
Em verdade, são fáceis de serem
agradadas, mas somente poucos têm a capacidade de fazer verdadeiras artes em
cima da criação, tornando-a, em muitos casos, em nova e melhorada obra de um
terceiro artista, o cuidador.
O ato de cuidar, satisfazer,
despertar os instintos e a curiosidade não é exatamente um dom que pode ser
dito como popular, pois nem todos os que desejam possuem, naturalmente, os
elementos necessários à satisfação, ao cuidado, ao despertar instintivo e à curiosidade
de majestosas criações. Entretanto, há alguns que tentam desenvolver ou mesmo
forçar sua intrínseca concepção por meio de métodos incomuns e não eficazes.
Pobres seres inferiores: mal sabem que certos dons são dados de graça a alguns
exemplares, abundantemente, para que exerçam a prazerosa e trabalhosa função de
guardião material, sexual, intelectual, social, animalesco e político de
esculturas colossais, embora se apresentem como diminutas em algumas vezes.
Com o passar e o amadurecimento
da relação guardião/cuidador-escultura a fidelidade e a lealdade tendem a se
tornarem não apenas uma subjeção, mas também elementos integrantes da vida
comum dos dois seres.
Não obstante, seres
desfavorecidos tentam, e tentaram sempre, extrair dos guardadores os
privilégios e a exclusividade. Podem até tentar e a probabilidade da
insistência pode até resultar em alguma ruptura, leve ou grave, no
relacionamento entre ser e objeto, no entanto, a probabilidade de ocorrência da
reafirmação do compromisso e o, consequente, aumento afetivo entre os sujeitos
também é grande, bem maior até.
Enquanto de um lado estão os
marginais dos dons e oportunidades perdidas ou nem oferecidas, do outro estão a
escultura, de colossal beleza e de aparência física desejabilíssima, e o seu
inseparável guardião/cuidador e tudo o que viveu, viverão e vivem; seus
segredos; suas aspirações; seus desejos ainda por satisfazer; seu
impronunciável compromisso. E mesmo que tentem, ninguém poderá abalar os
alicerces dos dois, podem até ter algo em troca, mas é muito improvável.
Aos que tentam, má sorte.
Aos guardiões, excelentíssima
sorte.
Às esculturas, cuidado: uma vez
quebrado nunca mais recuperado seu pedestal.
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