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Mostrando postagens com o rótulo John Singer Sargent

23:55 - Rotina*

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Quadro: Mountain Stream. John Singer. 1912-14.  Os ventos nada fazem para aplacar o sol no meio da manhã e trazem, em suas embalagens e folhas secas, as provas de um dia que inicia o recomeço de uma rotina apenas vivida entre tantas outras máquinas e distúrbios. As folhas celulósicas trazem os dizeres de amor de um amor distante, a receita de um bolo já degustado, de uma equação inacabada, de um estrume que suja o caminho misturando-se com os passos apressados de qualquer um. Os raios solares penetram na pele, arregaçam as mangas para colocar em prática seu único dever a cumprir. E vão andando para o lado, do rosto, marcando as expressões de horror, amor e desejo, pelas penas ou calças, que passam à frente dos olhos. O caminho é longo, como o é as fases pelas quais precisa passar até chegar ao ponto médio da vida onde, parando para o descanso, acostumará com a preguiça. A luz intensa do astro maior ajuda nas marcações que farão, no tempo transcorrido, a pintar um quadro ...

Reflexão do amor que fica

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Imagem: Mountain Stream. John Singer Sargent. Não acredito que exista um dia dos namorados, nem dos solteiros, nem dos deixados. Existe saudade que se transforma em lágrimas; amor que se guarda sob camadas de uma raiva indecente; lembranças que se misturam à fantasia do cotidiano.  Certa vez alguém me disse que o amor não acabava - só mudava. E na mudança ele se feria, se magoava, revirava-se, caía e levantava. Ela disse que o amor não ia embora de jeito nenhum. Ela foi. Engraçada essa ideia de que a pessoa vai embora e o amor não. Até hoje não sei se ela tinha razão - aquela raiva indecente encobriu e embotou a razão de nós dois muito tempo depois da partida. Aliás, ninguém parte de verdade, completamente. Daí acho estranho quando as pessoas gastam o dinheiro que não têm, viajam horas e esperam tantas outras horas em rodoviárias e  aeroportos, com presentes (e sendo o próprio presente), só para mostrar o quanto amam a outra pessoa. É estranho porque na ...

Tempo indefinidor

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Pintura: View from Mount Pilatus. John Singer Sargent. 1870.                        “É o amor que importa, o cuidado... é sempre o desejo, nunca o tempo.” Bill Denbrough, It, Stephen Kin Os poetas, a vivência e os tropeços ensinam que o tempo nunca importa. É sim um detalhe capaz de destruir possibilidades e sonhos. Nunca definidor. E apesar de a nossa obsessão ser um ser que sirva para a materialização de um amor perfeito apenas na nossa ingênua compreensão, o tempo está presente em nosso íntimo como agente ativo nas relações que temos. Por causa das marcações que fazemos em relógios e papéis temos o hábito de apressar o ritmo das pessoas, minimizar as pressas de outros e deixar para depois aquilo que não temos coragem ou força para enfrentar de uma vez. O desejo anda de mãos dadas com o amor, algumas vezes. E talvez seja o desejo que nos falte. Desejo real, não apenas sexo. E imagina que louco se um d...

Fantasmas

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Pintura: Madame X (Madame Pierre Gautreau). John Singer Sargent. 1883-84 Existem aquelas pessoas que passam a vida com dor de cotovelo e que provocam uma enxurrada de citações de autoria duvidosa nas redes sociais  e que parecem que não se curam nunca, mesmo os cientistas já terem apontado que uma paixão demora até dois anos para ser curada, após o término do relacionamento. No outro lado da rua estão os que nem procuram nem encontram uma “cara metade” e que mesmo assim vive entre relações conturbadas e nada oficiais. Diferente dos outros, esses são experts em bebida, palavras obscenas e atitudes sacanas. De certa maneira vivem em um invólucro de autoafirmação desnecessária. No meio da rua estão os que vivem à margem de relacionamentos e das religiões, em uma vida completamente alheia às miudezas do cotidiano, que reduzem a existência de muitas pessoas a meros objetivos mesquinhos e sem controle. Essas vivem a tranquilidade inquieta de serem perturbadas a qualquer mom...